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SEGURANÇA
Ministério Público do Rio descobre que criminosos montaram central telefônica para administrar seus negócios
Do presídio, traficante encomenda míssil
Folha Imagem
![](../images/c1906200201.jpg) |
Material telefônico apreendido na penitenciária de segurança máxima de Bangu 1 é exibido pela polícia |
FERNANDA DA ESCÓSSIA
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
De um celular de dentro do presídio fluminense de Bangu 1
-considerado de segurança máxima-, o traficante carioca Marcos Marinho dos Santos, o Chapolim, da quadrilha de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho
Beira-Mar, encomendou um míssil Stinger, usado por grupos terroristas como a Al Qaeda. É o que
mostram fitas com conversas telefônicas divulgadas ontem pelo
Ministério Público Estadual.
As gravações revelam que dentro de Bangu 1 (zona oeste do Rio)
funcionava uma central de telefones pela qual os traficantes administravam seus negócios: compravam armas, drogas, equipamentos de comunicação, controlavam a contabilidade da venda
de entorpecentes e determinavam
assassinatos e punições.
Foi a maior operação de investigação já feita no sistema penal fluminense. Com autorização judicial e apoio da PF (Polícia Federal), o Ministério Público fez, nas
duas últimas semanas, mais de 20
horas de escuta telefônica.
Ontem de manhã, com um
mandado de busca da 1ª Vara Criminal de Bangu, quatro promotores realizaram a busca na prisão.
O governo estadual ficou à margem do trabalho. Até o secretário
estadual da Justiça, Paulo Saboya,
foi barrado quando tentava entrar
em Bangu 1 durante a busca.
Diante da suspeita de conivência de funcionários, a Promotoria
conseguiu judicialmente afastar o
diretor da instituição, Durval Pereira de Melo, e 97 servidores.
Com o apoio de 150 policiais
militares, os promotores apreenderam sete celulares, carregadores, fios e conexões telefônicas,
munição, maconha e facas artesanais, além de fitas de vídeo, listas
de visita e papéis.
A maior parte desse material estava na sala de custódia, onde deveriam ficar guardados objetos de
valor dos presos. Na sala da direção, foi apreendido o fax do presídio. Segundo os promotores, Beira-Mar usava o fax para contatar
seu fornecedor de drogas.
Havia maconha dentro da comida que seria servida aos presos,
além de dois dos sete celulares. Os
presos escondiam os aparelhos de
telefone em preservativos e os
guardavam no cano do esgoto.
O diretor do presídio e os funcionários serão chamados a depor
em inquérito na polícia. "Esse
material não tem pernas, não entrou lá sozinho", disse o delegado
Irineu Barroso, da 34ª DP.
Na solicitação de busca, os promotores Jorge Magno Reis Vidal e
Valéria Videira da Costa afirmam
que Bangu 1 foi transformado em
"verdadeiro escritório central do
crime organizado".
A central telefônica permitia
que vários criminosos conversassem ao mesmo tempo, numa espécie de teleconferência. Segundo
a promotora Mônica Marques,
quem desejasse falar com um preso em Bangu 1 ligaria para uma
central em Minas Gerais, que
transferiria a ligação para o celular no presídio. A central de Minas, diz ela, não foi localizada.
As gravações mostram a ousadia dos criminosos e a ausência de
controle em Bangu 1. Em um trecho, o traficante Chapolim pede, a
um homem que se identifica como Rubinho, de São Paulo, um
bloqueador de detectores de metal e um sistema de comunicação.
Com Rubinho, ele conversa sobre
a compra do míssil Stinger.
As gravações captaram teleconferência entre Beira-Mar, outros
presos de Bangu 1 e um preso de
São Paulo identificado nas fitas
como Leomar, que pode ser Leomar de Oliveira Barbosa, seu braço direito, detido no ano passado
no Paraguai, pela Polícia Federal,
em uma operação conjunta.
Ao ser informado por Leomar
de que só possuía dois celulares,
Beira-Mar pergunta se não haveria funcionários para fornecer
mais aparelhos. Leomar diz que a
fiscalização é severa.
Em outro diálogo, Beira-Mar e
Chapolim avisam a uma mulher
que se identifica como Lia que
matarão toda a família do empresário Leonardo Mendonça, apontado pela CPI do Narcotráfico como traficante. "Só vamos deixar
as crianças", diz Chapolim.
As fitas mostram ainda a atuação de advogados como mensageiros. Com base nas fitas, a juíza
decretou a prisão preventiva do
advogado Hélio Rodrigues de
Macedo, que trabalha para Beira-Mar, detido ontem em Brasília.
A operação no Rio confirma
suspeitas da Promotoria e polícia
de São Paulo de que centrais clandestinas de grupos criminosos estariam ligando cinco Estados
-Rio, São Paulo, Minas Gerais,
Bahia e Espírito Santo.
Após cinco meses de grampos
telefônicos, no último dia 23 houve em São Paulo uma varredura
em todos os presídios fechados.
Numa das fitas, um preso de
São Paulo negocia, por celular, a
troca de armas do PCC (Primeiro
Comando da Capital) por drogas
do CV (Comando Vermelho).
Colaboraram MARIO HUGO MONKEN, da Sucursal do Rio, e ALESSANDRO SILVA, da Reportagem Local
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