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Rico resiste mais a pesquisa do IBGE no Rio do que favela
Técnicos têm de ir de 3 a 5 vezes a áreas de classe alta; em favelas, média é de 2 visitas
Problema ocorre sobretudo na contagem populacional, que serve de base para cotas do Fundo de Participação dos Estados e Municípios
LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE,
NO RIO
As barreiras estabelecidas
pelo tráfico de drogas são um
empecilho menor para o IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) do que as
grades, os muros e o medo das
classes média e alta do Rio.
Para concluir os questionários, os técnicos têm de ir em
média cinco vezes a áreas residenciais de classe alta. Em favelas, o trabalho se completa com
duas visitas, em média.
As conclusões são de um levantamento feito pelo instituto
para a Folha. O IBGE monitorou por duas semanas -na primeira quinzena de setembro-
as visitas dos técnicos no Rio e
na região metropolitana, observando quantas vezes eles tiveram que voltar por recusa
dos entrevistados em atendê-los para a abertura de painel (a
primeira de uma série de visitas à mesma residência).
Conforme o levantamento,
os técnicos estiveram de três a
cinco vezes em prédios de 15
bairros da zona sul (Copacabana, Leme, Ipanema, Leblon,
Lagoa, Jardim Botânico, Botafogo, Flamengo, Glória, Catete,
Laranjeiras, Largo do Machado, Cosme Velho, Gávea e São
Conrado), quatro da zona oeste
(Barra da Tijuca, Jacarepaguá,
Vila Valqueire e Recreio dos
Bandeirantes) e 11 regiões da
zona norte (Tijuca, Praça da
Bandeira, Vila Isabel/Grajaú,
Pitangueiras, Jardim Guanabara, Galeão, Méier, Engenho Novo, Engenho de Dentro, Lins de
Vasconcelos e Madureira/Vila
da Penha), além de três da zona
sul de Niterói, na região metropolitana do Rio: Icaraí, São
Francisco e Santa Rosa.
Todos os locais em que as visitas acabaram em até dois dias
são favelas: Rocinha, Pavão-Pavãozinho, Rio das Pedras, Cidade de Deus, Santo Cristo, Mineira, Manguinhos, Jacarezinho, Vila Cruzeiro, Vigário Geral, Juramento, Vila Aliança,
Carobinha, Barbante e Buraco
do Boi -esta em Niterói.
"Os setores localizados nas
áreas de classe alta são de fácil
acesso físico, mas, em compensação, o acesso ao informante é
difícil. Nas favelas, a situação se
inverte: o acesso físico é muito
mais difícil e o acesso ao informante, muito mais fácil", afirma José Francisco Teixeira
Carvalho, coordenador da Pesquisa Mensal de Emprego do
IBGE no Rio.
Em favelas, avalia o gerente
técnico do IBGE, Marco Antônio Alexandre, há facilitadores:
além de algumas pesquisas serem feitas por técnicos que
moram na localidade, elas passam por uma espécie de monitoramento. Sempre que vão a
campo, os técnicos comunicam
às associações de moradores.
Mas nem sempre isso funciona, embora na maioria das
vezes seja uma barreira menor
do que as impostas nas áreas de
classes mais abastadas.
"Em algumas favelas há uma
certa tensão, porque tem homens armados, e, se a polícia
vem, não tem muito para onde
correr. Mas também há tensão
com as pessoas de classe média
alta muito desconfiadas. Já até
me revistaram", diz o técnico
Renato Acosta Gomes, 48.
As barreiras afetam sobretudo as pesquisas de contagem
populacional, que, todo ano,
servem de base para o governo
federal estipular as cotas do
Fundo de Participação dos Estados e Municípios. "Não chega
a ser uma taxa que afete a qualidade, mas essa preocupação
existe", afirma Alexandre.
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