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NA CÂMARA
Em duas horas e meia, vereador chorou 6 vezes
Viscome usa choro, acusa vereadores e pede ajuda a Maluf
Almeida Rocha/Folha Imagem
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Viscome chora ao depor na comissão que analisa a cassação de seu mandato na Câmara Municipal de SP
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OTÁVIO CABRAL
da Reportagem Local
Em duas horas e meia de depoimento, o vereador Vicente Viscome chorou pelo menos seis vezes,
acusou colegas de corrupção e pediu ajuda para provar sua inocência ao prefeito Celso Pitta e ao ex-prefeito Paulo Maluf.
Viscome, preso há 53 dias acusado de concussão e formação de
quadrilha, prestou depoimento na
manhã de ontem à comissão processante que analisa o pedido de
cassação de seu mandato.
O vereador, que foi expulso do
PPB, conseguiu seguir à risca a estratégia da defesa: falar que é inocente, que não existem provas concretas contra ele e tentar emocionar os membros da comissão, que,
antes de tudo, são seus "colegas".
Acompanhado de três advogados e escoltado por dois policiais
militares, Viscome deixou o 29º
DP (Vila Diva, zona sudeste), por
volta das 7h, chegando meia hora
depois à Câmara Municipal.
As primeiras lágrimas saíram
dos olhos do vereador por volta
das 8h, quando os sete membros
da comissão processante chegaram ao plenário Prestes Maia, no
primeiro andar da Câmara, onde
aconteceu o depoimento.
Em fila indiana, os sete parlamentares abraçaram demoradamente Viscome. Quatro dos membros -Paulo Frange, Edivaldo Estima, José Olímpio e Dito Salim-
pertencem ao PPB, partido que
elegeu Viscome. Ele usou isso diversas vezes no depoimento, referindo-se a eles como seus "pares".
Mas até mesmo os dois vereadores de oposição da comissão, Aurélio Nomura (PSDB) e Aldaíza Sposati (PT), abraçaram Viscome antes do depoimento.
Quando começou a responder às
perguntas, Viscome continuou
usando a emoção para influenciar
os vereadores. Por duas vezes, chorou, interrompendo o depoimento. Por diversas vezes, repetiu que é
"muito difícil passar 52 dias na cadeia, lavando a cela e dando comida aos outros detentos". Em outra
ocasião, disse que não imaginava
que fosse trabalhar desde os 8 anos
para, no fim da vida, "ficar preso
injustamente, vendo a família ser
desestruturada".
No final da sessão, quando teve a
palavra para as considerações finais, Viscome apelou para a emoção de seus colegas. "Tenho certeza de que, na hora de votar minha
cassação, é o coração dos meus colegas que vai mandar e eles irão me
absolver." Em seguida, chorou pela quarta vez, interrompendo definitivamente o depoimento.
Após a sessão, em entrevista coletiva, chorou outras duas vezes.
As lágrimas de Viscome comoveram alguns membros da comissão.
Para Dito Salim, a situação mostrou que é muito difícil julgar alguém.
"Sempre fui fiel ao
Maluf. Ele tem
que colocar a mão
na consciência e
vir me ajudar."
O presidente da comissão, Edivaldo Estima, afirmou ter ficado
abalado ao ver o estado emocional
do colega. "Uma situação como essa mexe muito com a gente. Além
de ser humano, o Vicente é um colega. O sangue sobe à cabeça ao vê-lo nessa situação."
Paulo Frange, líder da bancada
do PPB, também se impressionou
com o depoimento. "A reclusão de
52 dias trouxe alterações emocionais visíveis para ele", declarou. "É
muito difícil e constrangedor julgar um colega. Se houver outra comissão processante, vou torcer para não ser sorteado."
Para a petista Aldaíza, o fato de
Viscome manter "relações políticas íntimas" com os vereadores do
PPB influenciou a comissão. "Ele
sensibilizou os parceiros usando a
palavra e a emoção. Essa sensibilidade pode tê-lo ajudado."
Acusações
Mas, ao mesmo tempo que apelava para a amizade, Viscome acusava os colegas de Câmara para se
mostrar como o "bode expiatório
dessa história da máfia".
Segundo Viscome, todas as regionais têm problemas de corrupção, causados por funcionários
que não podem ser controlados
pelos administradores. "Corrupção tem em todas as administrações regionais. A da Penha está pagando o pato", afirmou o vereador.
Ele confirmou que indicava o administrador, mas disse que não tinha poder total. "Eu não nomeei o
regional, eu indiquei. Eu não era
dono da caneta para nomear.
Quem nomeou foi o prefeito."
Viscome afirmou que só perdeu
dinheiro na política, tendo construído todo seu patrimônio de R$
16 milhões antes de entrar na vida
pública. Aproveitou a situação para criticar a ganância dos parlamentares. "Por ganância de espaço, os políticos passam o pé nos colegas e vendem até a mãe. Como
não tenho padrinho forte, estou há
52 dias preso, sem dever nada para
ninguém."
Viscome criticou veladamente o
vereador Toninho Paiva (PFL),
que perdeu a Regional da Penha
para ele. "Tem vereador que teve
60 mil votos na Penha e não se conforma de ter perdido a regional.
Por isso, tentou me derrubar." Paiva não comentou as declarações.
Ajuda
Após o depoimento, em entrevista, Viscome pediu ajuda ao prefeito Celso Pitta e ao ex-prefeito
Paulo Maluf, que, segundo ele, podem ajudar a provar sua inocência.
Os dois foram apontados como
testemunhas de defesa pelo advogado de Viscome, Ademar Gomes,
e devem prestar depoimento até a
semana que vem à comissão.
Segundo ele, Pitta o conhece há
seis anos e sabe que ele sempre foi
"um vereador muito honesto".
Em seguida, chorando muito, Vicente Viscome afirmou ter sido
sempre fiel ao ex-prefeito, apoiando seus projetos na Câmara. Para
ele, Maluf deve por a mão na consciência e ajudá-lo. "Preciso do senhor, Paulo Maluf!", bradou o vereador, pouco antes de ir embora
amparado pelos advogados e por
cinco cabos eleitorais que assistiram ao depoimento usando broches com a inscrição: "Estamos
com Vicente Viscome".
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