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URBANIDADE
Guerra contra o aeroporto
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Filha de um funcionário
da então Secretaria de Viação e Obras, a menina Lygia Veras Horta acompanhou as obras
de construção do aeroporto de
Congonhas. Fascinava-se com o
movimento das máquinas de
terraplenagem cor de laranja e
ficava imaginando se algum dia
conseguiria viajar em um avião,
um artefato exótico na São Paulo dos anos 30. Adolescente, gostava de passar por ali sozinha
para ficar pensando na vida.
"Era meu ponto ideal para espantar as tristezas."
Se, naqueles tempos, alguém
lhe fizesse uma previsão de que,
quando adulta, viria a comandar uma guerra contra o aeroporto que tanto a encantava,
certamente riria. "Nunca imaginei que, em algum dia, brigaria
com os aviões de Congonhas",
conta Lygia, hoje com 73 anos.
Lygia tornou-se presidente da
Associação dos Amigos de Moema, bairro onde mora desde
1954. "Quando chegamos, não
havia nada por perto -nem farmácias, nem mercearias", lembra. A feira só tinha seis barracas; esgoto e água encanada só
viriam no final da década.
Até há pouco tempo, o bairro
nem se chamava Moema, mas
Indianópolis, numa homenagem, sem nenhum motivo relevante, à cidade norte-americana
Indianápolis. Foi na casa de
Lygia, durante um almoço, que
o então prefeito de São Paulo, Jânio Quadros, aceitou o pedido
para que o bairro se chamasse
como era popularmente conhecido -Moema. Lygia teve de
sair dali por um período três
anos porque o marido aceitou
uma proposta de trabalho em
Campinas. Refere-se a esse período como a um "exílio".
Foi a própria Lygia que, incomodada com o sumiço daquele
ar provinciano e aconchegante
do bairro, liderou a criação da
Associação dos Moradores de
Moema. Prédios e lojas não paravam de surgir, trazendo congestionamentos. Os aviões a jato,
que provocam poluição e barulho, transformaram-se numa
das principais fontes de incômodo para os moradores do bairro.
A guerra deles é, em especial,
contra as aeronaves de modelos
mais antigos, que não possuem
redutor de ruído.
Mas a batalha de Lygia vai
mais longe: ela gostaria de ver
proibido o uso de Congonhas pelos jatinhos particulares e sugere
para isso o Campo de Marte, em
Santana -área que, frequentemente, sofre alagamentos.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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