São Paulo, sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

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Tombamento pode ter intervenções, diz arquiteta

Sarah Feldman diz que modificações em prédios da cracolândia podem ser boas

Segundo a urbanista da USP de São Carlos, o fato de poder intervir não é ruim: "Não adianta congelar tudo indiscriminadamente"

DA REPORTAGEM LOCAL

A arquiteta urbanista Sarah Feldman, professora da USP de São Carlos, diz que a preservação de imóveis na região da cracolândia (centro de São Paulo) é importante, mas pondera que é necessário discutir a forma de ocupação dos prédios. (ES)

 

FOLHA - O Condephaat [Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico] flexibilizou a preservação de dezenas de imóveis na região da cracolândia. O que a sra. pensa disso?
SARAH FELDMAN -
Os imóveis não devem apenas ser utilizados como museu ou centro cultural. É preciso que esses edifícios sofram alguma adaptação. É uma necessidade com a mudança que ocorre na sociedade, inclusive nos edifícios. A questão agora é ver como é que isso vai ocorrer. Não dá para deixar tudo solto. O que eu achei interessante nessa relação [de imóveis tombados] é que são conjuntos. Isso força a pensar a preservação de imóveis enquanto conjunto urbano.
O fato de poder intervir não é ruim. A questão consiste em pensar de que forma se colocam alguns parâmetros para essas intervenções. Também não adianta congelar tudo indiscriminadamente.

FOLHA - Eles são importantes como conjunto urbano e não apenas como prédios de interesse histórico?
FELDMAN -
Tem as duas coisas. Nessa listagem existem concentração de imóveis em algumas ruas. Isso nos força a pensar a preservação enquanto conjunto urbano. Agora, os edifícios em si, eu acho que não dá para pensar que vai ficar só a casca e ponto final. Tem de pensar enquanto projeto interno também.
Desses 86 devem ter alguns imóveis que estão em estado original e merecem uma intervenção mais parcimoniosa e outros, uma intervenção menos parcimoniosa. Dentro dessa lista deve ter imóveis em situações muito diferentes.

FOLHA - O projeto urbanístico da região precisa definir isso?
FELDMAN -
Eu acho que sim. Porque uma listagem só não resolve a questão da preservação. A listagem, o tombamento, é um passo. Ela não resolve o projeto urbanístico, a intervenção. Como também não resolve a questão do tecido social de um bairro como esse.

FOLHA - A sra. acha positiva a flexibilização do tombamento?
FELDMAN -
Eu não colocaria nesses termos. Eu acho que a preservação implica também em intervenção, em atualização. Preservação não é simplesmente não mexer em nada. Na minha opinião o exemplo mais claro disso é o Sesc Pompeia. A preservação dos edifícios também pode considerar a intervenção.

FOLHA - Estão fazendo o tombamento flexível pensando também nesse aspecto?
FELDMAN -
Não sei se estão pensando nessas características, mas uma listagem que sai de tombamento é o primeiro passo. Agora tem de ter um projeto urbanístico e diretrizes claras de como utilizar.


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