São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2006

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GUERRA URBANA /GOVERNO

Comandante-geral da Polícia Militar afirma que não houve excessos e que todas as mortes ocorreram em situação de confronto

Polícia não matou inocentes, diz coronel

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

O comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, coronel Elizeu Eclair Teixeira Borges, afirma que nenhum dos mortos em confronto com a polícia desde o início dos ataques do PCC, na sexta-feira passada, era inocente. "Não há provas do contrário", diz.
Questionado se entre as 107 mortes houve excessos da polícia, o comandante afirma: "Ainda não. Todas as mortes aconteceram em contra-ataques da polícia. Está claro nas ocorrências".
Em entrevista à Folha, na tarde de ontem, o coronel diz que não haverá novos ataques neste final de semana, que 70% dos mortos pela polícia têm uma longa ficha criminal e que concorda com a não divulgação, por ora, dos boletins de ocorrência com nome e detalhes das mortes -"para não atrapalhar a investigação".
Há 33 anos na PM, na qual já foi bombeiro e cuidou do trânsito, o paulista de 51 anos, natural de Parapuã, também dá sua opinião sobre o massacre do Carandiru, no qual 111 presos foram mortos. Leia trechos da entrevista.
 

Folha - Haverá novos ataques neste final de semana?
Elizeu Eclair Teixeira Borges -
Minha análise é de um profissional de polícia. Não faço análise política para enganar ninguém. Estamos observando uma redução dos eventos [criminosos]. Os recentes são localizados, não uma onda como nos primeiros dias. Hoje [ontem], durante o dia, não houve nenhuma ação. Mas o pessoal agora está confundindo. Temos ocorrências normais numa metrópole com mais de 10 milhões de habitantes.

Folha - Então qual é a recomendação da polícia para a população?
Eclair -
Vida absolutamente normal. Temos um controle do terreno absoluto.

Folha - A Folha conversou nos últimos dias com familiares, amigos e vizinhos de algumas das vítimas que reclamam da atuação policial. Dizem que ocorreram assassinatos de pessoas inocentes pela polícia. Como o senhor vê isso?
Eclair -
De maneira alguma. Tenho controle de caso por caso. E posso lhe afirmar que pelos nossos levantamentos quase 70% [dos mortos] têm uma longa ficha criminal. Temos uma meia dúzia desses que saíram [em indulto] no Dia das Mães. Em cada caso temos a ocorrência, a explicação, o boletim de ocorrência.

Folha - E por que isso não é divulgado para a imprensa?
Eclair -
Inicialmente, eu tinha a idéia de divulgar. Mas depois os órgãos de inteligência me convenceram do contrário.

Folha -Como?
Eclair -
Mostrando fatos. Vamos dar um exemplo. O João da Silva [exemplo fictício] que morreu e tal, na hora em que entrou no sistema da polícia, apareceu que ele pertencia a um bando de 5 ou 6. Então, não interessa publicar agora, porque na realidade esse trabalho de rua [o enfrentamento] é o primeiro trabalho. O segundo é o que chamamos de verificar o bando. Na hora que você publica, o bando vai fugir. Até acredito que, num futuro não muito distante, na hora em que isso estiver bem encaminhado, isso tem que ser mostrado.

Folha - Quando?
Eclair -
Quando o bando já estiver identificado, preso.

Folha - Há o risco de algum inocente ter morrido em confronto com a polícia?
Eclair -
Não vejo por esse prisma. Se alguém tem alguma suspeita, venha até a Corregedoria, vamos pôr no papel e vamos convidar o Ministério Público para acompanhar. Não queremos esconder nada. E, se cometeu alguma ilegalidade, vai pagar.

Folha - Não ocorreram excessos?
Eclair -
Ainda não. Todas as mortes aconteceram nos contra-ataques da polícia. Está claro nas ocorrências.

Folha - Mas a imprensa não teve acesso às ocorrências.
Eclair -
É isso que causa desconfiança. Uma hora, num futuro não muito distante, vai ter que mostrar isso. Os inquéritos têm 30 dias para ir à Justiça, daí são abertos, e você tem acesso.

Folha - Há quem compare os mortos pela polícia nesta semana [107] com o massacre do Carandiru [com 111 presos mortos, em 1992].
Eclair -
De jeito nenhum. E olha que sou um crítico do Carandiru.

Folha - A polícia errou naquele momento?
Eclair -
Sou um crítico do modus operandis daquela operação.

Folha - Houve excessos?
Eclair -
Não, não houve. Houve falta de planejamento, falta de técnica na entrada, falta de negociação. Mas não vem colocar: comandante aprova Carandiru. Não vem com isso daí, hein.

Folha - Só perguntei sua opinião.
Eclair -
Eu não tenho opinião sobre o Carandiru. Mas é muito fácil falar sem ter estado lá.


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