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GUERRA URBANA /ESTADO
Governador diz que é uma honra administrar São Paulo, mas que ataques lhe trouxeram um custo emocional muito grande
Lembo pede a Deus que governo acabe logo
DA REPORTAGEM LOCAL
Após uma semana de crise, o
governador de São Paulo, Cláudio
Lembo (PFL), fez um desabafo no
qual disse desejar que seu governo, que ainda tem mais sete meses
e meio, acabe logo.
A frase foi dita ao final de um
discurso em um evento sobre
educação no Palácio dos Bandeirantes. "Vamos trabalhar muito
juntos, Estado e prefeitura, nesses
oito meses que restam, graças a
Deus, para melhorar a situação."
O público presente (cerca de
cem professores, o prefeito de São
Paulo, Gilberto Kassab, e assessores políticos) e ele próprio deram
risada, após Lembo falar "graças a
Deus". Questionado por jornalistas, momento depois, explicou:
"Falei isso porque Deus há de me
ajudar para que o tempo passe depressa [até o final do mandato]".
Eleito como vice-governador,
Lembo assumiu em março deste
ano após Geraldo Alckmin
(PSDB) renunciar ao cargo para
disputar a eleição presidencial.
O pefelista foi questionado se
deseja se livrar das responsabilidades do cargo. "Sou homem de
coragem. É uma honra governar
São Paulo. Mas você há de admitir
que essa honra me teve um custo
emocional muito grande", afirmou. Em entrevista publicada na
edição de ontem da Folha, Lembo
culpou a "elite branca" pela violência. Disse que a burguesia precisa deixar de ser cínica e de explorar a sociedade, abrindo a bolsa para reduzir a miséria.
Ontem, questionado se teme ser
marcado como o governador que
passou pela maior crise de segurança de São Paulo, respondeu: "É
uma marca de quem foi afirmativo, foi transparente, contei sempre a verdade e preservei os direitos humanos nos limites quase
impossíveis dos acontecimentos.
Portanto, saio [no fim do ano]
com a marca de quem teve a coragem de assumir a crise e procurou
dirimi-la com coragem".
Ele voltou a negar que tenha havido acordo com os líderes do
PCC para a redução de ataques e
rebeliões nos presídios. E não
aceitou a pergunta de um repórter, que lhe questionou por que o
PSDB não conseguiu, após 12
anos de governo, resolver os problemas de segurança do Estado.
"Culpo a realidade social brasileira. É muito difícil reestruturar
os sistemas de defesa de São Paulo, uma sociedade muito flutuante, [onde houve] um êxodo rural
muito grande", disse.
Nota 10
Lembo deu "nota dez, com louvor" para a cúpula da polícia paulista durante a crise. Até o fechamento desta edição, a polícia diz
ter matado 107 suspeitos e prendido 124 desde que o PCC iniciou os
ataques, na última sexta.
"Só tenho satisfação com a cúpula da polícia. Foi uma equipe
notável. Mostrou um grau de informação que, confesso, me surpreendeu", disse, após ser questionado por que não foi possível
evitar mortes, mesmo a polícia
tendo informações sobre possíveis ataques do PCC 20 dias antes.
E negou os rumores de que cogita demitir os secretários da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, e da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho. "Se quiserem, vão ficar."
Apesar de o Estado não divulgar
a lista e a ficha criminal dos mortos em confronto com a polícia,
Lembo pediu "tranqüilidade".
"Serão divulgados. Quando os inquéritos estiverem todos instalados, serão divulgados." Há previsão? "São muitos, mas em pouco
tempo estarão prontos. Ela [a polícia] quer fazer o mais depressa
possível [os inquéritos], mas tenho que respeitar a estrutura burocrática e legal. Não posso violar
a lei e dizer: faça rápido e de qualquer jeito."
(FABIO SCHIVARTCHE)
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