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VIOLÊNCIA
Ataque a base policial na Grande SP ocorreu após criminoso ser morto; bilhete com ameaças tinha assinatura do PCC
Grupo ataca PM e fecha o comércio no Embu
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Como vamos confiar se foram
lá na polícia e deram tiros?" A frase dita por um dono de oficina do
Jardim Vazame, no Embu (a 25
km de São Paulo), ajuda a entender por que o centro comercial do
bairro amanheceu ontem fechado, depois de uma base da Polícia
Militar ser atacada na região.
Parecia feriado. Locadoras de
vídeo, mercados, açougues, chaveiros, imobiliárias e cabeleireiros, entre outros pontos de comércio ao longo de quase um quilômetro, não funcionaram, apesar da maior presença policial.
Três escolas suspenderam as
aulas à tarde e à noite. Nos portões, os avisos pegaram de surpresa até mesmo os professores.
O Jardim Vazame fica na divisa
do Embu com São Paulo, em uma
área de alta exclusão social. Nos
últimos dois anos, a cidade liderou o ranking estadual de homicídios. O pequeno centro comercial
está a cinco minutos de carro da
base da Polícia Militar atacada.
Segundo um morador, foi a primeira vez que a cidade teve de enfrentar um toque de recolher. Ele,
a exemplo do dono da oficina,
não quer ser identificado.
De manhã, a polícia apreendeu
seis folhas de caderno afixadas em
portas de estabelecimentos (foto
ao lado), onde era pedida a "compreensão" de comerciantes -ou
seria usada a "força bruta".
O papel leva a assinatura do
PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa criada
nos presídios que, em 2001, organizou em São Paulo a maior rebelião da história do país.
O motivo da situação foi a morte do garçom Silvio dos Santos
Luis, 23, o Binha, foragido desde
abril do ano passado da cadeia de
Taboão da Serra (Grande SP).
Segundo a polícia, Binha tinha
passagens por assaltos, homicídio, formação de quadrilha e uso
de documentos falsos. Ele estava
sendo investigado por duas tentativas de assassinato na região.
No sábado à noite, Binha morreu baleado em confronto com
PMs que trabalham em uma base
da corporação no Jardim Santa
Tereza. Ele teria reagido a tiros ao
ser parado em uma avenida.
No dia seguinte, às 21h15, o posto da PM do Jardim Santa Tereza
foi atacado. Desconhecidos em
duas motos e um carro deram
mais de 20 tiros contra o prédio.
Ninguém ficou ferido.
Um soldado e um cabo da PM
escaparam jogando-se no chão.
Paredes, janelas e o balcão de
atendimento da entrada ainda tinham perfurações ontem à tarde.
"Acreditamos que seja uma represália", diz o delegado Ubiraci
de Oliveira, do 1º DP do Embu
(Jardim São Marcos). "Estamos
orientando o comércio para que
abra, o policiamento foi reforçado
e estamos investigando o caso."
Pela manhã, carros das polícias
Civil e Militar permaneceram no
centro comercial do bairro. Outros veículos foram usados em
bloqueios na região.
Alguns comerciantes chegaram
a abrir as portas, mas, apesar da
presença da polícia, voltaram a fechar na hora do almoço após telefonemas anônimos ameaçadores.
Também houve ligações prometendo ataque à base da Guarda
Civil da cidade, que fica no pátio
da prefeitura e que não participou
da ação na qual Binha foi morto.
Ontem, a polícia não confirmava se a ameaça havia saído realmente de membros do PCC ou de
traficantes da região. Binha não tinha antecedentes por venda de
drogas nem aparecia em organogramas da facção criminosa.
Procurada pela Folha, a Secretaria da Segurança Pública não se
manifestou sobre o toque de recolher. No meio da tarde, a PM voltou a fazer blitze na região.
Colaborou o "Agora"
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