São Paulo, terça-feira, 19 de março de 2002

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VIOLÊNCIA

Fórum da zona leste paulistana é metralhado e ninguém assume autoria; dois servidores e um advogado ficam feridos

Justiça de SP sofre sexto atentado

Patrícia Santos/Folha Imagem
Vidro de uma das alas do Fórum de Itaquera que foi atingido por balas de submetralhadora; dois suspeitos de autoria do crime foram presos


RENATO ESSENFELDER
DA REPORTAGEM LOCAL

O fórum de Itaquera (zona leste de São Paulo) foi metralhado ontem pela manhã por um grupo de quatro pessoas em duas motos. Dois suspeitos de integrar a quadrilha foram detidos pela polícia logo após o crime. Um terceiro foi liberado no final da noite por ter apresentado um álibi considerado "satisfatório" para a polícia.
Quatro pessoas sofreram ferimentos leves no atentado. Um advogado levou um tiro de raspão na barriga, e uma dona-de-casa e dois funcionários do fórum foram feridos com estilhaços do vidro da porta de entrada do local.

15º do ano
Esse foi o sexto fórum de São Paulo alvo de atentados criminosos somente neste ano, o 15º contra prédios do poder público do Estado. A maioria deles foi assumida ou teve a autoria atribuída pela polícia ao PCC.
Os suspeitos detidos são Marcelo Loreno, 28, que teria efetuado os disparos; e A.M.C., 17, piloto de uma das motos. Loreno fugiu da penitenciária de Marília no último Natal, durante o indulto. Cumpria pena por roubo, em regime semi-aberto.

Presos negam
Os investigadores trabalham com a hipótese de que a dupla faça parte da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Segundo a Folha apurou, os suspeitos teriam confirmado à polícia que integram a organização. Em entrevista, entretanto, ambos negaram envolvimento com o atentado e com a facção.
O atentado aconteceu por volta das 10h30. Os quatro criminosos passaram em frente ao fórum de moto, reduziram a velocidade e começaram os disparos. Cerca de 25 balas atingiram o prédio, segundo a perícia da Polícia Civil.
A arma utilizada foi uma submetralhadora 9 mm, apreendida pela polícia em uma mochila que estava com Loreno. Segundo o coronel Osvaldo Silva Filho, do 29º BPM (Batalhão da Polícia Militar), logo que recebeu a comunicação do atentado, mais de 40 carros de polícia foram utilizados para cercar as imediações.
A cerca de 4 km do fórum, os dois suspeitos foram detidos. Segundo a polícia, eles não reagiram à prisão. Loreno levantou os braços e largou no chão sua mochila. Nela, a polícia achou a submetralhadora e dois cartuchos de balas -um deles cheio (com 30 projéteis) e o outro vazio.
Cinco policiais militares fazem a segurança no fórum. Eles não reagiram aos disparos com medo de acertar a população em volta, mas comunicaram a ocorrência por rádio ao 29º BPM.
Segundo o diretor do fórum, juiz Osvaldo Capraro, cerca de 500 funcionários e mais 2.000 pessoas circulam diariamente pelo local. No momento do atentado, haveriam aproximadamente 250 funcionários no fórum.
O expediente não foi suspenso, já que apenas o Conselho Superior de Magistratura pode dar essa ordem. O diretor sozinho não tem autonomia para tanto.
Mesmo assim, a maioria dos funcionários foi para casa após o atentado. Vários cartórios e varas internas, nas quais trabalham normalmente cerca de 30 pessoas, não tinham mais de cinco funcionários em serviço após o crime.
O presidente da subseção de Itaquera da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Rodolf João Schaffer, criticou a manutenção do expediente após o atentado.

Reforço
A segurança no fórum de Itaquera deve ser reforçada após o atentado de ontem. Segundo Capraro, a Polícia Militar deve deixar a partir de hoje uma Base Comunitária Móvel no local.
Outra precaução que o juiz diz estudar é que se exija a identificação dos visitantes do fórum ou então se faça algum tipo de revista "muito discreta" em quem quiser ter acesso ao fórum.
O reforço, segundo a própria diretoria reconhece, pode ser inútil. Para o juiz, já há suficiente segurança externa no fórum, mas evitar que criminosos passem nas ruas atirando seria impossível. "Só se parar cada moto que anda na rua", diz o juiz.
Segundo ele, nos últimos tempos nenhuma ameaça foi feita nem a ele, nem à instituição e nem a qualquer um dos funcionários.
Capraro diz acreditar que o fórum de Itaquera foi escolhido de maneira "totalmente aleatória" pelos criminosos, que estariam apenas procurando um meio de aterrorizar a população.



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