São Paulo, Quarta-feira, 19 de Maio de 1999
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TIROTEIO VERBAL
Em resposta, prefeito de São Paulo diz que seu antecessor lembra o senhor de "Casa Grande e Senzala"
Maluf diz para Pitta acordar cedo e trabalhar

ROGÉRIO GENTILE
da Reportagem Local

O tiroteio verbal entre o ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) e seu sucessor, Celso Pitta (ex-PPB), recomeçou ontem minutos após Maluf desembarcar no aeroporto de Cumbica, às 6h.
Maluf afirmou que Pitta precisa "começar a trabalhar" -"acordar cedo e dormir tarde"- para escapar ao impeachment e recuperar o respeito da população.
"Quando era meu secretário das Finanças, ele (Pitta) funcionava. Debaixo de mim, todos funcionam porque eu cobro. Agora, quando se viu sozinho, parece que ele não teve o mesmo pulso, a mesma vontade e dinamismo", disse Maluf.
Em resposta, Pitta disse que o ex-prefeito lembra um senhor feudal e que "ele deveria respeitar, pelo menos neste mês da abolição, a raça negra" (leia texto abaixo).
Na entrevista, concedida no saguão do aeroporto, Maluf respondeu a algumas perguntas em tom professoral e irônico, como estivesse se dirigindo diretamente ao prefeito paulistano.
"Pitta, não adianta colocar culpa nos outros. Comece a trabalhar. Comece a lutar. Veja dentro de si mesmo o que está errado e corrija", afirmou o ex-prefeito.
Maluf passou cerca de duas semanas na Europa. Esteve em Paris e no principado de Mônaco, onde no último domingo assistiu ao Grande Prêmio de Fórmula 1.
Ele usou o fato de estar fora do país como argumento para tentar provar que não está trabalhando em favor da cassação de Pitta, como o próprio prefeito acusa.
"Enquanto vocês pensavam no impeachment, eu estava torcendo na corrida pelo Rubinho (Barrichello)", afirmou.
O presidente do PPB disse que Pitta mente ao dizer que ele está articulando a sua queda. "Pitta recebeu essa informação de alguém mal informado. Se repete, está mentindo", afirmou.
Ao ser questionado se estava chamando Pitta de mentiroso, Maluf respondeu: "Mentiroso é quem mente todos os dias. Ele está mentindo nesse caso. Não acho que seja compulsoriamente mentiroso".
Maluf deu a entender também que, se realmente quisesse derrubar Celso Pitta, o impeachment seria aprovado com facilidade. "Tanto não estou por trás disso que o prefeito tem o apoio de quase todo o PPB. Se estivesse, pode ter certeza que o escore seria outro."
Ele disse que os parlamentares estão liberados para votar de acordo com suas consciências. "Não sou contra nem a favor. Nesse problema eu não me envolvo."

Disputa
Maluf e Pitta começaram a entrar em conflito na campanha eleitoral de 98, quando o ex-prefeito disputou e perdeu para Mário Covas (PSDB) o governo do Estado.
Por causa dos baixos índices de popularidade de Pitta, Maluf tentou desvincular a sua imagem da do prefeito fazendo críticas a ele no horário eleitoral gratuito.
O rompimento definitivo ocorreu em março, quando Pitta deixou o PPB após Maluf declarar que não tinha nada a ver com a atual administração -deixando toda a responsabilidade sobre as irregularidades denunciadas na prefeitura nas costas do atual prefeito.
Ontem, Maluf voltou a dizer que não tem nada a ver com o governo. "Desde que deixei a prefeitura, estive apenas uma vez no Palácio das Indústrias para dar um abraço no Edevaldo (Alves da Silva, secretário de Governo de Maluf e de Pitta na primeira metade da gestão)."
Maluf disse também que acabou com os fantasmas da administração pública, ao responder a acusações de que ex-assessores de campanha recebiam salários da prefeitura sem trabalhar.


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