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SEGURANÇA
Em agosto último, foram 99 casos, maior taxa desde janeiro de 1998; registros de homicídio e roubo caíram
Polícia do Rio bate recorde de morte de civil
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Em agosto, a violência policial
aumentou no Rio. As forças de segurança do Estado mataram 99
pessoas -recorde desde janeiro
de 1998. Essas mortes são classificadas como "autos de resistência". Resultam de supostos confrontos entre bandidos e policiais.
Os oito meses deste ano já somam 581 mortes em embates com
a polícia. Em todo o ano de 2001,
foram 592 mortes. Em 2000, 427.
Um ano antes, 289. Em 1998, 397.
A média mensal de mortes praticadas pela polícia chegou, neste
ano, a 72,6, o que representa um
crescimento de 47,3% em relação
à média mensal de mortes verificada em 2001 (49,3).
O governo comemorou a queda
dos homicídios dolosos pelo
quarto mês consecutivo. Em
agosto, foram 493 ocorrências, o
menor índice do ano. Em julho,
foram 528 homicídios dolosos.
Mesmo assim, o número absoluto
de casos ainda foi mais alto que o
de agosto de 2001 (469 mortes).
A taxa mensal de homicídios
em cada grupo de 100 mil habitantes está próxima do patamar
de agosto de 2001: 3,3.
Redução de roubos
Os roubos de veículos também
tiveram o menor número de
ocorrências do ano (2.509), mas
ainda superam o índice registrado
em agosto do ano passado (2.149).
Aumentou a violência dos crimes de rua: subiram, em relação a
julho, os roubos a residência, a
transeuntes e a estabelecimentos
comerciais. Os mesmos crimes
também estão em patamares
muito mais elevados do que os verificados no ano passado.
Uma análise dos índices mostra
que 2002 começou com a violência em alta -no final do governo
de Anthony Garotinho (PSB)- e
atingiu os patamares mais elevados em abril, com a posse de Benedita da Silva (PT).
O governo reconheceu ontem
que, mesmo com a diminuição de
índices de homicídios e roubo de
veículos, a sensação de medo continua nas ruas.
"Temos uma população com
uma percepção generalizada do
temor e da insegurança. É um
movimento de agravamento do
temor", afirmou a coordenadora
de Segurança, Jacqueline Muniz.
Segundo ela, o governo vem
realizando ações para combater a
violência e reduzir a criminalidade. Ao mesmo tempo, diz, a polícia está "com a luz vermelha acesa" e realizando ações para crimes
de rua que amplificam a sensação
de medo na população, como assaltos a ônibus e a residências.
Explicações
O comandante da Polícia Militar, Francisco Braz, e o chefe da
Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, disseram que as mortes em confrontos com policiais resultam da violência e do poderio armado do
narcotráfico -mesma justificativa dada por administrações que
adotavam a "linha dura" na ação
de rua, como a do ex-secretário
Nilton Cerqueira (1995-1998).
Para Braz, os confrontos de policiais com traficantes poderão
aumentar ainda mais. "O que se
presume é que aquele que está
com a arma vai se render à ordem
de "Pare em nome da lei". Mas
qual o marginal que faz isso? Na
medida em que isso não acontece,
a lei tem de vencer. Não vamos
para matar", afirmou Braz.
O candidato a vice-governador
na chapa de Benedita, Luiz Eduardo Soares, um dos idealizadores
da política de segurança em vigor
no Estado, disse que o aumento
dos autos de resistência tem duas
explicações: falta de tempo do governo para mudar o padrão da
ação policial e sabotagem de setores da polícia, que estariam agindo com violência para prejudicar
Benedita nas comunidades.
Para ele, justificar as mortes
com a violência do tráfico é uma
explicação conservadora. Ao
mesmo tempo, Soares elogiou a
atuação de Roberto Aguiar no comando da Secretaria de Segurança Pública do Estado.
Para o sociólogo Ignacio Cano,
professor da Uerj (Universidade
do Estado do Rio de Janeiro), as
mortes praticadas pela polícia são
um problema estrutural da corporação, e os governos tendem a
atribuir a culpa aos bandidos.
"Ao mesmo tempo, com os últimos episódios de violência, vejo o
governo pressionado a agir para o
outro lado, pois a sociedade cobra
uma ação policial dura e não um
controle da letalidade da ação policial", afirmou Cano.
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