São Paulo, sábado, 18 de outubro de 2008

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Técnico diz ser tratado como bandido numa área e como polícia na outra

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE, NO RIO

A diferença que faz a receptividade aos pesquisadores do IBGE ser maior nas favelas está em códigos que os técnicos cumprem ao subir morros: nunca usam pochetes ou camisetas para fora da calça -para provar que não estão escondendo armas- nem óculos escuros, e sempre procuram as associações de moradores.
"Sempre conseguimos entrar, nos oferecem café. Nas áreas mais ricas, as pessoas que recebem são mais práticas, mas também mais reservadas em relação à declaração de renda. E a gente acaba tendo que voltar muito mais vezes. Nas favelas, com duas visitas resolvemos", conta o técnico Renato Acosta Gomes.
O medo das áreas mais abastadas é, segundo o IBGE, a principal barreira aos questionários do instituto e também o maior motivo de atraso na produção dos entrevistadores.
"Nós trabalhamos com prazo e por produção. Então, quando não nos atendem, acumulamos trabalho, e isso acontece demais na zona sul. No Leblon é um problema", afirma a técnica Ana Maria Moneró, que passa os dias batendo em portas de prédios e casas da zona sul e da Barra da Tijuca, além das favelas dessas áreas.
"Quanto maior poder aquisitivo, menos entrada a gente tem, porque as pessoas estão muito desconfiadas, com medo, mesmo nos identificando e mandando carta. Nos morros, subimos com medo, mas as pessoas, apesar de muitas vezes nem saberem o que é IBGE, são em geral bem receptivas."
Segundo o IBGE, os técnicos responsáveis pelas pesquisas só vão às residências para as quais foram enviadas cartas avisando da visita. No dia, têm que estar com crachá de identificação e a máquina de questionários do instituto.

Revista
Nos 28 anos em que faz pesquisas no Rio, Renato Gomes diz ter vivenciado dois momentos de grande tensão: um deles ao ser expulso por traficantes armados de uma favela em Madureira (zona norte) e outra quando foi revistado, na porta de um prédio da Barra da Tijuca (bairro de classe alta na zona oeste), por dois homens da mesma família.
"Hoje penso que deveria ter feito um registro policial. Foi um constrangimento", diz. "Numa área [de classe alta] você é tratado como bandido e na outra [favelas], como polícia."


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