São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2008

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Palco recebeu de Dercy Gonçalves a Villa-Lobos

Sociedade de Cultura Artística dá ênfase especial à música erudita nas atividades que promove desde 1912

Villa-Lobos e Camargo Guarnieri regeram suas próprias composições na inauguração do teatro Cultura Artística, em 1950


IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Implacável, o incêndio de domingo no Cultura Artística devorou um dos palcos mais representativos da cena musical e teatral paulistana. Josephine Baker, Fernanda Montenegro, Jô Soares e Daniel Barenboim são alguns dos nomes que passaram pela casa, em suas cinco décadas de existência.
A Sociedade de Cultura Artística promove atividades desde 1912, com ênfase especial (mas não exclusiva) na música erudita -paradigma de excelência, sua série de assinaturas é a mais prestigiosa da cidade.
Alguns espetáculos, especialmente envolvendo grandes orquestras, podiam acontecer no Teatro Municipal ou na Sala São Paulo -para onde deve ir o restante da temporada, enquanto a entidade decide se irá reformar ou reconstruir a sede.
Mas a alma da programação ocorria na sala Esther Mesquita, de 1.156 lugares, de uma versatilidade que lhe permitia abrigar praticamente todo tipo de espetáculo musical, desde o intimismo do cravo solo de Gustav Leonhardt até a sonoridade luxuriante das filarmônicas de Nova York e Leningrado.
O teatro, que funcionava como sede da própria da entidade, foi inaugurado em 1950, com os dois mais célebres compositores brasileiros daquele período, Camargo Guarnieri (1907-1993) e Heitor Villa-Lobos (1887-1959), regendo suas próprias composições.
Seria fastidioso enumerar os artistas internacionais que pisaram seu palco desde então. Longa, a lista coincidiria com os mais importantes nomes da música que visitaram São Paulo no período, do piano de Nelson Freire ao violoncelo de Mstislav Rostropovich, passando pelo violão de Andrés Segovia e pela batuta voz de Cecília Bartoli para não ir muito longe.
Alugado, nos anos 1960, para a TV Excelsior, e sede, na década de 1970, da Osesp (então chefiada por Eleazar de Carvalho), o Cultura Artística também teve papel preponderante na cena teatral, desde o primeiro espetáculo por lá encenado -"O Fundo do Poço", de Helena Silveira e Jamil Almansur Haddad, com Itália Fausta e Maria Della Costa, em 1950.
Na década inicial do teatro, o pequeno auditório (sala Rubens Sverner, de 339 lugares) foi tomado de assalto por Dercy Gonçalves, com comédias como "Vinde Ensaboar Vossos Pecados", de Nelson Rodrigues.
Paulo Autran foi presença constante, desde "Um Deus Dormiu Lá Em Casa", com Tônia Carrero (1950), até seu derradeiro espetáculo, "O Avarento", de Molière, com Felipe Hirsch (2006).
A casa abrigou ainda espetáculos de grande sucesso nos anos 1980, como "Piaf", com Bibi Ferreira. Isso para não falar nos destaques estrangeiros, como o mímico Marcel Marceau. O fogo encerrou, abruptamente, a temporada de "O Bem Amado", que trazia outro nome que se fez ver com freqüência na casa: Marco Nanini.


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