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GUERRA URBANA /GOVERNO
Comandante-geral da Polícia Militar afirma que não houve excessos e que todas as mortes ocorreram em situação de confronto
Polícia não matou inocentes, diz coronel
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
O comandante-geral da Polícia
Militar de São Paulo, coronel Elizeu Eclair Teixeira Borges, afirma
que nenhum dos mortos em confronto com a polícia desde o início
dos ataques do PCC, na sexta-feira passada, era inocente. "Não há
provas do contrário", diz.
Questionado se entre as 107
mortes houve excessos da polícia,
o comandante afirma: "Ainda
não. Todas as mortes aconteceram em contra-ataques da polícia.
Está claro nas ocorrências".
Em entrevista à Folha, na tarde
de ontem, o coronel diz que não
haverá novos ataques neste final
de semana, que 70% dos mortos
pela polícia têm uma longa ficha
criminal e que concorda com a
não divulgação, por ora, dos boletins de ocorrência com nome e
detalhes das mortes -"para não
atrapalhar a investigação".
Há 33 anos na PM, na qual já foi
bombeiro e cuidou do trânsito, o
paulista de 51 anos, natural de Parapuã, também dá sua opinião sobre o massacre do Carandiru, no
qual 111 presos foram mortos.
Leia trechos da entrevista.
Folha - Haverá novos ataques
neste final de semana?
Elizeu Eclair Teixeira Borges - Minha análise é de um profissional
de polícia. Não faço análise política para enganar ninguém. Estamos observando uma redução
dos eventos [criminosos]. Os recentes são localizados, não uma
onda como nos primeiros dias.
Hoje [ontem], durante o dia, não
houve nenhuma ação. Mas o pessoal agora está confundindo. Temos ocorrências normais numa
metrópole com mais de 10 milhões de habitantes.
Folha - Então qual é a recomendação da polícia para a população?
Eclair - Vida absolutamente normal. Temos um controle do terreno absoluto.
Folha - A Folha conversou nos últimos dias com familiares, amigos
e vizinhos de algumas das vítimas
que reclamam da atuação policial.
Dizem que ocorreram assassinatos
de pessoas inocentes pela polícia.
Como o senhor vê isso?
Eclair - De maneira alguma. Tenho controle de caso por caso. E
posso lhe afirmar que pelos nossos levantamentos quase 70%
[dos mortos] têm uma longa ficha
criminal. Temos uma meia dúzia
desses que saíram [em indulto]
no Dia das Mães. Em cada caso temos a ocorrência, a explicação, o
boletim de ocorrência.
Folha - E por que isso não é divulgado para a imprensa?
Eclair - Inicialmente, eu tinha a
idéia de divulgar. Mas depois os
órgãos de inteligência me convenceram do contrário.
Folha -Como?
Eclair - Mostrando fatos. Vamos
dar um exemplo. O João da Silva
[exemplo fictício] que morreu e
tal, na hora em que entrou no sistema da polícia, apareceu que ele
pertencia a um bando de 5 ou 6.
Então, não interessa publicar agora, porque na realidade esse trabalho de rua [o enfrentamento] é
o primeiro trabalho. O segundo é
o que chamamos de verificar o
bando. Na hora que você publica,
o bando vai fugir. Até acredito
que, num futuro não muito distante, na hora em que isso estiver
bem encaminhado, isso tem que
ser mostrado.
Folha - Quando?
Eclair - Quando o bando já estiver
identificado, preso.
Folha - Há o risco de algum inocente ter morrido em confronto
com a polícia?
Eclair - Não vejo por esse prisma.
Se alguém tem alguma suspeita,
venha até a Corregedoria, vamos
pôr no papel e vamos convidar o
Ministério Público para acompanhar. Não queremos esconder nada. E, se cometeu alguma ilegalidade, vai pagar.
Folha - Não ocorreram excessos?
Eclair - Ainda não. Todas as mortes aconteceram nos contra-ataques da polícia. Está claro nas
ocorrências.
Folha - Mas a imprensa não teve
acesso às ocorrências.
Eclair - É isso que causa desconfiança. Uma hora, num futuro
não muito distante, vai ter que
mostrar isso. Os inquéritos têm 30
dias para ir à Justiça, daí são abertos, e você tem acesso.
Folha - Há quem compare os mortos pela polícia nesta semana [107]
com o massacre do Carandiru [com
111 presos mortos, em 1992].
Eclair - De jeito nenhum. E olha
que sou um crítico do Carandiru.
Folha - A polícia errou naquele
momento?
Eclair - Sou um crítico do modus
operandis daquela operação.
Folha - Houve excessos?
Eclair - Não, não houve. Houve
falta de planejamento, falta de técnica na entrada, falta de negociação. Mas não vem colocar: comandante aprova Carandiru. Não
vem com isso daí, hein.
Folha - Só perguntei sua opinião.
Eclair - Eu não tenho opinião sobre o Carandiru. Mas é muito fácil
falar sem ter estado lá.
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