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Uso de anti-hipertensivo diminui reincidência da doença
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estudo internacional mostra que o tratamento de vítimas de
AVC (Acidente Vascular Cerebral) com anti-hipertensivos reduz em 28% a incidência de um
segundo AVC, além de diminuir
os índices de ataques cardíacos.
Um a cada cinco doentes sofre um
segundo derrame em cinco anos.
Atualmente apenas as vítimas
de AVC hipertensas controlam a
pressão arterial com medicamentos à base da droga perindopril,
inibidora da enzima conversora
da angiotensina (ECA).
O estudo demonstrou que os
anti-hipertensivos devem ser
adotados também para as pessoas
com pressão normal. Mais de dois
terços dos derrames ocorrem em
pessoas que não têm pressão alta,
segundo a OMS (Organização
Mundial da Saúde).
As drogas, diz o estudo, também reduziram o risco de complicações sérias como demência e
declínio da função cognitiva.
O trabalho, batizado como Progress, que investigou 6.000 pacientes vítimas de derrame em
172 países ao longo dos últimos
cinco anos, foi apresentado no último fim de semana no 3º Congresso Brasileiro de Doenças Cérebro-Vasculares, no Rio.
Para o médico francês Cristophe Tzourio, diretor de pesquisas
do Hospital La Sapatriere, em Paris, que participou da elaboração
do Progress, o estudo mostrou
que o conceito de pressão alta deverá ser revisto. A seguir, trechos
da entrevista que Tzourio concedeu à Folha por e-mail.
Folha - De que maneira os resultados do estudo Progress vão mudar a conduta médica?
Cristophe Tzourio - O Progress
demonstrou que a definição de
hipertensão necessita de revisão
nos pacientes que sofreram AVC
(ou seja, será que, nesse caso, a
pressão normal, a que seria melhor para o paciente, não deveria
ser mais baixa?). No estudo, mesmo no grupo rotulado como normotenso, o tratamento utilizado
no Progress -com as drogas perindopril e indapamida- foi eficiente em reduzir a chance de um
evento vascular subsequente.
A nova recomendação seria que
todo paciente que venha a sofrer
um AVC ou que tenha sofrido um
AVC nos últimos cinco anos seja
um candidato ao tratamento com
perindopril e indapamida.
Folha - Quais são os efeitos colaterais que o uso sistemático dos anti-hipertensivos podem trazer às
pessoas que têm pressão normal?
Tzourio - Quando o estudo Progress foi desenhado, havia muita
incerteza. Os médicos temiam o
risco de hipotensão, ou seja reduzir muito a pressão e provocar
sintomas como tonteira, náuseas
e sonolência. Os medicamentos
selecionados para o estudo são reconhecidos por sua eficácia em
controlar a pressão arterial, e,
além disso, o perindopril tem
qualidades particulares: um efeito
prolongado que permite uma tomada única diária, com um efeito
regular sobre a pressão (não a reduz abruptamente). Também reduz a pressão arterial, mantendo
o fluxo cerebral (sem interferir
negativamente sobre ele). A tolerabilidade ao tratamento nos quatro anos do estudo foi excelente.
Folha - De que forma as drogas
reduzem o risco de complicações
sérias como demência e incapacidade nas vítimas de AVC?
Tzourio - Esse foi um resultado
muito importante do estudo que
mostrou pela primeira vez ser
possível prevenir a demência e a
incapacidade após o AVC. Com
esse tratamento foi possível reduzir em 35% o risco de demência
pós-AVC. Esse resultado é ainda
mais forte em pacientes que não
tinham nenhum déficit cognitivo
no início do estudo. Nesse grupo,
a proteção chegou a 50%.
Folha - Atualmente as vítimas de
AVC usam aspirina para evitar um
novo derrame. O uso desse medicamento deve ser suspenso?
Tzourio - Cerca de 60% dos pacientes no estudo Progress estavam utilizando aspirina. Como
em todo estudo randomizado
[processo de divisão dos pacientes que garante uma uniformidade entre os dois grupos do estudo", houve a mesma proporção
de pacientes usando aspirina nos
dois grupos [ativo e placebo". Em
outras palavras, o efeito do tratamento utilizado no Progress foi
adicional ao efeito protetor da aspirina. Drogas com ação antiagregação plaquetária [aumentam a
viscosidade do sangue", como a
aspirina, têm provado ser uma
proteção modesta, porém significativa no AVC recorrente, no caso
dos pacientes que tiveram um primeiro AVC do tipo isquêmico [no
caso de AVC hemorrágico, a aspirina está contra-indicada". Portanto, para os casos de AVC isquêmico, os pacientes devem
continuar recebendo drogas antiagregantes e, após o estudo Progress, eles também devem receber
perindopril e indapamida.
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