São Paulo, quinta-feira, 18 de outubro de 2007

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Criança e mais 11 pessoas morrem em ação policial

Menino de 4 anos e policial foram assassinados em favela na zona oeste do Rio

"A polícia não entra na favela para matar, mas também não entra para morrer", diz o secretário Beltrame, da Segurança Pública

Wania Corredo/Agência O Globo
Policiais exibem suspeitos de tráfico presos durante operação na favela da Coréia (zona oeste)

MÁRCIA BRASIL
DA SUCURSAL DO RIO

Doze pessoas morreram, entre elas uma criança de quatro anos e um policial, e quatro ficaram feridas durante uma operação da Polícia Civil, ontem, na favela da Coréia, em Senador Camará, zona oeste do Rio. Foram presas 14 pessoas, sendo dois adolescentes.
Uma metralhadora ponto 30 (a 11ª nos últimos dez meses) foi apreendida, com cinco fuzis, seis pistolas, quatro granadas, munição e drogas. Um ônibus foi incendiado em represália à operação policial.
Durante o confronto, o delegado Rodrigo Oliveira, titular da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), foi baleado no pescoço, mas já recebeu alta.
Outros três policiais civis também ficaram feridos -um deles perdeu um dedo da mão.
A ação foi elogiada pelo governador Sérgio Cabral, pelo secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, e pelo chefe da Polícia Civil do Rio, Gilberto Ribeiro.
"Não serão ações leves que vão resolver um problema crônico, como o tráfico no Rio. Essa reação dos traficantes não vai nos inibir. A polícia não entra na favela para matar, mas também não entra para morrer", afirmou Beltrame.
"A Secretaria de Segurança tem carta branca para agir contra os traficantes. Ela tem o meu estímulo para trabalhar nessa direção", declarou o governador Sérgio Cabral.
No primeiro semestre deste ano, o número de mortos em confronto com a polícia do Rio aumentou 33,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Em 2006, houve 520 casos de autos de resistência no Estado; neste ano, o número cresceu para 624 casos.

A ação
A operação começou pela manhã, com 350 policiais de diversas delegacias da cidade que foram cumprir mandados de prisão e tentar localizar um depósito de armas no local.
Blindados e o helicóptero da Core, o grupamento de elite da Polícia Civil do Rio, foram usados na ação.
Quando a polícia entrou na favela, perto das 9h30, houve um intenso tiroteio. Granadas foram lançadas, um ônibus e vários pneus queimados. Moradores entraram em pânico. Comércio e escolas fecharam.
Ao tentar localizar o endereço de um suposto esconderijo de armas, o investigador da Polinter Sérgio da Silva Coelho, 43, foi morto por um grupo de homens que ocupava a casa onde estaria o armamento.
Outros três policiais tentaram socorrer Coelho e, segundo a polícia, também foram recebidos à bala.
Em frente ao local onde Coelho foi morto morava a família de Jorge Cauã Silva Lacerda, 4, que foi baleado no peito.
Ellen Silva Lacerda tentou correr para a rua com o filho no colo para pedir ajuda, mas não conseguiu sair de casa em razão do intenso tiroteio.
Ao perceber que havia uma criança ferida, o inspetor da Polinter Marcelo dos Santos Fernandes Silva entrou na casa e resgatou o menino, que acabou morrendo no hospital.
O policial acabou baleado na coxa esquerda ao tentar descer a favela com a criança no colo.
Com o intenso tiroteio, foi pedido reforço e mais 150 policiais foram acionados. Novos confrontos ocorreram, com policiais atirando do helicóptero.
Um grupo de supostos traficantes fugiu pela mata que fica atrás da favela, na localidade conhecida como Mangueirinha. Policiais da Core iniciaram nova perseguição. Imagens de equipes de televisão mostram os supostos traficantes sendo alvejados e mortos.
O secretário Beltrame informou que novas ações policiais para destituir o tráfico de drogas em Senador Camará já estão sendo programadas.


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