São Paulo, quinta, 19 de março de 1998

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DESMORONAMENTO
Deputado pode ser acusado de falsidade ideológica por ter usado nome falso em hotel no Rio
Naya se complica em depoimento, diz relator

Juca Varella/Folha Imagem
O deputado Sérgio Naya (sem partido-MG), em depoimento ontem na CCJ


DENISE MADUEÑO


ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília

A situação do deputado Sérgio Naya (sem partido-MG) se complicou depois de seu depoimento ontem na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). Ele não conseguiu derrubar a acusação de falta de decoro parlamentar.
O depoimento do parlamentar poderá gerar mais uma acusação contra ele: de falsidade ideológica. Naya declarou à comissão que se hospedou com nome falso em hotel do Rio de Janeiro.
"Isso será abordado em meu parecer", afirmou o relator do processo, deputado Marconi Perillo (PSDB-GO). Naya disse ter usado o nome Marco Polo para fugir de possíveis sequestradores.
A fita entregue pela defesa do próprio deputado, exibida após o depoimento de Naya, negou as declarações que o parlamentar havia acabado de fazer à comissão e comprometeu a sua tese principal: a de que a reunião com os vereadores teria sido informal, como um bate-papo.
A gravação mostra o deputado sentado em cadeira de uso dos vereadores, no plenário da Câmara Municipal. A maioria dos 15 vereadores estava presente e todos usavam os microfones.
O desmentido que Naya afirmou que fez, após ter declarado aos vereadores que falsificara assinatura de um governador de Minas Gerais, não aparece na fita de vídeo, também piorando a defesa do parlamentar.
"Houve forte desqualificação das testemunhas e da defesa. Ficou claro pelo vídeo que a reunião foi no plenário da Câmara", afirmou o deputado Luiz Máximo (PSDB-SP).
Naya, alvo de processo de cassação pela Câmara, é acusado de falta de decoro parlamentar por ter declarado que cometeu irregularidades em reunião com vereadores de Três Pontas (MG).
No depoimento, que durou três horas e 20 minutos, o deputado insistiu que tivesse feito uma brincadeira ao afirmar que falsificou assinaturas. "Sou um bravateiro. Jamais falsifiquei qualquer assinatura."
Para tentar justificar suas declarações, Naya disse ainda que havia tomado um pouco de uísque depois de ingerir seis remédios para controlar problemas cardíacos. "Tomei os seis comprimidos de uma vez. Bebi nem uma dose de uísque. Fiquei meio eufórico e não sei, deu essa..."
O deputado disse estar sendo vítima de uma "avalanche". "Outras obras caíram no Rio de Janeiro, São Paulo, Belém. Um avião caiu e matou cem pessoas. ninguém bloqueou bens de ninguém. Covardia o que estão fazendo. É uma avalanche contra mim. Minha irmã tem 1% da empresa e bloquearam os bens dela", afirmou.
No depoimento, Naya entrou em contradição com os depoimentos de suas testemunhas de defesa. Ao contrário do que disseram à CCJ, Naya negou que tivesse visto duas câmeras de vídeo registrando a reunião. Ele declarou que viu apenas o cinegrafista da TV Cidade, de sua propriedade.



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