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São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 2003

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SEGURANÇA

Abreu Filho atribui a criminalidade à política econômica e diz que só o aparato policial não conseguirá contê-la

Repressão está perto do limite, diz secretário

FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

O secretário estadual da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, afirmou ontem em Santos (SP) que o poder repressivo da polícia paulista está chegando "ao limite" e que, a partir desse ponto, a contenção da criminalidade não dependerá somente do aparato policial.
"A polícia está chegando ao limite da repressão, que é o que dá para fazer. O que é repressão? É prisão. Temos 124 mil presos em São Paulo. Já não tem mais lugar para pôr", disse o secretário.
Abreu Filho deu a declaração no contexto de uma resposta sobre qual modalidade específica de crime concentrará as preocupações da polícia durante a temporada de verão no litoral paulista.
"Tem esses roubos a transeuntes, que começaram a aumentar, de furto. Mas agora o pessoal está ficando um pouco mais ousado", afirmou Abreu Filho.
O secretário da segurança atribuiu a expansão desse tipo de crime à política econômica "excludente", ao desemprego e à ausência de políticas públicas capazes de inibir a criminalidade.
Segundo ele, os autores desses delitos são principalmente jovens na faixa etária entre 16 e 21 anos que, por meio do roubo, tentam se integrar à sociedade de consumo, a fim de exibir tênis e roupas.
"É um fato da vida, um dado da realidade. Nossos estudos mostram que, à medida que aumenta o desemprego, é batata, atinge diretamente esse tipo de crime. A equação é clara. A polícia tem seus limites."
Para o secretário, ultrapassado esse limite, a polícia "meio que enxuga gelo". "Enquanto continuar esse nível de desemprego, essa perda de renda, isso é matemático, aritmético", disse.
O Ministério da Fazenda foi procurado ontem à tarde para comentar as críticas de Abreu Filho à política econômica do governo, mas não se manifestou até a conclusão desta edição.

Operação Verão
Abreu Filho acompanhou ontem o governador Geraldo Alckmin (PSDB) durante a cerimônia de entrega de 115 novos carros para as polícias Civil e Militar da Baixada Santista.
De acordo com o secretário, 1.645 policiais militares da capital e do interior serão deslocados para o litoral a partir do dia 26, quando começa a Operação Verão. Cerca de 1.200 deles ficarão na Baixada Santista, cujo efetivo fixo soma hoje 2.300 homens -a partir de abril, esse número será ampliado em 390 policiais.
O comandante-geral da Polícia Militar no Estado, coronel Alberto Silveira Rodrigues, disse que será dada ênfase ao policiamento "dinâmico", isto é, com uso de motos e bicicletas.

Turismo de um dia
Segundo ele, a facilidade de acesso à região proporcionada pela segunda pista da rodovia dos Imigrantes "não chegou a causar aquilo que todos estavam imaginando", mas deverá incrementar o chamado "turismo de um dia", em que o veranista não se hospeda no litoral e retorna no final da tarde ou à noite.
"Será necessário um policiamento diferenciado para esse tipo de turismo. O policiamento precisará ser dinâmico, não poderá ficar estático, e terá de ser feito por meio de rondas, com bastante ostensividade", afirmou.


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