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Técnico diz ser tratado como bandido numa área e como polícia na outra
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE,
NO RIO
A diferença que faz a receptividade aos pesquisadores do
IBGE ser maior nas favelas está
em códigos que os técnicos
cumprem ao subir morros:
nunca usam pochetes ou camisetas para fora da calça -para
provar que não estão escondendo armas- nem óculos escuros, e sempre procuram as
associações de moradores.
"Sempre conseguimos entrar, nos oferecem café. Nas
áreas mais ricas, as pessoas que
recebem são mais práticas, mas
também mais reservadas em
relação à declaração de renda.
E a gente acaba tendo que voltar muito mais vezes. Nas favelas, com duas visitas resolvemos", conta o técnico Renato
Acosta Gomes.
O medo das áreas mais abastadas é, segundo o IBGE, a principal barreira aos questionários
do instituto e também o maior
motivo de atraso na produção
dos entrevistadores.
"Nós trabalhamos com prazo
e por produção. Então, quando
não nos atendem, acumulamos
trabalho, e isso acontece demais na zona sul. No Leblon é
um problema", afirma a técnica
Ana Maria Moneró, que passa
os dias batendo em portas de
prédios e casas da zona sul e da
Barra da Tijuca, além das favelas dessas áreas.
"Quanto maior poder aquisitivo, menos entrada a gente
tem, porque as pessoas estão
muito desconfiadas, com medo, mesmo nos identificando e
mandando carta. Nos morros,
subimos com medo, mas as
pessoas, apesar de muitas vezes
nem saberem o que é IBGE, são
em geral bem receptivas."
Segundo o IBGE, os técnicos
responsáveis pelas pesquisas só
vão às residências para as quais
foram enviadas cartas avisando
da visita. No dia, têm que estar
com crachá de identificação e a
máquina de questionários do
instituto.
Revista
Nos 28 anos em que faz pesquisas no Rio, Renato Gomes
diz ter vivenciado dois momentos de grande tensão: um deles
ao ser expulso por traficantes
armados de uma favela em Madureira (zona norte) e outra
quando foi revistado, na porta
de um prédio da Barra da Tijuca (bairro de classe alta na zona
oeste), por dois homens da
mesma família.
"Hoje penso que deveria ter
feito um registro policial. Foi
um constrangimento", diz.
"Numa área [de classe alta] você é tratado como bandido e na
outra [favelas], como polícia."
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