|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Não deu tempo de dar alerta, diz consórcio
Segundo o engenheiro do Via Amarela, foram só dois minutos entre o início e o fim do colapso que provocou o desabamento da obra
Ele negou uma redução de
custos e afirmou ainda que
não houve negligência no
trabalho de monitoramento
da escavação do túnel
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Durou só dois minutos. Foi
esse o intervalo de tempo entre
o início e o fim do colapso que
provocou o rompimento do teto da estação Pinheiros do metrô, segundo Celso Rodrigues,
engenheiro do consórcio Via
Amarela e coordenador de produção da linha 4.
Foi por causa desse tempo
exíguo que a rua Capri não foi
fechada, disse ele na primeira
entrevista coletiva do consórcio sobre o acidente.
Se a rua Capri tivesse sido fechada, seis das sete vítimas poderiam ter sobrevivido, segundo a Defesa Civil.
"É como a queda de um avião.
Não dá tempo de fazer nada",
comparou o engenheiro Carlos
Maffei, consultor do consórcio
que participou da entrevista.
Funcionários da obra contaram à Folha, no entanto, que a
derrocada do túnel durou 10
minutos, tempo que seria suficiente para o acionamento de
uma plano de emergência. Segundo Jair Paca de Lima, chefe
da Defesa Civil, o consórcio
não tem um plano de abandono
de área adequado.
O desmoronamento
O processo mais lento -o
desmoronamento das paredes
do poço que dava acesso ao túnel, mostrado repetidamente
na televisão- foi conseqüência
da queda do teto do túnel, afirmou Rodrigues, funcionário da
Odebrechet que estava de férias durante o acidente.
O deslocamento de ar provocado pela ruptura do terreno
foi tão violento que jogou os
operários no chão, segundo o
engenheiro. Havia 25 operários
na obra, sob supervisão do engenheiro José Maria Aragão.
"Ouviram um estrondo, um
estalido muito forte. A primeira
coisa que fizeram foi ir para a
rota de fuga", contou. A maior
parte dos funcionários saiu do
túnel de elevador. "O operador
do elevador diz que, enquanto o
elevador subia, viu o túnel caindo", contou Rodrigues.
No momento do desmoronamento, os operários trabalhavam no concretamento de uma
área chamada de "rebaixo" -é
por onde os trens irão circular.
Não houve negligência do
consórcio no monitoramento
da escavação do túnel, de acordo com o engenheiro.
"Os números não eram alarmantes", disse o engenheiro
Wagner Marangoni, gerente de
administração contratual do
consórcio, referindo-se aos dados encontrados na quinta-feira, véspera do acidente.
Rodrigues fez uma comparação com outro acidente, em
abril de 2005, quando oito casas da rua João Elias Saada foram evacuadas: "Os números
eram duas ou três vezes menores do que os da João Elias Saada. [A situação] Não era alarmante". Na época, houve tempo para retira os moradores.
Logo após o acidente de sexta, o consórcio divulgou nota
responsabilizando as chuvas
pelo desmoronamento. Mas,
ontem, o engenheiro disse que
cabe ao IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) investigar
as razões do acidente e que nenhuma hipótese pode ser descartada, inclusive erro de engenharia ou de projeto.
Rodrigues, porém, disse não
ter fundamento a idéia de que o
consórcio economizava concreto e ferragem no túnel. A estação Pinheiros, disse, custou
25% a mais do que o previsto no
projeto original por causa de
mudanças sugeridas pelo consórcio e aprovadas pelo Metrô.
Ele não quis informar qual
era o custo original da estação e
qual foi o custo da mudança sob
alegação de que o dado é segredo comercial do consórcio.
O engenheiro contou que o
consórcio acrescentou ao teto
do túnel uma cambota, espécie
de treliça com barras de aço de
20 milímetros de diâmetro, a
cada 80 centímetros.
A cambota ajuda a sustentar
o concreto durante a escavação.
"Foi mais demorado e mais
caro do que o projeto original",
afirmou Rodrigues. O consultor Maffei afirmou que o uso de
cambota é universal: "Se a cambota não tiver agüentado [o peso do solo acima dela], vamos
ter de mudar todos os projetos
de túneis do mundo".
Marangoni frisou que a informação de que houve mudanças na estação não permite concluir que o Metrô pode ter errado no projeto original: "Não estou afirmando que a culpa é do
Metrô".
Rodrigues refutou a informação divulgada pela Folha na
terça-feira de que as empresas
de projetos de engenharia ganhavam prêmios do consórcio
quando conseguissem reduzir
o volume de material na obra.
"Isso não existe". Engenheiros
envolvidos no projeto confirmam que as empresas recebiam prêmios por isso.
Ele não quis comentar a informação segundo a qual uma
casa afundou e quatro racharam na rua Amaro Cavalheiro
por conta do que os funcionários do Metrô chamam de economia de concreto no túnel.
Rodrigues afirmou que a melhor prova de que não houve
economia é que a investigação
sobre o incidente foi arquivada.
Ele confirmou que o tipo de
contrato permite que as empreiteiras fiscalizem o próprio
trabalho que executaram.
Ressaltou, porém, que isso
não significa menos fiscalização. Segundo ele, o Metrô fiscaliza os trabalhos por meio de
seus engenheiros e por meio de
uma empresa de fiscalização
que contratou. O Banco Mundial e a seguradora também
exercem essa função.
Texto Anterior: Há 50 anos Próximo Texto: Promotor diz que houve erro na execução ou no projeto da obra Índice
|