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JUSTIÇA SOB AMEAÇA
Bilhete interceptado na prisão de Avaré faria referência à morte de juiz de Presidente Prudente
Líder do PCC foi avisado de homicídio
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um bilhete apreendido na Penitenciária 1 de Avaré (262 km de
São Paulo) colocou o atual ""número um" do PCC, o assaltante
Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, na mira da investigação que apura o assassinato
do juiz-corregedor de Presidente
Prudente, Antonio José Machado
Dias, 47, morto a tiros em uma
emboscada na última sexta-feira.
""A caminhada já foi feita. O machado já era. É o caminho do câncer", diz trecho da mensagem que
deveria ter chegado à cela de Marcola, anteontem, assinada pelo
preso Mangue, como é conhecido
o ""piloto" (líder) da facção em
Avaré -o PCC tem um líder por
presídio, todos subordinados à
cúpula da organização criminosa.
O pedaço de papel foi interceptado por um agente penitenciário,
conforme informou o jornal
"Diário de S. Paulo" em sua edição de ontem, quando era lançado da janela de uma cela para outra, com a ajuda de uma linha. A
P1 de Avaré tem 297 presos e funciona com regime disciplinar diferenciado, igual ao CRP (Centro
de Readaptação Penitenciária) de
Presidente Bernardes: as celas são
individuais, o banho de sol é limitado e não há visitas íntimas.
A direção do presídio, promotores e policiais do caso deduzem
que a mensagem faz referência à
emboscada executada perto do
fórum de Presidente Prudente,
em que dois homens fecharam o
carro do juiz e o balearam.
Ontem à noite, a polícia esteve
na casa do diretor do presídio de
Avaré para apreender o bilhete.
A Secretaria da Administração
Penitenciária confirmou a interceptação da mensagem, mas não
divulgou seu conteúdo. Segundo
o órgão, o bilhete foi encaminhado às autoridades competentes.
Como prova, o bilhete não vale
para afirmar que Marcola foi o
mandante do crime, de acordo
com o Ministério Público. Contudo a descoberta deverá direcionar
a investigação para os contatos
mantidos recentemente por Marcola dentro e fora da prisão.
A descoberta reforça ainda uma
das hipóteses sobre o motivo do
assassinato. Marcola e outros da
cúpula do PCC teriam ficado irritados com uma decisão do juiz-corregedor Dias, que, no início
deste ano, arquivou a sindicância
em que se investigava a morte de
dois presos do CRP de Bernardes:
Marcelo Madureira, 30, e Rodrigo
Leandro Paz, 24, encontrados enforcados em suas celas, em dezembro do ano passado, supostamente em dois suicídios registrados em uma semana.
Na época, familiares de presos
chegaram a dizer que os dois se
mataram após terem sido torturados. A direção da unidade, que
mantém um sistema de câmeras
vigiando funcionários e presos,
negou ter havido agressões.
Um deles, Paz, estava isolado
em uma cela de castigo por ter desacatado um funcionário.
Passos
O próprio Marcola deve ser ouvido agora sobre o assassinato do
juiz-corregedor. Responsável por
sete presídios na região de Presidente Prudente, incluindo o CRP
de Bernardes, onde está a maior
parte da cúpula do PCC e o traficante Luiz Fernando da Costa, o
Fernandinho Beira-Mar, Dias era
conhecido como um juiz sério e
duro ao julgar pedidos dos presos, o que pode ter atraído para
ele a antipatia do PCC.
Ontem, a DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Presidente
Prudente encontrou uma chácara, próximo à cidade, que pode ter
abrigado a quadrilha que assassinou o juiz. Cinco carros e um caminhão, todos com placas de
Campinas, permaneceram estacionados no local por quase uma
semana, desaparecendo na sexta-feira - no dia do crime.
Coincidência ou não, um dos
presos sob a competência do juiz
é o sequestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho,
que atuava em Campinas e que
assumiu dar dinheiro ao PCC.
A polícia começa a analisar hoje
fotografias de ex-presos em Presidente Bernardes e Presidente Prudente para ver se encontra alguém
parecido com a dupla de assassinos, cujos retratos falados foram
divulgados no final de semana.
Colaborou ANDRÉ CARAMANTE, do
"Agora"
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