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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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URBANIDADE

Guerra contra o aeroporto

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Filha de um funcionário da então Secretaria de Viação e Obras, a menina Lygia Veras Horta acompanhou as obras de construção do aeroporto de Congonhas. Fascinava-se com o movimento das máquinas de terraplenagem cor de laranja e ficava imaginando se algum dia conseguiria viajar em um avião, um artefato exótico na São Paulo dos anos 30. Adolescente, gostava de passar por ali sozinha para ficar pensando na vida. "Era meu ponto ideal para espantar as tristezas."
Se, naqueles tempos, alguém lhe fizesse uma previsão de que, quando adulta, viria a comandar uma guerra contra o aeroporto que tanto a encantava, certamente riria. "Nunca imaginei que, em algum dia, brigaria com os aviões de Congonhas", conta Lygia, hoje com 73 anos.
Lygia tornou-se presidente da Associação dos Amigos de Moema, bairro onde mora desde 1954. "Quando chegamos, não havia nada por perto -nem farmácias, nem mercearias", lembra. A feira só tinha seis barracas; esgoto e água encanada só viriam no final da década.
Até há pouco tempo, o bairro nem se chamava Moema, mas Indianópolis, numa homenagem, sem nenhum motivo relevante, à cidade norte-americana Indianápolis. Foi na casa de Lygia, durante um almoço, que o então prefeito de São Paulo, Jânio Quadros, aceitou o pedido para que o bairro se chamasse como era popularmente conhecido -Moema. Lygia teve de sair dali por um período três anos porque o marido aceitou uma proposta de trabalho em Campinas. Refere-se a esse período como a um "exílio".
Foi a própria Lygia que, incomodada com o sumiço daquele ar provinciano e aconchegante do bairro, liderou a criação da Associação dos Moradores de Moema. Prédios e lojas não paravam de surgir, trazendo congestionamentos. Os aviões a jato, que provocam poluição e barulho, transformaram-se numa das principais fontes de incômodo para os moradores do bairro. A guerra deles é, em especial, contra as aeronaves de modelos mais antigos, que não possuem redutor de ruído.
Mas a batalha de Lygia vai mais longe: ela gostaria de ver proibido o uso de Congonhas pelos jatinhos particulares e sugere para isso o Campo de Marte, em Santana -área que, frequentemente, sofre alagamentos.

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