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Em Brasília, parque ignora obra deixada por paisagista
Projeto previa cinema e teatro, que nunca saíram do papel
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
É quase tão complexo quanto
um trabalho arqueológico saber se os jardins e parques de
Brasília assinados por Roberto
Burle Marx (1909-1994) se
apresentam hoje como nos desenhos idealizados por ele.
Seus projetos foram alterados
ou ignorados -alguns criticados pelo próprio artista.
Um exemplo é o Parque da
Cidade, cuja construção não levou em conta boa parte do projeto de Burle Marx. Perto de
sua inauguração, no final dos
anos 70, o paisagista protestou,
em um artigo publicado no
"Jornal de Brasília", contra o
que chamou de "deturpação"
de suas ideias originais.
O texto foi recuperado pela
arquiteta Joana Dias Tanure,
em pesquisa de mestrado realizada na Universidade de Brasília (UnB). "Os prazos políticos
para a inauguração, a falta de
fiscalização adequada e a impossibilidade de acompanhar o
ritmo vertiginoso e irreal da
execução criaram um monstrengo cheio de falhas incompreensões e interpretações
equivocadas", dizia Marx.
O projeto inicial previa, por
exemplo, teatros e cinemas que
nunca saíram do papel. Também pensava a Praça da Fontes
-atualmente abandonada-
como o "coração" do parque,
que deveria ser "destinada a
grandes contingentes humanos
e intenso convívio".
Revitalização
De acordo com Isabela de
Carvalho Ono, sócia do escritório de arquitetura que leva o
nome de Burle Marx no Rio de
Janeiro, os projetos de Brasília
estão "mal cuidados", mas ainda passíveis de revitalização e
recuperação. Esse é o caso, segundo ela, dos jardins do Ministério da Justiça, do Tribunal
de Contas da União e do Itamaraty. "A estrutura dos projetos
está intacta. O problema está
na parte dos plantios".
Um local já revitalizado é
uma praça no Setor Militar Urbano da cidade, conhecida por
esculturas em forma de cristais. Ela foi reconstruída por
iniciativa do Exército. Mesmo
assim, com modificações: as rochas, que deveriam ter a cor de
concreto aparente, foram pintadas de cinza na reforma.
No Rio, alguns dos mais famosos projetos de Burle Marx,
hoje cartões-postais da cidade,
estão descaracterizados.
No calçadão de Copacabana,
por exemplo, a falta de cuidado
na reposição das pedras portuguesas deixou "manchas" no
desenho original, de ondas pretas e brancas. O problema, segundo o arquiteto paisagista
Haruyoshi Ono, colaborador de
Burle Marx desde a década de
60, se repete no canteiro central e na calçada em frente aos
prédios da avenida Atlântica,
que compõem o conjunto.
Colaborou a Sucursal do Rio
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