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Médicos são acusados de indicar prótese clandestina
Promotoria do RS denunciou 165 pessoas envolvidas com produtos defeituosos
Segundo Ministério Público, material de baixa qualidade era vendido para aumentar lucro; médicos seriam pagos para recomendar aparelhos
CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA
O Ministério Público do Rio
Grande do Sul denunciou 165
pessoas envolvidas com a comercialização e prescrição de
próteses clandestinas em 4.300
cirurgias de 1998 a 2005. As peças eram fabricadas sem registro da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Entre os denunciados estão
134 médicos, 24 gerentes e administradores de hospitais e
sete proprietários de empresas
fabricantes de próteses. As cirurgias para implantação das
próteses ocorreram em 24 hospitais de 14 cidades gaúchas.
A investigação começou há
um ano com a denúncia de um
ex-técnico da Equimed, fabricante de produtos médicos e
hospitalares, e o depoimento
de um auditor da Unimed, que
prestava serviços à Anvisa, ao
Ministério Público.
Segundo a denúncia, a empresa fabricava propositalmente produtos de baixa qualidade
para obter lucro, ao misturar titânio industrial com titânio
medicinal durante a confecção
das próteses. O titânio industrial pode causar rejeição.
A moradora de Porto Alegre
Luciana Bernardes, 35, realizou cirurgia para colocar próteses na coluna em maio de 2003.
Oitenta dias depois, dois parafusos se romperam, e ela teve
que fazer uma nova operação.
Em junho de 2004, passou pela
terceira cirurgia para remover
todas as próteses implantadas.
Segundo os denunciantes, alguns médicos recebiam comissões da empresa para indicar as
próteses aos pacientes.
"A partir da denúncia, descobrimos que a Equimed funcionou de 1998 a dezembro de
2000 sem alvará da Vigilância
Sanitária. Depois desse ano, alguns produtos da fábrica continuaram sem registro, e duas
empresas foram criadas para
fugir da fiscalização sanitária",
disse o promotor Flávio Duarte, autor da denúncia.
Durante a investigação,12
mil notas fiscais foram apuradas e 16 próteses para coluna
encaminhadas à Universidade
Federal do Rio Grande do Sul.
Em todas elas, algum tipo de irregularidade foi detectada.
O promotor disse que agora
deve receber maior número de
próteses com problemas.
"Eu pedi que todas as denúncias que foram encaminhadas à
Justiça sejam repassadas ao
CRM e à Anvisa", afirmou
Duarte. O Ministério Público
considerou que os denunciados
cometeram crime por "falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins
terapêuticos ou medicinais", de
acordo com artigo 237 do Código Penal. O crime é considerado hediondo e a pena prevista
para os fabricantes é de dez
anos a 15 anos. Duarte disse ter
enquadrado os médicos e administradores de hospitais no
mesmo artigo, mas as penas
nesses casos são menores.
O promotor afirmou que alguns produtos da Equimed foram comercializados em Santa
Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo.
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