São Paulo, sábado, 18 de outubro de 2008

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Rico resiste mais a pesquisa do IBGE no Rio do que favela

Técnicos têm de ir de 3 a 5 vezes a áreas de classe alta; em favelas, média é de 2 visitas

Problema ocorre sobretudo na contagem populacional, que serve de base para cotas do Fundo de Participação dos Estados e Municípios


LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE, NO RIO

As barreiras estabelecidas pelo tráfico de drogas são um empecilho menor para o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) do que as grades, os muros e o medo das classes média e alta do Rio.
Para concluir os questionários, os técnicos têm de ir em média cinco vezes a áreas residenciais de classe alta. Em favelas, o trabalho se completa com duas visitas, em média.
As conclusões são de um levantamento feito pelo instituto para a Folha. O IBGE monitorou por duas semanas -na primeira quinzena de setembro- as visitas dos técnicos no Rio e na região metropolitana, observando quantas vezes eles tiveram que voltar por recusa dos entrevistados em atendê-los para a abertura de painel (a primeira de uma série de visitas à mesma residência).
Conforme o levantamento, os técnicos estiveram de três a cinco vezes em prédios de 15 bairros da zona sul (Copacabana, Leme, Ipanema, Leblon, Lagoa, Jardim Botânico, Botafogo, Flamengo, Glória, Catete, Laranjeiras, Largo do Machado, Cosme Velho, Gávea e São Conrado), quatro da zona oeste (Barra da Tijuca, Jacarepaguá, Vila Valqueire e Recreio dos Bandeirantes) e 11 regiões da zona norte (Tijuca, Praça da Bandeira, Vila Isabel/Grajaú, Pitangueiras, Jardim Guanabara, Galeão, Méier, Engenho Novo, Engenho de Dentro, Lins de Vasconcelos e Madureira/Vila da Penha), além de três da zona sul de Niterói, na região metropolitana do Rio: Icaraí, São Francisco e Santa Rosa.
Todos os locais em que as visitas acabaram em até dois dias são favelas: Rocinha, Pavão-Pavãozinho, Rio das Pedras, Cidade de Deus, Santo Cristo, Mineira, Manguinhos, Jacarezinho, Vila Cruzeiro, Vigário Geral, Juramento, Vila Aliança, Carobinha, Barbante e Buraco do Boi -esta em Niterói.
"Os setores localizados nas áreas de classe alta são de fácil acesso físico, mas, em compensação, o acesso ao informante é difícil. Nas favelas, a situação se inverte: o acesso físico é muito mais difícil e o acesso ao informante, muito mais fácil", afirma José Francisco Teixeira Carvalho, coordenador da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE no Rio.
Em favelas, avalia o gerente técnico do IBGE, Marco Antônio Alexandre, há facilitadores: além de algumas pesquisas serem feitas por técnicos que moram na localidade, elas passam por uma espécie de monitoramento. Sempre que vão a campo, os técnicos comunicam às associações de moradores.
Mas nem sempre isso funciona, embora na maioria das vezes seja uma barreira menor do que as impostas nas áreas de classes mais abastadas.
"Em algumas favelas há uma certa tensão, porque tem homens armados, e, se a polícia vem, não tem muito para onde correr. Mas também há tensão com as pessoas de classe média alta muito desconfiadas. Já até me revistaram", diz o técnico Renato Acosta Gomes, 48.
As barreiras afetam sobretudo as pesquisas de contagem populacional, que, todo ano, servem de base para o governo federal estipular as cotas do Fundo de Participação dos Estados e Municípios. "Não chega a ser uma taxa que afete a qualidade, mas essa preocupação existe", afirma Alexandre.


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