São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2006

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BARBARA GANCIA

Igreja Católica também é culpada

"Aceita uma pizza?"
"Não, obrigado, doutor. Prefiro um X-picanha."
Haja sal de fruta para digerir a conversa ocorrida, no último sábado, entre o delegado-geral do Deic, Godofredo Bittencourt, e o chefe do PCC, o Marcola.
Depois de lamber a maionese do X-picanha dos beiços, Marcola informou ao dr. Bittencourt que pretendia matá-lo. E ainda enfeitou: "Eu posso entrar numa delegacia e matar um policial, mas um policial não pode entrar na cadeia e me matar, pois é obrigação do Estado me proteger".
Passada a onda de ataques e reestabelecido um mínimo de ordem no Estado, será que a classe média vai esquecer da queimação no esôfago, da ânsia de vômito e do gosto de podridão provocados pelo sanduíche do Marcola? Ou, como as enchentes de verão que só dão o que falar em dias de temporal, os ataques do PCC serão encarados pela população que não vive na periferia como um problema efêmero e, até a próxima transferência de presos de alta periculosidade ao presídio de Presidente Bernardes, não se fala mais nisso?
Em entrevista à Folha, o governador Cláudio Lembo disse que a culpa pelos ataques é da mentalidade da minoria branca. O presidente Lula, por sua vez, afirma que o problema começa na educação. Não me atrevo a discordar. Mas vale lembrar que a desigualdade também é fruto da falta de planejamento familiar, cuja inexistência continua a ser amplamente fomentada pela digníssima senhora Igreja Católica.
A saber: em 2000, John J. Donohue, da Escola de Direito de Stanford, e Steven D. Levitt, do Departamento de Economia da Universidade de Chicago, produziram "O Impacto do Aborto Legalizado sobre o Crime", um estudo mostrando que, nos EUA, o aborto legalizado contribuiu para reduzir o crime em até 50%. A tese é a de que filhos não desejados e/ou de mães solteiras são mais negligenciados e sofrem abusos maiores. Conseqüentemente, têm mais chances de se envolver com a criminalidade.
Só em São Paulo, são 3,4 milhões de jovens entre 15 e 24 anos, dos quais 950 mil não estudam ou trabalham. No Brasil todo, esse número sobe para 7 milhões de jovens sem nenhuma atividade produtiva. Some a isso uma geração de políticos que emergiu da ditadura com asco da autoridade policial e um poder público que não consegue nem sequer cumprir metas de saneamento básico e você terá a bomba atômica prestes a explodir que não saiu das manchetes da CNN e da BBC ao longo da semana.

QUALQUER NOTA

Coito interrompido Alô, Gilberto Kassab! Por favor, responda: por que o planetário do Ibirapuera continua fechado? A população sabe que o prédio foi restaurado e que equipamentos adquiridos da ótica alemã Carl Zeiss já estão empacotados aguardando embarque para o Brasil. Vai rolar, senhor prefeito?

Alckmin ao forno
Perguntar não ofende: Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Tasso Jereissati e Aécio Neves estão reunidos em Nova York para trocar receitas à base de chuchu ou para não ter de explicar a falência da segurança pública de São Paulo?

E-mail barbara@uol.com.br
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