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SAÚDE
Alteração da fala do presidente é em razão de um problema chamado ceceio, bem diferente da língua presa
Lula tem a língua solta, diz fonoaudióloga
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva não tem a língua presa. Tampouco o ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, o senador José
Eduardo Dutra e o deputado federal Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho. Na verdade, a já apelidada "república da língua presa"
tem é a língua solta.
Aquele inconfundível acento de
"s" e "z", com a língua entre os
dentes, é provocado por uma alteração na fala chamada de ceceio
ou "língua solta", causada pela
flacidez da musculatura da língua.
Em razão da frouxidão, a língua é
projetada para frente (ceceio anterior) ou para os lados (ceceio lateral) durante a fala.
Já a língua presa é decorrente de
um problema anatômico de nascença. O freio lingual -membrana vertical que se estende da superfície inferior da língua ao soalho da boca- é curto e não permite a movimentação da língua
dentro da boca. O que acontece,
então, é que as pessoas criam
compensações para os sons que
não conseguem fazer.
"São dois problemas completamente distintos. O Lula, o Palocci
e o Vicentinho tem uma língua
gordinha, flácida e solta. [A alteração na fala" Não tem nada a ver
com língua presa", afirma a fonoaudióloga Irene Queiroz Marchesan, 50, diretora do Cefac
(Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica).
O ceceio pode ser causado por
diversas razões. Crianças com
problemas respiratórios (que têm
o hábito de dormir com a boca
aberta) ou com alterações dentárias, causadas principalmente pelo uso da chupeta e da mamadeira, são sérias candidatas a apresentar o distúrbio.
Para a fonoaudióloga Zelita Caldeira Ferreira Guedes, 49, professora do Departamento de Otorrinolaringologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o
ceceio do deputado Vicentinho,
por exemplo, é claramente provocado por alterações na arcada
dentária.
"Já o do Lula e o do Palocci não
dá para ter certeza por causa da
barba", diz, admitindo que tenta
identificar a razão do ceceio observando a fala dos dois pela TV.
Um aviso aos pais: até os seis anos
de idade é normal a criança apresentar ceceio. "É preciso esperar o
nascimento dos primeiros molares definitivos para ver se a alteração na fala vai persistir", afirma
Marchesan.
Diferentemente da língua presa,
que necessita de cirurgia, o ceceio
é corrigido com exercícios de fortalecimento da musculatura da
língua. "Também é preciso educar a pessoa para falar com a língua na posição certa, ou seja, na
região posterior da boca", diz a fonoaudióloga Guedes.
Além disso, é fundamental que
sejam tratados outros problemas
associados à alteração da fala para
que os exercícios de fonoaudiologia tenham maior eficácia.
O menino Orlando de Castro, 5,
por exemplo, usa aparelho para
corrigir a arcada dentária fechada
e a protrusão dos incisivos (dentes de coelho) e, ao mesmo tempo, faz exercícios para corrigir o
ceceio. "Em um mês de tratamento com a fonoaudióloga, ele já melhorou 90%", afirma a pedagoga
Daniela Célico Pavan de Castro,
27, mãe do menino.
As alterações dentárias do garoto são atribuídas à mamadeira,
usada até os três anos de idade. A
irmã caçula, Giulia, 3, já apresenta
problemas na arcada dentária e
na fala devido ao uso da chupeta.
"A gente sabe que faz mal, tenta
orientá-los, mas não dá para retirar [a chupeta ou a mamadeira" à
força. É preferível correr atrás para corrigir as sequelas do que
traumatizá-los", afirma a mãe.
No caso da língua presa, quanto
mais cedo for realizada a cirurgia
corretiva, melhor. A operação,
feita com anestesia local, consiste
em um pequeno corte no freio para liberar a língua.
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