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Consórcio fez explosão 7 h antes de acidente
Detonação ocorreu às 8h20 de sexta, mesmo após ter sido constatado na véspera um rebaixamento acelerado do terreno
Engenheiros da Via Amarela dizem que explosão não interferiu no acidente, apesar de ter sido feita a 10 metros do desabamento
ROGÉRIO GENTILE
EDITOR DE COTIDIANO
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Consórcio Via Amarela,
responsável pela construção da
linha 4 do Metrô de São Paulo,
fez uma detonação na obra da
futura estação Pinheiros às
8h20 da última sexta-feira.
A explosão foi realizada menos de sete horas antes do acidente que abriu uma cratera ao
lado da marginal Pinheiros
-cinco corpos já foram encontrados- e um dia depois da
constatação de um rebaixamento acelerado do terreno.
O consórcio confirma que
houve a detonação. Dois engenheiros das construtoras, que
só aceitaram falar à Folha sob o
compromisso de não terem
seus nomes revelados, alegam
que a explosão foi "controlada", de "pequena intensidade"
e a 10 metros do trecho do túnel da estação destruído no acidente -distância que não consideram pequena.
O procedimento do consórcio de fazer a detonação mesmo após a aceleração do rebaixamento do terreno vem sendo
questionado por técnicos do
governo José Serra (PSDB)
-para quem as explosões, mesmo que não sejam a causa principal, podem ter alguma contribuição para a tragédia.
Os engenheiros do consórcio
dizem que a detonação foi feita
para ajudar no processo de nivelamento do piso da estação e
que esse tipo de ação não foi
suspensa, apesar do recalque
constatado no dia anterior,
porque as medições no rebaixamento da terra não estavam
acima do patamar de alerta. Para os dois, portanto, a medida
não interferiu no acidente.
Dois especialistas consultados pela Folha dizem, porém,
que toda explosão, ainda que
controlada, leva a vibrações
que podem acelerar uma movimentação de terra ou rocha.
Mas eles afirmam que a relação da detonação como um fator contribuinte para a abertura da cratera depende da forma
como ela foi feita, sua intensidade e até que ponto a obra estava em condições normais.
"Toda detonação resulta numa vibração, que pode soltar
partes do solo. Mas não dá para
dizer se ela foi correta ou não
sem ter certeza de que os recalques estavam dentro do previsto no projeto e de que todos os
cálculos estavam corretos",
afirma Paulo Helene, professor
da Escola Politécnica da USP
(Universidade de São Paulo) e
presidente do Instituto Brasileiro do Concreto Fundado.
"Se os recalques estão acima
do nível de alerta, não se faz
uma detonação. Mas se estão
dentro do previsto, não há razão para mudar qualquer procedimento desse tipo", afirma
Roberto Kochen, diretor do
Instituto de Engenharia e que
já prestou serviços na linha 4.
Os dois engenheiros do consórcio afirmam que não havia
indícios para nenhuma atenção diferenciada até a manhã
de quinta-feira -quando as
medições apontaram para um
rebaixamento do terreno próximo de 25 milímetros.
O recalque é comum em
obras do tipo, mas estava em
patamar superior ao dos dias
anteriores. Apesar disso, na
versão dos técnicos do consórcio, não a ponto de provocar
uma situação de alerta.
Eles chegam a comparar a
condição com os 75 milímetros
de rebaixamento identificados
no ano passado na frente de
obras da linha 4 na rua João
Elias Saada, quando houve a
desocupação de oito casas, mas
nada desabou, apesar do nível
de recalque bem superior.
Reunião
Na véspera do acidente, pela
manhã, o engenheiro de plantão reuniu-se com a equipe do
assistente técnico da obra para
avaliar a gravidade da aceleração do rebaixamento do solo,
que acabara de ser verificada.
Nesta reunião, eles decidiram interromper as escavações
e iniciar um procedimento de
contenção do recalque, com
uso de concreto e tirantes (barras de sustentação) no túnel.
No dia seguinte, considerando que a situação estava sob
controle, fizeram a detonação
para nivelamento do piso.
Os técnicos do consórcio alegam que ninguém tinha idéia
do risco de acidente, tanto que
engenheiros e outros profissionais estiveram no túnel mesmo
após a explosão -não se arriscariam a ficar ali se acreditassem haver problema grave.
Tarcísio Barreto Celestino,
engenheiro e presidente da Comitê Brasileiro de Túneis, funcionário da Themag e projetista da estação Butantã da linha
4, diz que "danos causados pelos explosivos no entorno da
área que está sendo detonada
são desprezíveis".
André Assis, professor titular
de geotecnia da UnB e ex-presidente da Associação Internacional de Túneis, diz não conhecer "nenhum acidente em
túneis provocado por explosivos". "Essa tecnologia é dominada há muito tempo."
Colaborou MARIO CESAR CARVALHO, da Reportagem Local
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