São Paulo, Quarta-feira, 19 de Maio de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Escritor foi censurado e perseguido no regime militar

da Reportagem Local

Alfredo de Freitas Dias Gomes nasceu em Salvador, em 19 de outubro de 1922, mas aos 13 anos já estava no Rio de Janeiro, de onde construiu sua carreira.
Dias Gomes era também contista, romancista e autor de novelas e minisséries para TV, mas foi a carreira no teatro que sempre o motivou e que, ultimamente, também lhe causava desgostos.
Em 1942, estreou profissionalmente no teatro, com "Pé-de-Cabra", que acabou censurada.
Durante os anos 40, conciliou os estudos de direito (curso que não terminou), a montagem de espetáculos para Procópio Ferreira (com quem assinou contrato de exclusividade), a autoria dos primeiros romances e as adaptações de peças, romances e contos para rádios, como Panamericana, Difusora, América, Tupi e outras.
Em 1950, Dias Gomes casou-se com a também autora de telenovelas Janete Clair, pseudônimo de Janete Emmer, com quem viveu até 1983, quando ela morreu.
Os 33 anos em que viveu com Janete Clair foram os mais intensos e produtivos de sua carreira. Em 1959, por exemplo, escreveu "O Pagador de Promessas", peça que estreou no ano seguinte no TBC, sob a direção de Flávio Rangel. O texto ganharia fama mundial dois anos depois ao ser adaptado para cinema, sob direção de Anselmo Duarte (leia texto abaixo).
Dois anos mais tarde, começa a ser perseguido politicamente, principalmente por sua opção pública pelo comunismo. Neste ano, foi demitido do cargo de diretor artístico da rádio Nacional e passa a ter trabalhos censurados.
"Houve o caso famoso de "O Berço do Herói", que foi proibida pelo Carlos Lacerda. A mesma peça eu adaptei para a TV como "Roque Santeiro", que também foi proibida. Foram casos traumatizantes", disse Dias Gomes em entrevista à Folha, no ano passado.
O dramaturgo, porém, nunca culpou a Rede Globo pelos cortes ou proibições de seus trabalhos.
"Nenhum texto foi alterado pela Globo, apenas pela censura, que era o grande problema. Várias vezes a censura pediu a minha cabeça e de outros comunistas, mas a Globo nunca deu. A emissora sempre me prestigiou e por isso eu estou nela até hoje", disse.
A perseguição política nos anos 60 e 70 terminaram por lhe render uma nova fonte de renda. Além dos direitos autorais, Dias Gomes recebia mensalmente cerca de R$ 13 mil do INSS. A aposentadoria era paga em consequência da Lei da Anistia, de 1979, e da Constituição de 1988.
A demissão da rádio Nacional foi política, feita com base no AI-1 (Ato Institucional nº 1), assinado pelo presidente Castello Branco.
Em 1969, é contratado pela Rede Globo, onde escreve inúmeros sucessos, como "Verão Vermelho" (1969), "Assim na Terra como no Céu" (1970), "Bandeira 2" (1972), "O Bem-Amado" (1973), "Roque Santeiro" (1975; censurada, só estreou em 1985), "Saramandaia" (1976), "Sinal de Alerta" (1978) e os 20 primeiros capítulos de "Mandala" (1987).
Em 1989, casou-se oficialmente com Maria Bernadete (depois de cinco anos de relacionamento).
Dois anos depois, foi eleito para a cadeira 21 da Academia Brasileira de Letras. No ano passado, lançou sua autobiografia: "Apenas um Subversivo - Autobiografia".
Nos últimos dois anos, Dias Gomes acalentou o sonho de produzir uma peça inédita de sua autoria e de ver remontado o maior sucesso de sua carreira, "O Pagador de Promessas", que ganharia sua primeira montagem brasileira ao ar livre, sob direção de Kátia Brito.
Dias Gomes aprovou a idéia e foi um de seus maiores incentivadores: atualizou o texto, sugeriu atores e atrizes para montagem e chegou até a viajar a Brasília com a diretora em busca de patrocínio (ainda não fechado).
Seu desejo era ver Luís Melo e Paulo Betti nos papéis dos protagonistas Zé-do-Burro e Bonitão. Simultaneamente, tentava viabilizar a montagem de uma peça inédita, mas sentia falta de um produtor. (CELSO FIORAVANTE)


Colaborou o Banco de Dados

Texto Anterior: Repercussão
Próximo Texto: "Pagador" é contra intolerância
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.