São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 2002

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URBANIDADE

Capital do skate

Vincenzo Scarpellini
MARABÁ, AVENIDA IPIRANGA O nome desse velho cinema pode parecer exótico, mas a palavra é tupi: designa os filhos de índios com franceses. Marabá. Nome feliz. Sugere um encontro improvável (embora não impossível, tratando-se de um cinema): a caixa está pálida; seu rosto, meio folgado e meio submisso; na frente dela, de bermudas, porém cerimoniosos, os irmãos Lumière cumprimentam Macunaíma (VINCENZO SCARPELLINI)

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA


N o início da década de 80, George Rotatori, 37 anos, apaixonou-se pelo skate, até então um esporte exótico no Brasil. Anos depois, mais uma paixão: a arquitetura. A mistura das duas paixões fez dele a referência em uma modalidade de design: a de pistas de skate.
É dele, por exemplo, o projeto da Skate House BRZ, na zona sul de São Paulo, a maior pista coberta da América Latina, onde, no domingo passado, ocorreu o Campeonato Brasileiro de Skate. Ele tem encomendas para fazer pistas em todo o país. "A arte está na textura ideal, nas curvas e superfícies perfeitas, sem ondulações", ensina.
No final da década de 70, lembra-se George, a única pista disponível na cidade de São Paulo estava no quintal da casa de dois jovens. "Era só", conta. A primeira pista pública surgiu debaixo de um viaduto. O esporte ganhou a cidade. Das pistas paulistanas, saiu Bob Burnquist, que, ao investir na carreira, mudou-se para a Califórnia e abocanhou o título mundial na categoria vertical. Tal exemplo estimula legiões de adolescentes, que se mostram dispostos a transformar o hobby em profissão e saem correndo atrás de patrocínio.
A mania propagou-se a tal ponto que, segundo pesquisa da Secretaria Municipal de Esportes, o número de skatistas só perde para o de praticantes de futebol, espalhando-se especialmente pela periferia. "Virou uma paixão", comenta Sérgio Marin, responsável pelo projeto de construção de 44 pistas públicas de skate na cidade, um dos atrativos das "estações da juventude"; essas estações pretendem criar áreas de lazer, esporte e cultura.
Como não poderia deixar de ser, logo que se imaginou o projeto, George Rotatori foi chamado. Ele aceitou, mas não esconde suas desconfianças e vai logo dizendo que não quer ver o projeto transformado em peça eleitoral. "Estamos cansados daqueles que usam o skate para se promover politicamente ou que fazem pistas de qualidade duvidosa. O que menos me agrada é trabalhar num projeto que não é interessante para a galera."
George fez do esporte mais um ingrediente do movimento hip hop, marcado pelo rap e pelo uso do grafite para a expressão de uma cultura de solidariedade. Em todos os seus projetos, envolve skatistas para dar-lhes uma profissão.



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