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Setor imobiliário financia órgão que avalia seus projetos
Acordo com prefeitura visa agilizar análise do impacto que imóveis têm no trânsito
Para especialistas, medida é polêmica por envolver contribuição ao poder público de setor privado diretamente interessado
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
RAFAEL TARGINO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O setor imobiliário vai ajudar
a financiar a modernização de
um dos departamentos da Prefeitura de São Paulo responsáveis pela análise dos empreendimentos considerados como
grandes geradores de trânsito.
O objetivo é justamente acelerar a liberação dos projetos.
A medida é considerada polêmica por alguns especialistas
por envolver a contribuição ao
poder público de segmento privado diretamente interessado.
O acordo firmado ontem pela
gestão Gilberto Kassab (DEM)
prevê que a AIB (Associação
Imobiliária Brasileira) forneça
equipamentos de informática e
softwares para que a CET
(Companhia de Engenharia de
Tráfego) avalie de maneira
mais rápida os projetos que são
pólos geradores de trânsito.
Também estabelece que a
iniciativa privada vai contratar
e gerenciar serviços de consultoria, estudar a simplificação
dos processos junto com a CET
e orientar os próprios empreendedores para que os pedidos de aprovação sejam enviados de forma correta. Ela deverá desembolsar R$ 700 mil.
O setor depende da emissão
de certidões de diretrizes da
própria CET para que possa haver continuidade à instalação
de grandes condomínios residenciais, de escritórios, shoppings e escolas, por exemplo.
O acerto para a aceleração
dos processos visa eliminar
uma fila de 162 projetos que estão pendentes de avaliação na
CET, que não tem poder de veto, mas é responsável por definir as medidas mitigadoras aos
impactos que os empreendimentos provocam no entorno.
Na prática, a maior agilidade
deverá acelerar a implantação
de novas edificações de serviços a partir do próximo ano,
com impactos no trânsito.
"O acúmulo de processos
pendentes não é adequado, mas
a contribuição da parte interessada não é a forma mais saudável de resolver os problemas.
Hoje muita gente já pensa que a
CET deveria ser mais exigente
nos seus pedidos para os empreendimentos. Não quero julgar, mas pode abrir margem para questionamentos, como aquela sensação de raposa tomando conta do galinheiro",
diz Jaime Waisman, professor
da Universidade de São Paulo e
especialista em trânsito.
A urbanista Lucila Lacreta,
do Movimento Defenda São
Paulo, avalia ser "obrigação do
serviço público" fazer as análises sem demora e sem a interferência dos interessados.
O arquiteto Jorge Wilheim,
que foi secretário do Planejamento na gestão Marta Suplicy
(PT) avalia que "toda contribuição deve ser bem recebida",
embora reconheça haver risco
à autonomia da companhia.
A CET diz que a média de novos pedidos de implantação dos
pólos triplicou nos últimos
anos, de dez para 30 por mês, e
que não tem dado conta de analisá-los em prazos razoáveis.
Diante da reclamação de empresários, que dizem estar esperando mais de cinco meses
para que a papelada comece a
ser apreciada, as partes formalizaram a parceria ontem.
A companhia e os representantes do setor imobiliário dizem que acordos do tipo já foram firmados inclusive na administração anterior com outras secretarias, como a de Habitação e do Meio Ambiente.
Negam qualquer conflito de
interesses, dizem que tudo está
sendo feito com transparência,
sendo amplamente divulgado,
e que a medida faz parte da tendência de maior contribuição
privada com órgãos públicos.
"Não poder implantar empreendimentos porque haverá
trânsito é uma mentalidade
que precisa ser mudada. Impedir esse avanço serve a uma
ideologia nefasta que paralisa a
cidade", afirma João Crestana,
presidente do Secovi-SP (sindicato do setor imobiliário).
Irineu Gnecco Filho, superintendente de desenvolvimento da CET, afirma que a
aceleração não vai interferir na
qualidade das análises e que a
ajuda vai beneficiar todos os
empreendimentos avaliados,
não apenas os de interesse direto do setor imobiliário.
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