São Paulo, terça-feira, 18 de dezembro de 2007

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Militares são acusados de desviar munição

Dois soldados foram presos sob a acusação de vender cerca de 9.000 projéteis de fuzil para traficantes do Rio de Janeiro

O Comando Militar do Leste confirmou que a munição sumiu do maior depósito bélico do Exército brasileiro, mas se recusou a dar detalhes

DA SUCURSAL DO RIO

Nove caixas com um total de 9.000 balas para fuzis de calibre 7.62 sumiram do maior depósito bélico do Exército brasileiro, o paiol do Depósito Central de Munição do Exército, em Paracambi (a 75 km do Rio, na Baixada Fluminense). Dois soldados foram responsabilizados e estão presos.
De acordo com a edição de ontem do jornal carioca "O Dia", as munições teriam sido vendidas pelos soldados a traficantes de drogas vinculados à facção criminosa CV (Comando Vermelho). O preço teria sido de R$ 15 por bala, o que renderia R$ 150 mil aos responsáveis pelo furto das balas.
Representação do Exército no Estado, o Comando Militar do Leste (CML) confirmou o sumiço das 9.000 balas, mas recusou-se a fornecer detalhes sobre o caso, embora a Folha, seguindo orientação da assessoria do órgão, tenha enviado perguntas por e-mail.
Na resposta, o CML limita-se a informar que "está confirmada a ocorrência de desvio de munições no Depósito Central de Munições (DCMun) do Exército em Paracambi-RJ".
Para apurar o desvio, o CML abriu um IPM (Inquérito Policial Militar), que corre em segredo de Justiça. Os responsáveis pelo IPM , com mandados expedidos pela 4ª Auditoria da Justiça Militar do Rio, já realizaram ações em busca do material furtado, mas até agora quase nada foi recuperado.
Uma das caixas, com poucas balas, foi encontrada pelos militares na semana passada em um endereço na localidade de Lages, em Paracambi.
Como parte do IPM, o CML investiga um esquema de desvio de munições e armamentos da unidade militar de Paracambi. Desse esquema participariam outros militares, além dos soldados presos.
Pelo divulgado pelo CML, o desaparecimento das caixas -cada uma com mil balas para fuzil 7.62- foi notado no dia 3 deste mês, "depois de uma fiscalização de rotina realizada no âmbito daquela organização militar (o Depósito Central)".
As caixas desaparecidas estavam guardadas em um dos 74 paióis da unidade militar. Segundo o CML, a partir da descoberta, houve uma verificação dos estoques de todo o depósito. A "conferência geral" não constatou outros desvios, anunciou o Exército.
O CML recusou-se a divulgar os nomes dos soldados presos. Sabe-se apenas que eles trabalhavam no Depósito Central. As identidades de seus advogados também não foram reveladas, assim como a data de conclusão do IPM, a existência de mais suspeitos e os valores que teriam sido cobrados aos traficantes pelos autores do furto.
Na resposta à Folha, o CML justificou o segredo em torno do tema. "O objetivo" seria o "de não prejudicar as investigações em curso".
Conforme noticiado por "O Dia", os soldados teriam deixado a unidade dentro de um carro do Exército, durante a madrugada. O carro não teria sido revistado na saída do Depósito Central. Os soldados teriam alegado para os vigilantes que, em obediência a ordens de um oficial, levavam para fora carregamentos com gasolina sem condições de uso, com data de validade vencida.
As impressões digitais dos acusados teriam sido encontradas no paiol de onde as munições desapareceram.


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