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MERCADO DA MORTE
Mercado da morte especula com a dor
MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas
Enterrar um morto nos grandes
centros urbanos não é apenas momento de dor e perplexidade para
a família. É também hora de enfrentar a complexa burocracia do
sepultamento, o alto preço do funeral e o inesperado endividamento que pode resultar disso.
Num mercado que movimenta
até R$ 800 milhões por ano no
Brasil, pagar pelos funerais de um
ente querido pode levar os familiares a enfrentar uma gincana de
preços de critérios duvidosos.
Na rede de cemitérios públicos
de São Paulo, o enterro mais barato custa cerca de R$ 100, enquanto
o mais caro chega a R$ 17.500.
O serviço de cremação é mais
barato do que o sepultamento.
Custa cerca de R$ 200. Mas é pouco usado (apenas 5% da capacidade) "porque a sociedade ainda
não se acostumou à idéia de queimar corpos", diz o Serviço Funerário do Município.
Na rede privada, em cemitérios-jardins de classe A, como o
Gethsêmani ou o Morumby, um
sepultamento pode ultrapassar R$
20 mil, conforme o tipo de caixão
e serviços escolhidos.
A Folha conversou com pessoas
de diversos segmentos sociais que
manifestaram sensação de impotência e a suspeita de que foram
enganadas e mal informadas na
hora do enterro de um parente.
Irregularidades no serviço prestado pelo Serviço Funerário Municipal e pelos cemitérios particulares começam a ser objeto de análise tanto na Secretaria de Direito
Econômico (SDE), órgão do Ministério da Justiça, quanto no Procon de São Paulo.
O Procon já tem, em seu "livro
negro", a lista de cemitérios mais
citados por reclamações. De janeiro a julho deste ano, o órgão recebeu 68 consultas e 32 reclamações
contra cobrança de taxas, preços
altos, contratos irregulares, rescisões, entre outras.
Em julho último, a Secretaria de
Direito Econômico instaurou processo administrativo contra a Comunidade Religiosa João 23, mantenedora do cemitério Morumby,
para apurar denúncia de abuso de
poder econômico e aumento arbitrário de lucros.
Em São Paulo, a prefeitura é a
responsável pela fiscalização dos
cemitérios particulares e pela
prestação de serviços de sepultamento e cremação, pelo transporte dos corpos e de coroas de flores
e pelo fornecimento de urnas funerárias para os enterros.
O Serviço Funerário Municipal
(SFM) de São Paulo, encarregado
de administrar quase 6 mil mortes
por mês, está entre as maiores funerárias do mundo.
O superintendente do SFM, Ignazio Gandolfo, informou (por
meio de sua assessoria de imprensa) que os enterros gratuitos representam 40% de todos os sepultamentos da cidade, e só podem
ser realizados nos cemitérios públicos de categorias 3 e 4, chamados "de quadra geral" (sem jazigos), em covas de terra, sem direito a velório nem paramentos ou
enfeites florais.
"O problema é que as pessoas
morrem de vergonha de fazer enterro grátis", disse Carlos Gilberto Alves, assessor de imprensa do
Serviço Funerário Municipal.
"Muitas se endividam nessa hora
e depois não pagam. O nome não
vai para o SPC, mas fica inscrito
na dívida pública", Gilberto Alves
completou.
Para Rui Alencar, diretor do
SFM entre 1992-94, "geralmente
as pessoas querem pagar porque
se sentem vulneráveis e culpadas
de não terem feito o que acham
que deviam ter feito em vida pelo
morto. É aí que começa o processo
de especulação de preços".
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