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São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2003

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VIOLÊNCIA

Ataque a base policial na Grande SP ocorreu após criminoso ser morto; bilhete com ameaças tinha assinatura do PCC

Grupo ataca PM e fecha o comércio no Embu

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Como vamos confiar se foram lá na polícia e deram tiros?" A frase dita por um dono de oficina do Jardim Vazame, no Embu (a 25 km de São Paulo), ajuda a entender por que o centro comercial do bairro amanheceu ontem fechado, depois de uma base da Polícia Militar ser atacada na região.
Parecia feriado. Locadoras de vídeo, mercados, açougues, chaveiros, imobiliárias e cabeleireiros, entre outros pontos de comércio ao longo de quase um quilômetro, não funcionaram, apesar da maior presença policial.
Três escolas suspenderam as aulas à tarde e à noite. Nos portões, os avisos pegaram de surpresa até mesmo os professores.
O Jardim Vazame fica na divisa do Embu com São Paulo, em uma área de alta exclusão social. Nos últimos dois anos, a cidade liderou o ranking estadual de homicídios. O pequeno centro comercial está a cinco minutos de carro da base da Polícia Militar atacada.
Segundo um morador, foi a primeira vez que a cidade teve de enfrentar um toque de recolher. Ele, a exemplo do dono da oficina, não quer ser identificado.
De manhã, a polícia apreendeu seis folhas de caderno afixadas em portas de estabelecimentos (foto ao lado), onde era pedida a "compreensão" de comerciantes -ou seria usada a "força bruta".
O papel leva a assinatura do PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa criada nos presídios que, em 2001, organizou em São Paulo a maior rebelião da história do país.
O motivo da situação foi a morte do garçom Silvio dos Santos Luis, 23, o Binha, foragido desde abril do ano passado da cadeia de Taboão da Serra (Grande SP).
Segundo a polícia, Binha tinha passagens por assaltos, homicídio, formação de quadrilha e uso de documentos falsos. Ele estava sendo investigado por duas tentativas de assassinato na região.
No sábado à noite, Binha morreu baleado em confronto com PMs que trabalham em uma base da corporação no Jardim Santa Tereza. Ele teria reagido a tiros ao ser parado em uma avenida.
No dia seguinte, às 21h15, o posto da PM do Jardim Santa Tereza foi atacado. Desconhecidos em duas motos e um carro deram mais de 20 tiros contra o prédio. Ninguém ficou ferido.
Um soldado e um cabo da PM escaparam jogando-se no chão. Paredes, janelas e o balcão de atendimento da entrada ainda tinham perfurações ontem à tarde.
"Acreditamos que seja uma represália", diz o delegado Ubiraci de Oliveira, do 1º DP do Embu (Jardim São Marcos). "Estamos orientando o comércio para que abra, o policiamento foi reforçado e estamos investigando o caso."
Pela manhã, carros das polícias Civil e Militar permaneceram no centro comercial do bairro. Outros veículos foram usados em bloqueios na região.
Alguns comerciantes chegaram a abrir as portas, mas, apesar da presença da polícia, voltaram a fechar na hora do almoço após telefonemas anônimos ameaçadores.
Também houve ligações prometendo ataque à base da Guarda Civil da cidade, que fica no pátio da prefeitura e que não participou da ação na qual Binha foi morto.
Ontem, a polícia não confirmava se a ameaça havia saído realmente de membros do PCC ou de traficantes da região. Binha não tinha antecedentes por venda de drogas nem aparecia em organogramas da facção criminosa.
Procurada pela Folha, a Secretaria da Segurança Pública não se manifestou sobre o toque de recolher. No meio da tarde, a PM voltou a fazer blitze na região.


Colaborou o "Agora"


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