São Paulo, sexta-feira, 19 de agosto de 2005

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BARBARA GANCIA

A volta do inspetor Clouseau

Leio na coluna de Mônica Bergamo de terça-feira que Eduardo Suplicy, de novo, quer dar uma de inspetor Clouseau. O senador pretende ir a Bagdá "ajudar a diplomacia brasileira na investigação do caso do engenheiro João José de Vasconcellos Jr.", seqüestrado por insurgentes em 19 de janeiro.
O nobre leitor que já está calejado pelos escândalos que regularmente eclodem no âmago da República deve se lembrar da outra vez em que o garboso senador atacou de investigador. Foi à época do escândalo dos "anões" do Orçamento, quando Suplicy viajou a Nova York em diligência a fim de descobrir o paradeiro de Ana Elizabeth Lofrano Santos, a mulher do ex-diretor do Departamento de Orçamento, José Carlos Alves dos Santos, que desaparecera meses antes. Enquanto o corpo de Ana Elizabeth jazia em um terreno baldio nos arredores de Brasília, Suplicy corria atrás de pistas fornecidas por um jornaleiro tapuia da rua 46, em Manhattan, mesmo depois de o consulado brasileiro em Nova York ter apurado que Ana Elizabeth nunca requerera visto para entrar nos Estados Unidos.
O engenheiro brasileiro seqüestrado no Iraque está sempre nas minhas conversas com o Todo Poderoso, e eu ainda guardo amarradas na grade do terraço da minha morada as fitas verde-amarelas que sua família pediu que a população colocasse à vista. Mas duvido que o senador Suplicy possa ser útil nas buscas para encontrá-lo, mesmo porque, no momento, ele tem deveres bem mais preementes do que fazer free-lance policial em Bagdá. A começar pelas explicações que deve aos seus eleitores.
Atente: em entrevista à "Veja" desta semana, o jurista Hélio Bicudo corrobora as denúncias de um dos fundadores do PT, o respeitado economista Paulo de Tarso Venceslau. Nos idos de 1995, em cartas protocoladas enviadas a dirigentes do PT, com cópias para Lula, José Dirceu, Eduardo Suplicy e Aloizio Mercadante, Paulo de Tarso denunciou um esquema de arrecadação de dinheiro junto a prefeituras do PT, que seria operado por Roberto Teixeira, compadre de Lula. Depois de dois anos sem obter respostas, o economista resolveu falar ao jornalista Luiz Maklouf Carvalho, do "Jornal da Tarde". Assim que as revelações de Paulo de Tarso se tornaram públicas, ele foi expulso do partido. Na entrevista à "Veja", Bicudo afirma que as evidências contra o compadre de Lula são "claríssimas". Alô, senador Eduardo Suplicy! O senhor vai se explicar ou buscar refúgio em Bagdá?


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