São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 2002

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SEGURANÇA

Em agosto último, foram 99 casos, maior taxa desde janeiro de 1998; registros de homicídio e roubo caíram

Polícia do Rio bate recorde de morte de civil

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Em agosto, a violência policial aumentou no Rio. As forças de segurança do Estado mataram 99 pessoas -recorde desde janeiro de 1998. Essas mortes são classificadas como "autos de resistência". Resultam de supostos confrontos entre bandidos e policiais.
Os oito meses deste ano já somam 581 mortes em embates com a polícia. Em todo o ano de 2001, foram 592 mortes. Em 2000, 427. Um ano antes, 289. Em 1998, 397.
A média mensal de mortes praticadas pela polícia chegou, neste ano, a 72,6, o que representa um crescimento de 47,3% em relação à média mensal de mortes verificada em 2001 (49,3).
O governo comemorou a queda dos homicídios dolosos pelo quarto mês consecutivo. Em agosto, foram 493 ocorrências, o menor índice do ano. Em julho, foram 528 homicídios dolosos. Mesmo assim, o número absoluto de casos ainda foi mais alto que o de agosto de 2001 (469 mortes).
A taxa mensal de homicídios em cada grupo de 100 mil habitantes está próxima do patamar de agosto de 2001: 3,3.

Redução de roubos
Os roubos de veículos também tiveram o menor número de ocorrências do ano (2.509), mas ainda superam o índice registrado em agosto do ano passado (2.149).
Aumentou a violência dos crimes de rua: subiram, em relação a julho, os roubos a residência, a transeuntes e a estabelecimentos comerciais. Os mesmos crimes também estão em patamares muito mais elevados do que os verificados no ano passado.
Uma análise dos índices mostra que 2002 começou com a violência em alta -no final do governo de Anthony Garotinho (PSB)- e atingiu os patamares mais elevados em abril, com a posse de Benedita da Silva (PT).
O governo reconheceu ontem que, mesmo com a diminuição de índices de homicídios e roubo de veículos, a sensação de medo continua nas ruas.
"Temos uma população com uma percepção generalizada do temor e da insegurança. É um movimento de agravamento do temor", afirmou a coordenadora de Segurança, Jacqueline Muniz.
Segundo ela, o governo vem realizando ações para combater a violência e reduzir a criminalidade. Ao mesmo tempo, diz, a polícia está "com a luz vermelha acesa" e realizando ações para crimes de rua que amplificam a sensação de medo na população, como assaltos a ônibus e a residências.

Explicações
O comandante da Polícia Militar, Francisco Braz, e o chefe da Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, disseram que as mortes em confrontos com policiais resultam da violência e do poderio armado do narcotráfico -mesma justificativa dada por administrações que adotavam a "linha dura" na ação de rua, como a do ex-secretário Nilton Cerqueira (1995-1998).
Para Braz, os confrontos de policiais com traficantes poderão aumentar ainda mais. "O que se presume é que aquele que está com a arma vai se render à ordem de "Pare em nome da lei". Mas qual o marginal que faz isso? Na medida em que isso não acontece, a lei tem de vencer. Não vamos para matar", afirmou Braz.
O candidato a vice-governador na chapa de Benedita, Luiz Eduardo Soares, um dos idealizadores da política de segurança em vigor no Estado, disse que o aumento dos autos de resistência tem duas explicações: falta de tempo do governo para mudar o padrão da ação policial e sabotagem de setores da polícia, que estariam agindo com violência para prejudicar Benedita nas comunidades.
Para ele, justificar as mortes com a violência do tráfico é uma explicação conservadora. Ao mesmo tempo, Soares elogiou a atuação de Roberto Aguiar no comando da Secretaria de Segurança Pública do Estado.
Para o sociólogo Ignacio Cano, professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), as mortes praticadas pela polícia são um problema estrutural da corporação, e os governos tendem a atribuir a culpa aos bandidos.
"Ao mesmo tempo, com os últimos episódios de violência, vejo o governo pressionado a agir para o outro lado, pois a sociedade cobra uma ação policial dura e não um controle da letalidade da ação policial", afirmou Cano.


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