São Paulo, sexta-feira, 19 de junho de 2009

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ANÁLISE

Lista é parte da e-democracia

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Listas de salários de servidores como a divulgada pela Prefeitura de São Paulo resultam do improvável casamento entre conceitos iluministas do século 18 e avanços tecnológicos da década passada. Inscrevem-se em movimentos que atendem por nomes como e-democracia, transparência radical e governo aberto.
A ideia fundamental foi desenvolvida por pensadores como James Madison (1751-1836) e, principalmente, Immanuel Kant (1724-1804), que, denunciando as chamadas "razões de Estado", enfatizaram necessidade de tornar públicas as ações do poder. Para Kant, essa não era apenas uma exigência política, mas também moral. É esse o ponto que marca a passagem do Estado absolutista para o Estado de Direito.
Foi preciso esperar dois séculos até que a revolução na informática fornecesse os meios para radicalizar essa ideia. Cidadãos agora podem acompanhar "on line" a execução orçamentária, fiscalizar salários do setor público e concorrências, entre outras facilidades.
Em princípio, poderiam até tornar-se deputados cibernéticos, aprovando diretamente projetos de lei de seu interesse. Na prática, é claro, as coisas são mais complicadas. Nenhum país chegou a ponto de estabelecer a democracia direta virtual, e existem respeitáveis objeções teóricas quanto à oportunidade de fazê-lo. Seja como for, há experiências interessantes que vale a pena conferir.

Reação corporativa
Embora inédita no Brasil, a iniciativa paulistana pode ser considerada tímida na comparação com outros países. Nos EUA, por exemplo, é possível saber quanto ganha cada funcionário público na imensa maioria dos Estados. São poucas as administrações que divulgam diretamente as listas, mas, por tratar-se de informações públicas, jornais e ONGs as requisitam com base na Foia (a lei que garante acesso a dados) e as colocam na internet.
Foram os países escandinavos, porém, que levaram a prática ao paroxismo. Na Suécia, Noruega e Finlândia, a tradição de transparência é tão forte que as declarações de renda de todos os cidadãos são abertas.
Até onde vai a e-democracia? Difícil dizer. Mas não há muita dúvida de que ela vai avançar, o que faz a grita contra a lista de Kassab soar como uma reação corporativa de fôlego curto.


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