UOL


São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Delegado-geral aparece em grampo

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma autoridade envolvida na investigação dos grampos telefônicos feitos pela Procuradoria da República disse ontem à Folha que o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Marco Antonio Desgualdo, deu ordem a seu assessor, o delegado Luiz Carlos dos Santos, o China, para que alertasse outro delegado de que estava sendo investigado pela Promotoria estadual.
Na conversa, captada em grampo no dia 15 de julho deste ano e cujo resumo foi publicado ontem no jornal "O Estado de S. Paulo", o delegado-geral conta ao assessor que fora informado de que o delegado Antonio Carlos da Silva, chefe da Polícia Civil no Vale do Paraíba, estava com seu telefone sendo monitorado pela Promotoria estadual e que a mulher dele havia sido filmada em um hotel ao lado de bicheiros.
Ontem, Desgualdo confirmou ter tido o diálogo com China, mas negou que tivesse mandado avisar Silva da investigação. "Nesse caso, estava nervoso e pedi para que se descobrisse o que estavam fazendo [o delegado e a mulher dele], porque teria de partir pra cima antes que outros fizessem. Queria apurar a veracidade e me adiantar", afirmou o delegado-geral, que ontem criticou a análise isolada de trechos da conversa.
Em tese, segundo o Ministério Público Estadual, o diálogo pode caracterizar crime de prevaricação, já que Desgualdo teria determinado que o delegado fosse alertado sobre os grampos. O caso, porém, está sendo analisado pela força-tarefa que recebeu da Procuradoria da República do Distrito Federal os grampos do telefone de China.
Segundo Desgualdo, o caso da suposta ligação do delegado com bicheiros está sendo apurado pela Corregedoria da Polícia Civil. Ele, porém, não quis informar o resultado dessa apuração. "Na época, o que se tinha era um boato de que o Ministério Público estaria grampeando o policial, por isso mandei investigar", disse.
O delegado-geral disse ontem que não teve acesso ao diálogo incluído na apuração federal e que não se recorda dos detalhes da conversa. No dia em que a gravação foi feita, ele estava em férias.
No grampo, Desgualdo teria afirmado que recebera a informação sobre a investigação do ex-secretário da Segurança Pública do Estado Marco Vinicio Petrelluzzi, que é procurador de Justiça.
Ontem, o delegado-geral afirmou que a notícia não partiu do ex-secretário, com quem diz não falar desde fevereiro. Ele disse não recordar da expressão que usou e que pode ter dado a entender que havia sido avisado da investigação por Petrelluzzi.
O ex-secretário também negou ontem ter conversado com Desgualdo sobre a apuração no Vale do Paraíba. "Estou sendo acusado de passar algo que eu não sabia para alguém", afirmou.
Para o delegado-geral, os remanejamentos de policiais feitos na capital a partir de dezembro do ano passado podem ter despertado "insatisfação" e "raiva" entre policiais, que teriam usado seu nome indevidamente e que acabaram grampeados pela Procuradoria da República.
Segundo ele, cerca de 1.500 investigadores, 700 delegados e 800 escrivães, dos 7.000 que trabalham na capital, foram remanejados de região desde a troca de comando na capital, em 6 de dezembro do ano passado.


Texto Anterior: Provas são "suficientes"
Próximo Texto: Dobra nš de maços apreendidos
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.