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GUERRA URBANA /PRESÍDIOS
É o que dizem a Anatel e as operadoras de celulares sobre ordem da Justiça para impedir a transmissão dentro dos presídios
Suspender sinal pode não ser 100% eficaz
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Operadoras de telefonia celular
e Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) avaliam que impedir a transmissão de sinais nos
presídios é uma medida complexa, que vai afetar a população próxima e não há 100% de garantia de
que detentos não usem o celular.
O governo federal, um dia após
anunciar medidas para o problema, também admitiu ontem dificuldades para implantá-las. Anteontem, a Justiça de São Paulo
ordenou que sejam suspensos os
sinais dentro de seis penitenciárias ontem estão líderes do crime
organizado.
"A questão da radiofreqüência é
complexa. O que vai ser feito é verificar as situações específicas desses presídios, não reduzindo a comunicação para a população. É
uma equação difícil de se fechar",
admitiu Bruno Ramos, gerente de
Regulamentação dos Serviços
Móveis da Anatel. "Se os presídios
estiverem em localizações favoráveis, dá para cumprir bem. Se tiver em uma situação desfavorável, é mais complexo", avaliou.
De acordo com o técnico da
agência, além dos celulares, os
presos podem usar telefones fixos
que usam a tecnologia sem fio
(chamados tecnicamente de WLL
- "wireless local loop", em inglês). "Tem que tentar diminuir a
entrada de telefone", avalia.
Ontem, na Anatel, além das
operadoras, estavam reunidos representantes da Nextel (que usa o
sistema "trunking", parecido com
rádio) e da Embratel (que oferece
o telefone fixo sem fio).
Para o presidente-executivo da
Acel (Associação Nacional das
Operadoras Celulares), Emerson
Costa, por ser "um fato novo", o
desligamento de torres para bloquear os sinais nos presídios, a
princípio, não tem garantia total
de funcionamento. "Pode ser que
algum sinal ou outro pegue, não é
100%. Nós vamos ver com a experiência de campo", disse.
Segundo ele, a decisão judicial
será cumprida, mas a população
próxima às prisões deve ser afetada. "Vamos cumprir com o menor prejuízo possível [aos clientes], mas não dá para garantir."
Governo
O governo anunciou que o decreto ou medida provisória a ser
editado para tratar da suspensão
dos sinais em prisões deve incluir
propostas para evitar que os aparelhos entrem nas unidades. "É
um problema que começa sobretudo com o absurdo de se ter telefone celular nas penitenciárias. Se
você resolve essa questão, não
tem que desligar torre. Acho que a
questão é por aí", disse o ministro
Hélio Costa (Comunicações),
após se reunir com o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
"Não é justo que você sacrifique
uma população de uma cidade inteira para poder impedir que a telefonia celular chegue às penitenciárias. Há lugares onde a penitenciária está no centro da cidade,
cidade do interior onde, se você
bloqueia a ERB [estação radio-base, ou torre], você bloqueia a cidade inteira", afirmou.
Costa admitiu que há dificuldades para determinar as medidas
que serão tomadas. "Esbarra em
uma série de problemas legais",
disse. "Para o governo indicar
uma solução, tem que ser a melhor, não pode ser uma solução
paliativa, não pode ser uma coisa
temporária. Essas são as análises
que estão sendo feitas pelo presidente, pelos ministros da Justiça e
das Comunicações", afirmou.
"Ainda não decidimos [a medida]. Está sendo estudado."
Antena
Isso não significa, porém, que
medidas práticas para evitar a comunicação por celular nos presídios não serão adotadas. Para
Costa, a melhor medida é o desligamento, ou enfraquecimento do
sinal, de torres de transmissão.
"Houve um perfeito entendimento entre as operadoras e o
pessoal da Anatel no sentido de
que o desligamento de algumas
antenas é a solução emergencial",
disse. "Nós todos estamos chegando à conclusão de que o bloqueio é o menos eficiente."
Cada antena recebe e transmite
sinas para três setores. Assim, é
possível enfraquecer um setor específico, voltado para uma prisão.
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