São Paulo, quinta-feira, 18 de outubro de 2007

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Acusado no caso do padre Júlio comprou cinco carros de luxo

A polícia investiga se o ex-interno da Febem Anderson Marcos Batista, que continua foragido, também extorquia outras pessoas

Batista, que é investigado por suposto enriquecimento ilícito, também era dono de uma pensão e de uma casa na zona leste de São Paulo

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-interno da antiga Febem Anderson Marcos Batista, 25, acusado de extorquir dinheiro do padre Júlio Lancelotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua, comprou cinco carros de luxo desde 2004. Ele também é dono de uma pequena pensão e de um sobrado na zona leste de São Paulo.
Com pagamentos à vista ou financiamentos, Batista, que é autônomo, movimentou no período mais de R$ 200 mil só com esses veículos e imóveis.
Batista, a mulher dele, Conceição Eletério, 44, e os irmãos Everson e Evandro dos Santos Guimarães tiveram a prisão decretada sob acusação de extorquir cerca de R$ 50 mil do religioso nos últimos três anos. Só Everson foi capturado.
Segundo o padre, o ex-interno alegava dificuldades financeiras e ameaçava procurar a imprensa para denunciá-lo por pedofilia -o alvo do abuso seria o enteado de Batista, de oito anos. O padre também diz ter recebido ameaças de agressão.
Foi o religioso quem gravou conversas nas quais era chantageado e as entregou à polícia. O padre Júlio afirma que pagou por medo de ser agredido e por acreditar que "poderia mudar as pessoas que o extorquiam".
A polícia paulista diz acreditar que o grupo de Batista possa ter extorquido mais pessoas. O ex-interno era investigado desde o ano passado por suposto enriquecimento ilícito em outro inquérito policial.
Na extorsão ao padre Júlio, Batista conseguiu que ele pagasse prestações de um financiamento de uma Mitsubishi Pajero ano 2004.
Mas o inquérito sobre enriquecimento ilícito mostra que o ex-interno comprou vários outros carros de luxo. Desde 2004, Batista e sua mulher tiveram em seu nome uma picape Nissan 2003 (R$ 65 mil), um Astra (R$ 35 mil), um Audi/A3 (trocou pelo Astra mais R$ 20 mil), um Meriva (R$ 35 mil) e a Pajero (R$ 65 mil).
O próprio ex-interno falou sobre os bens em depoimento à polícia em janeiro, antes que a extorsão ao padre fosse descoberta. Ele disse que era dono de uma pequena pensão no Belém (zona leste). Afirmou que arrendava o local por R$ 2.000. O aluguel dos quartos rende, por mês, cerca de R$ 3.600, segundo Antonio Bonfim, designado por Batista para cuidar do local.
O ex-interno também declarou que comprou um imóvel de R$ 35 mil e investiu outros R$ 15 mil em reformas. Para justificar os gastos, o ex-interno citou apenas que trabalhou em uma frente de trabalho quando saiu da antiga Febem. Recebia R$ 200 por mês.
O patrimônio sem explicação passou a ser investigado no ano passado pela DDM (Delegacia da Defesa da Mulher) depois que Conceição o denunciou por agressões -as brigas entre o casal seriam freqüentes. Conceição desistiu da denúncia e disse que mentiu porque o marido tinha uma amante.
A polícia, porém, descobriu o patrimônio de Batista. Uma busca e apreensão foi feita na casa dele. Na época, a polícia justificou o pedido à Justiça afirmando que ele era suspeito de ligação com o tráfico de drogas e de pertencer ao PCC (Primeiro Comando da Capital).
A polícia espera do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão do Ministério da Fazenda, dados sobre movimentações bancárias do ex-interno.
Batista deixou a Febem em 2001, onde estava internado por roubo. Foi na instituição que ele conheceu o padre Júlio e o procurou, após a desinternação, para pedir ajuda para conseguir emprego e moradia.
Pessoas próximas do ex-interno o descrevem como educado e mão-aberta. Em um bar próximo à sua pensão, ele costumava pagar cerveja para os freqüentadores.


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