São Paulo, sábado, 18 de dezembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AGENDA DA TRANSIÇÃO

Após diplomação, 17 parlamentares convocaram entrevista para reafirmar que estão na oposição

Vereador evita cumprimentar Serra em ato

CATIA SEABRA
PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O prefeito eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), passou por constrangimentos ontem de manhã na solenidade de sua diplomação, na Assembléia Legislativa. Ao menos oito vereadores deixaram de cumprimentar o tucano, que estava sentado na primeira fila do plenário, ao lado de seu vice, Gilberto Kassab (PFL).
Além disso, um bloco formado por 17 vereadores -que se aliou ao PT para disputar o comando da Câmara Municipal contra o PSDB- agendou uma entrevista coletiva para logo depois da cerimônia, justamente com o intuito de reafirmar sua "unidade".
Dos 17 integrantes do chamado bloco independente, apenas nove cumprimentaram o prefeito após receberem o diploma. Alguns do PT também passaram por Serra sem nem sequer estender a mão.
Mas, segundo interlocutores de Serra, o prefeito eleito ficou incomodado mesmo foi com a convocação da entrevista logo após a diplomação para anunciar que ficarão na oposição até 2 de janeiro.
A postura dos vereadores no momento em que Serra foi diplomado também é um prenúncio da relação difícil. O prefeito eleito foi aplaudido de pé pelos aliados e pela platéia na galeria. Já os opositores nem sequer aplaudiram, muito menos se levantaram.
Após a sessão solene, Serra expôs sua apreensão quanto à relação com os vereadores numa roda de tucanos. Disse que não entendia por que os vereadores do grupo (PTB, PL, PMDB, PP e PC do B) insistem em reduzir para 5% a margem de remanejamento do Orçamento, se a própria Marta Suplicy (PT) pediu 15%. E lamentou: "O clima está muito ruim".

"Terror sem paralelo"
Após a cerimônia, o futuro secretário das Subprefeituras, Walter Feldman, expressou esse inconformismo. Segundo ele, "não há, no mundo, paralelo com os métodos adotados por integrantes do centrão", com ameaças de agressão e boicote aos que apoiarem Serra na Câmara municipal.
"Vive-se um clima de terror. Diria que é o chamado pacto de sangue das antigas sociedades secretas", acusou Feldman.
Por suas contas, oito integrantes do grupo já confessaram temer retaliações se cederem ao assédio do governo para que abandonem o grupo. Entre as ameaças, a exposição em outdoors de fotos suas como traidores e o bloqueio à votação de projetos na Câmara.
"As pessoas vivem sob domínio do medo. E isso tem que vir a público. Imagine um parlamentar com 40 mil votos dizer "não posso sair do grupo" com medo de retaliação", protestou Feldman.
Na entrevista coletiva do bloco, alguns vereadores não conseguiam esconder o alívio por estarem todos presentes. O ato foi marcado depois que os tucanos anunciaram ter fechado o apoio do PTB, o maior partido do bloco.
Alguns estavam preocupados com possíveis defecções, mas todos compareceram, ainda que alguns tenham demorado a surgir.

Atuação federal
Enquanto isso, o deputado federal Alberto Goldman (PSDB) atua em plano nacional e ameaça dar o troco em Brasília, obstruindo a votação do Orçamento da União caso o PT prejudique Serra. Acusando o grupo de sabotagem, Goldman diz que está "deixando claro que o trabalho que eles vão dar aqui terá repercussão em Brasília. O comportamento do PT em São Paulo será o parâmetro do PSDB e do PFL no Congresso".
Além do Orçamento da União, Goldman lembra que haverá eleição para a presidência da Câmara dos Deputados em fevereiro. E que, no plano nacional, o PSDB defende o princípio de que a maior bancada, com o chefe de Executivo, tem direito à presidência. Mas "esse entendimento só será concretizado se a conduta for compatível em São Paulo".
Não foi o que o bloco sinalizou. Na saída, Serra limitou-se a dizer que vai "se esforçar para governar com as diferentes correntes, respeitando as opções partidárias".


Texto Anterior: Agenda da transição: Prefeitura deixa de pagar o Renda Mínima
Próximo Texto: Festa tem ar de "formatura" e estilos variados
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.