São Paulo, domingo, 19 de julho de 2009

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Em Brasília, parque ignora obra deixada por paisagista

Projeto previa cinema e teatro, que nunca saíram do papel

FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

É quase tão complexo quanto um trabalho arqueológico saber se os jardins e parques de Brasília assinados por Roberto Burle Marx (1909-1994) se apresentam hoje como nos desenhos idealizados por ele. Seus projetos foram alterados ou ignorados -alguns criticados pelo próprio artista.
Um exemplo é o Parque da Cidade, cuja construção não levou em conta boa parte do projeto de Burle Marx. Perto de sua inauguração, no final dos anos 70, o paisagista protestou, em um artigo publicado no "Jornal de Brasília", contra o que chamou de "deturpação" de suas ideias originais.
O texto foi recuperado pela arquiteta Joana Dias Tanure, em pesquisa de mestrado realizada na Universidade de Brasília (UnB). "Os prazos políticos para a inauguração, a falta de fiscalização adequada e a impossibilidade de acompanhar o ritmo vertiginoso e irreal da execução criaram um monstrengo cheio de falhas incompreensões e interpretações equivocadas", dizia Marx.
O projeto inicial previa, por exemplo, teatros e cinemas que nunca saíram do papel. Também pensava a Praça da Fontes -atualmente abandonada- como o "coração" do parque, que deveria ser "destinada a grandes contingentes humanos e intenso convívio".

Revitalização
De acordo com Isabela de Carvalho Ono, sócia do escritório de arquitetura que leva o nome de Burle Marx no Rio de Janeiro, os projetos de Brasília estão "mal cuidados", mas ainda passíveis de revitalização e recuperação. Esse é o caso, segundo ela, dos jardins do Ministério da Justiça, do Tribunal de Contas da União e do Itamaraty. "A estrutura dos projetos está intacta. O problema está na parte dos plantios".
Um local já revitalizado é uma praça no Setor Militar Urbano da cidade, conhecida por esculturas em forma de cristais. Ela foi reconstruída por iniciativa do Exército. Mesmo assim, com modificações: as rochas, que deveriam ter a cor de concreto aparente, foram pintadas de cinza na reforma.
No Rio, alguns dos mais famosos projetos de Burle Marx, hoje cartões-postais da cidade, estão descaracterizados.
No calçadão de Copacabana, por exemplo, a falta de cuidado na reposição das pedras portuguesas deixou "manchas" no desenho original, de ondas pretas e brancas. O problema, segundo o arquiteto paisagista Haruyoshi Ono, colaborador de Burle Marx desde a década de 60, se repete no canteiro central e na calçada em frente aos prédios da avenida Atlântica, que compõem o conjunto.


Colaborou a Sucursal do Rio


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