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Tombamento pode ter intervenções, diz arquiteta
Sarah Feldman diz que modificações em prédios da cracolândia podem ser boas
Segundo a urbanista da USP de São Carlos, o fato de poder intervir não é ruim: "Não adianta congelar tudo indiscriminadamente"
DA REPORTAGEM LOCAL
A arquiteta urbanista Sarah
Feldman, professora da USP de
São Carlos, diz que a preservação de imóveis na região da cracolândia (centro de São Paulo)
é importante, mas pondera que
é necessário discutir a forma de
ocupação dos prédios.
(ES)
FOLHA - O Condephaat [Conselho
de Defesa do Patrimônio Histórico,
Arqueológico, Artístico e Turístico]
flexibilizou a preservação de dezenas de imóveis na região da cracolândia. O que a sra. pensa disso?
SARAH FELDMAN - Os imóveis não
devem apenas ser utilizados como museu ou centro cultural. É
preciso que esses edifícios sofram alguma adaptação. É uma
necessidade com a mudança
que ocorre na sociedade, inclusive nos edifícios. A questão
agora é ver como é que isso vai
ocorrer. Não dá para deixar tudo solto.
O que eu achei interessante
nessa relação [de imóveis tombados] é que são conjuntos. Isso força a pensar a preservação
de imóveis enquanto conjunto
urbano.
O fato de poder intervir não é
ruim. A questão consiste em
pensar de que forma se colocam alguns parâmetros para
essas intervenções. Também
não adianta congelar tudo indiscriminadamente.
FOLHA - Eles são importantes como conjunto urbano e não apenas
como prédios de interesse histórico?
FELDMAN - Tem as duas coisas.
Nessa listagem existem concentração de imóveis em algumas ruas. Isso nos força a pensar a preservação enquanto
conjunto urbano. Agora, os edifícios em si, eu acho que não dá
para pensar que vai ficar só a
casca e ponto final. Tem de
pensar enquanto projeto interno também.
Desses 86 devem ter alguns
imóveis que estão em estado
original e merecem uma intervenção mais parcimoniosa e
outros, uma intervenção menos parcimoniosa. Dentro dessa lista deve ter imóveis em situações muito diferentes.
FOLHA - O projeto urbanístico da
região precisa definir isso?
FELDMAN - Eu acho que sim.
Porque uma listagem só não resolve a questão da preservação.
A listagem, o tombamento, é
um passo. Ela não resolve o
projeto urbanístico, a intervenção. Como também não resolve
a questão do tecido social de
um bairro como esse.
FOLHA - A sra. acha positiva a flexibilização do tombamento?
FELDMAN - Eu não colocaria
nesses termos. Eu acho que a
preservação implica também
em intervenção, em atualização. Preservação não é simplesmente não mexer em nada. Na
minha opinião o exemplo mais
claro disso é o Sesc Pompeia. A
preservação dos edifícios também pode considerar a intervenção.
FOLHA - Estão fazendo o tombamento flexível pensando também
nesse aspecto?
FELDMAN - Não sei se estão pensando nessas características,
mas uma listagem que sai de
tombamento é o primeiro passo. Agora tem de ter um projeto
urbanístico e diretrizes claras
de como utilizar.
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