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Escritor foi censurado e perseguido no regime militar
da Reportagem Local
Alfredo de Freitas Dias Gomes
nasceu em Salvador, em 19 de outubro de 1922, mas aos 13 anos já
estava no Rio de Janeiro, de onde
construiu sua carreira.
Dias Gomes era também contista, romancista e autor de novelas e
minisséries para TV, mas foi a carreira no teatro que sempre o motivou e que, ultimamente, também
lhe causava desgostos.
Em 1942, estreou profissionalmente no teatro, com "Pé-de-Cabra", que acabou censurada.
Durante os anos 40, conciliou os
estudos de direito (curso que não
terminou), a montagem de espetáculos para Procópio Ferreira (com
quem assinou contrato de exclusividade), a autoria dos primeiros
romances e as adaptações de peças, romances e contos para rádios, como Panamericana, Difusora, América, Tupi e outras.
Em 1950, Dias Gomes casou-se
com a também autora de telenovelas Janete Clair, pseudônimo de Janete Emmer, com quem viveu até
1983, quando ela morreu.
Os 33 anos em que viveu com Janete Clair foram os mais intensos e
produtivos de sua carreira. Em
1959, por exemplo, escreveu "O
Pagador de Promessas", peça que
estreou no ano seguinte no TBC,
sob a direção de Flávio Rangel. O
texto ganharia fama mundial dois
anos depois ao ser adaptado para
cinema, sob direção de Anselmo
Duarte (leia texto abaixo).
Dois anos mais tarde, começa a
ser perseguido politicamente,
principalmente por sua opção pública pelo comunismo. Neste ano,
foi demitido do cargo de diretor
artístico da rádio Nacional e passa
a ter trabalhos censurados.
"Houve o caso famoso de "O Berço do Herói", que foi proibida pelo
Carlos Lacerda. A mesma peça eu
adaptei para a TV como "Roque
Santeiro", que também foi proibida. Foram casos traumatizantes",
disse Dias Gomes em entrevista à
Folha, no ano passado.
O dramaturgo, porém, nunca
culpou a Rede Globo pelos cortes
ou proibições de seus trabalhos.
"Nenhum texto foi alterado pela
Globo, apenas pela censura, que
era o grande problema. Várias vezes a censura pediu a minha cabeça e de outros comunistas, mas a
Globo nunca deu. A emissora sempre me prestigiou e por isso eu estou nela até hoje", disse.
A perseguição política nos anos
60 e 70 terminaram por lhe render
uma nova fonte de renda. Além
dos direitos autorais, Dias Gomes
recebia mensalmente cerca de R$
13 mil do INSS. A aposentadoria
era paga em consequência da Lei
da Anistia, de 1979, e da Constituição de 1988.
A demissão da rádio Nacional foi
política, feita com base no AI-1
(Ato Institucional nº 1), assinado
pelo presidente Castello Branco.
Em 1969, é contratado pela Rede
Globo, onde escreve inúmeros sucessos, como "Verão Vermelho"
(1969), "Assim na Terra como no
Céu" (1970), "Bandeira 2" (1972),
"O Bem-Amado" (1973), "Roque
Santeiro" (1975; censurada, só estreou em 1985), "Saramandaia"
(1976), "Sinal de Alerta" (1978) e
os 20 primeiros capítulos de
"Mandala" (1987).
Em 1989, casou-se oficialmente
com Maria Bernadete (depois de
cinco anos de relacionamento).
Dois anos depois, foi eleito para
a cadeira 21 da Academia Brasileira de Letras. No ano passado, lançou sua autobiografia: "Apenas
um Subversivo - Autobiografia".
Nos últimos dois anos, Dias Gomes acalentou o sonho de produzir uma peça inédita de sua autoria
e de ver remontado o maior sucesso de sua carreira, "O Pagador de
Promessas", que ganharia sua primeira montagem brasileira ao ar
livre, sob direção de Kátia Brito.
Dias Gomes aprovou a idéia e foi
um de seus maiores incentivadores: atualizou o texto, sugeriu atores e atrizes para montagem e chegou até a viajar a Brasília com a diretora em busca de patrocínio
(ainda não fechado).
Seu desejo era ver Luís Melo e
Paulo Betti nos papéis dos protagonistas Zé-do-Burro e Bonitão.
Simultaneamente, tentava viabilizar a montagem de uma peça inédita, mas sentia falta de um produtor.
(CELSO FIORAVANTE)
Colaborou o Banco de Dados
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