São Paulo, quarta-feira, 18 de dezembro de 2002

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CHUVA

Em São Paulo, mau tempo provocou 23 pontos de alagamento; índice de congestionamento foi de 93 quilômetros às 15h

Desabamento em Mauá mata mãe e filha

Flávio Florido/Folha Imagem
Morador pega seus pertences após deslizamento em Mauá


CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Duas pessoas morreram, entre elas uma menina de cinco anos, e outras duas ficaram feridas ontem após sete barracos desabarem no Jardim Zaíra, em Mauá (na região do Grande ABC).
Eram aproximadamente 15h quando o deslizamento aconteceu. Desde as 10h30, porém, a chuva castigava o município.
O acidente de ontem era praticamente uma tragédia anunciada: no sábado, um barraco já havia desabado no mesmo local, uma ocupação irregular encravada em um morro da cidade, também por conta da chuva. Na ocasião, porém, ninguém ficou ferido.
Na cidade de São Paulo, a chuva de apenas duas horas -no início da tarde- voltou a fazer estragos. Foram registrados 41 pontos de alagamento e toda a cidade ficou em estado de atenção. Às 15h, o índice de congestionamento, segundo a CET, chegava a 93 quilômetros - quase três vezes a média para o horário.
A CET bloqueou várias avenidas -como a Aricanduva e a 23 de Maio, além da passagem subterrânea do Anhangabaú.
Na zona leste, o córrego Aricanduva transbordou. Bairros como Itaquera, Guaianazes e São Mateus ficaram completamente alagados. Na favela da rua Esperantinópolis, na Penha, um barraco desabou -mas ninguém se feriu.
As chuvas que atingem a cidade desde o início do mês praticamente alcançaram o índice histórico de chuva em dezembro. Foram 195,5 milímetros até as 16 horas de ontem, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O volume normal no mês é de 198,2 milímetros.

Mauá
Elisabete Morais Ramos, 23, seus filhos Ana Carolina Morais Ramos, 5, e Caio Ramos da Silva, 1, e sua cunhada Érica Fernandes do Nascimento Silva, 15, abandonaram o barraco onde moravam, em Mauá, por temer que ele desabasse. Quando desciam uma escadaria, ocorreu o deslizamento.
A enxurrada de lama e de lixo os soterrou. Sujo de barro dos pés ao pescoço, Carlos Neris de Brito, 25, que havia retirado de casa sua mulher e sua filha de quatro anos quando a chuva começou, viu quando o grupo foi soterrado.
Ele disse que se atirou no barro para socorrê-las. Encontrou Elisabete, mas ela já estava morta. Outros vizinhos conseguiram salvar Caio e Érica. Ana Carolina foi retirada depois, já sem vida.
"O marido dela está trabalhando e nem deve saber o que aconteceu", disse Josiel Alencar, 33, ajudante-geral que também tentou socorrer as vítimas.
O pintor José Carlos Venâncio de Jesus, 41, havia levado seus três filhos para a casa da vizinha, temendo que a sua desmoronasse.
Depois de retirar alguns objetos de seu barraco, voltou para pegar as crianças. Minutos depois, a casa da vizinha foi abaixo. A sua está parcialmente destruída, assim como a ponte que liga sua casa à rua principal. "Não consigo ir lá nem para pegar a comida que uns amigos nos deram", disse ele.
O carpinteiro Francisco Pereira da Silva, 36, afirmou que toda vez que ameaça chover, ele abandona o barraco de cômodo único. Leva consigo só a mulher e a filha, de dois anos.
Ontem, não foi diferente. "Só queria tomar um banho", disse. "Depois dessa, não vou morar mais aqui." O acesso à sua casa está interditado pela lama.
A Defesa Civil ainda cadastrava os desabrigados ontem à noite e fazia um levantamento das casas que deverão ser interditadas.

Colaborou o "Agora"


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