São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2001

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Caso do filho não atrapalhou, diz juiz

DA REPORTAGEM LOCAL

Juiz há 16 anos, Novély Vilanova da Silva Reis, 51, disse que não tinha motivos para se considerar impedido quando julgou o caso dos índios panarás em outubro de 1997. Para ele, o fato de o seu filho mais novo, Antônio Novély, 24, ser um dos responsáveis pela morte do pataxó Galdino Jesus dos Santos, em abril de 1997, não deveria atrapalhar o seu trabalho.
Em 1989, Novély Reis determinou que o governo retirasse os 40 mil garimpeiros da área ianomâmi, em Roraima.
Depois disso, a reserva de 9,66 milhões de hectares terminou demarcada, durante o governo Fernando Collor.
"Avaliar que o juiz tomou essa decisão em favor dos panarás como atitude compensatória pelo que o filho dele fez seria uma injustiça. O juiz Novély manteve sua linha de decisão de reconhecer as injustiças sofridas pelos povos indígenas", disse André Villas-Bôas, que coordena os projetos da ONG (organização não-governamental) Instituto Socioambiental na reserva dos índios panarás.

"Cabeça erguida"
Na madrugada do dia 10, quando a juíza Sandra de Santis leu a sentença que condenou Antônio Novély e outros três rapazes a 14 anos de prisão, em regime fechado, pelo crime de homicídio triplamente qualificado, Novély Reis não estava no tribunal. Aliás, ele não esteve no local durante os quatro dias de julgamento.
Após a leitura do veredicto, o juiz ficou sabendo do resultado por meio de uma funcionária da Justiça Federal que encontrava-se no tribunal.
"Não fui lá por dois motivos. Eu não me sentia em condições emocionais e tinha receio de ser mal compreendido. Algumas pessoas poderiam dizer que era um pai corajoso por estar ali acompanhando tudo, mas outras poderiam interpretar a minha presença como uma tentativa de constranger o júri", disse Novély.
O juiz disse que não pretende recorrer do resultado. "Não era o que nós queríamos, mas estamos conformados. Vamos respeitar a decisão da Justiça. Apesar da morte dolorosa do rapaz, os índios aplaudiram a sentença e está todo mundo em paz. Isso me conforta. Brasília amanheceu mais leve. Meu filho errou e está cumprindo a pena dele", afirmou.
O titular da 7ª Vara da Justiça Federal disse que pretende "apertar a mão" do promotor Maurício Miranda para parabenizá-lo pela maneira como ele atuou na acusação. Miranda assumiu a Promotoria porque a promotora Maria José Miranda abandonou o caso do índio Galdino uma semana antes do julgamento. Ela não quis revelar o real motivo de seu afastamento do caso.

Missa dominical
No dia seguinte ao fim do julgamento, Novély Reis visitou Antônio, a quem ele chama pelo apelido de "Pio", na penitenciária. "Faço isso uma vez por semana desde que ele foi preso, há quatro anos e sete meses. É como se fosse a minha missa dominical", disse.
Segundo o juiz, Antônio também está conformado com a sentença. "Ele agora tem um horizonte. O meu filho trabalha na prisão e deverá ficar preso por pouco mais de dois anos e meio. Quando sair, poderá cursar a faculdade de Economia. Ele fez vestibular na prisão e passou."
No encontro depois do julgamento, Novély Reis deu um conselho a seu filho. "Disse que, quando ele sair da prisão e alguém perguntar se ele é um dos jovens que queimou o índio, ele poderá responder de cabeça erguida: "Sim, errei e já paguei pelo meu erro"." (SB)


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