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São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 2003

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SAÚDE

Alteração da fala do presidente é em razão de um problema chamado ceceio, bem diferente da língua presa

Lula tem a língua solta, diz fonoaudióloga

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem a língua presa. Tampouco o ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, o senador José Eduardo Dutra e o deputado federal Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho. Na verdade, a já apelidada "república da língua presa" tem é a língua solta.
Aquele inconfundível acento de "s" e "z", com a língua entre os dentes, é provocado por uma alteração na fala chamada de ceceio ou "língua solta", causada pela flacidez da musculatura da língua. Em razão da frouxidão, a língua é projetada para frente (ceceio anterior) ou para os lados (ceceio lateral) durante a fala.
Já a língua presa é decorrente de um problema anatômico de nascença. O freio lingual -membrana vertical que se estende da superfície inferior da língua ao soalho da boca- é curto e não permite a movimentação da língua dentro da boca. O que acontece, então, é que as pessoas criam compensações para os sons que não conseguem fazer.
"São dois problemas completamente distintos. O Lula, o Palocci e o Vicentinho tem uma língua gordinha, flácida e solta. [A alteração na fala" Não tem nada a ver com língua presa", afirma a fonoaudióloga Irene Queiroz Marchesan, 50, diretora do Cefac (Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica).
O ceceio pode ser causado por diversas razões. Crianças com problemas respiratórios (que têm o hábito de dormir com a boca aberta) ou com alterações dentárias, causadas principalmente pelo uso da chupeta e da mamadeira, são sérias candidatas a apresentar o distúrbio.
Para a fonoaudióloga Zelita Caldeira Ferreira Guedes, 49, professora do Departamento de Otorrinolaringologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o ceceio do deputado Vicentinho, por exemplo, é claramente provocado por alterações na arcada dentária.
"Já o do Lula e o do Palocci não dá para ter certeza por causa da barba", diz, admitindo que tenta identificar a razão do ceceio observando a fala dos dois pela TV. Um aviso aos pais: até os seis anos de idade é normal a criança apresentar ceceio. "É preciso esperar o nascimento dos primeiros molares definitivos para ver se a alteração na fala vai persistir", afirma Marchesan.
Diferentemente da língua presa, que necessita de cirurgia, o ceceio é corrigido com exercícios de fortalecimento da musculatura da língua. "Também é preciso educar a pessoa para falar com a língua na posição certa, ou seja, na região posterior da boca", diz a fonoaudióloga Guedes.
Além disso, é fundamental que sejam tratados outros problemas associados à alteração da fala para que os exercícios de fonoaudiologia tenham maior eficácia.
O menino Orlando de Castro, 5, por exemplo, usa aparelho para corrigir a arcada dentária fechada e a protrusão dos incisivos (dentes de coelho) e, ao mesmo tempo, faz exercícios para corrigir o ceceio. "Em um mês de tratamento com a fonoaudióloga, ele já melhorou 90%", afirma a pedagoga Daniela Célico Pavan de Castro, 27, mãe do menino.
As alterações dentárias do garoto são atribuídas à mamadeira, usada até os três anos de idade. A irmã caçula, Giulia, 3, já apresenta problemas na arcada dentária e na fala devido ao uso da chupeta.
"A gente sabe que faz mal, tenta orientá-los, mas não dá para retirar [a chupeta ou a mamadeira" à força. É preferível correr atrás para corrigir as sequelas do que traumatizá-los", afirma a mãe.
No caso da língua presa, quanto mais cedo for realizada a cirurgia corretiva, melhor. A operação, feita com anestesia local, consiste em um pequeno corte no freio para liberar a língua.



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