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AGENDA DA TRANSIÇÃO
Após diplomação, 17 parlamentares convocaram entrevista para reafirmar que estão na oposição
Vereador evita cumprimentar Serra em ato
CATIA SEABRA
PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
O prefeito eleito de São Paulo,
José Serra (PSDB), passou por
constrangimentos ontem de manhã na solenidade de sua diplomação, na Assembléia Legislativa.
Ao menos oito vereadores deixaram de cumprimentar o tucano,
que estava sentado na primeira fila do plenário, ao lado de seu vice,
Gilberto Kassab (PFL).
Além disso, um bloco formado
por 17 vereadores -que se aliou
ao PT para disputar o comando
da Câmara Municipal contra o
PSDB- agendou uma entrevista
coletiva para logo depois da cerimônia, justamente com o intuito
de reafirmar sua "unidade".
Dos 17 integrantes do chamado
bloco independente, apenas nove
cumprimentaram o prefeito após
receberem o diploma. Alguns do
PT também passaram por Serra
sem nem sequer estender a mão.
Mas, segundo interlocutores de
Serra, o prefeito eleito ficou incomodado mesmo foi com a convocação da entrevista logo após a diplomação para anunciar que ficarão na oposição até 2 de janeiro.
A postura dos vereadores no
momento em que Serra foi diplomado também é um prenúncio da
relação difícil. O prefeito eleito foi
aplaudido de pé pelos aliados e
pela platéia na galeria. Já os opositores nem sequer aplaudiram,
muito menos se levantaram.
Após a sessão solene, Serra expôs sua apreensão quanto à relação com os vereadores numa roda
de tucanos. Disse que não entendia por que os vereadores do grupo (PTB, PL, PMDB, PP e PC do
B) insistem em reduzir para 5% a
margem de remanejamento do
Orçamento, se a própria Marta
Suplicy (PT) pediu 15%. E lamentou: "O clima está muito ruim".
"Terror sem paralelo"
Após a cerimônia, o futuro secretário das Subprefeituras, Walter Feldman, expressou esse inconformismo. Segundo ele, "não
há, no mundo, paralelo com os
métodos adotados por integrantes do centrão", com ameaças de
agressão e boicote aos que apoiarem Serra na Câmara municipal.
"Vive-se um clima de terror. Diria que é o chamado pacto de sangue das antigas sociedades secretas", acusou Feldman.
Por suas contas, oito integrantes
do grupo já confessaram temer
retaliações se cederem ao assédio
do governo para que abandonem
o grupo. Entre as ameaças, a exposição em outdoors de fotos
suas como traidores e o bloqueio
à votação de projetos na Câmara.
"As pessoas vivem sob domínio
do medo. E isso tem que vir a público. Imagine um parlamentar
com 40 mil votos dizer "não posso
sair do grupo" com medo de retaliação", protestou Feldman.
Na entrevista coletiva do bloco,
alguns vereadores não conseguiam esconder o alívio por estarem todos presentes. O ato foi
marcado depois que os tucanos
anunciaram ter fechado o apoio
do PTB, o maior partido do bloco.
Alguns estavam preocupados
com possíveis defecções, mas todos compareceram, ainda que alguns tenham demorado a surgir.
Atuação federal
Enquanto isso, o deputado federal Alberto Goldman (PSDB) atua
em plano nacional e ameaça dar o
troco em Brasília, obstruindo a
votação do Orçamento da União
caso o PT prejudique Serra. Acusando o grupo de sabotagem,
Goldman diz que está "deixando
claro que o trabalho que eles vão
dar aqui terá repercussão em Brasília. O comportamento do PT em
São Paulo será o parâmetro do
PSDB e do PFL no Congresso".
Além do Orçamento da União,
Goldman lembra que haverá eleição para a presidência da Câmara
dos Deputados em fevereiro. E
que, no plano nacional, o PSDB
defende o princípio de que a
maior bancada, com o chefe de
Executivo, tem direito à presidência. Mas "esse entendimento só
será concretizado se a conduta for
compatível em São Paulo".
Não foi o que o bloco sinalizou.
Na saída, Serra limitou-se a dizer
que vai "se esforçar para governar
com as diferentes correntes, respeitando as opções partidárias".
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