|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Força Nacional vai ao entorno do DF ocupar "terra de ninguém"
Região do Entorno de Brasília apresenta altos índices de criminalidade, mas tem pouca presença do poder público
Área com 55 mil km2 e 2,7 milhões de habitantes, a região é fragmentada em 19 municípios goianos, três mineiros e áreas do DF
MARIA LUIZA RABELLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os 130 homens da Força Nacional de Segurança Pública
que começam hoje a ocupar a
região do Entorno de Brasília
vão atuar em uma "terra de
ninguém". A menos de 30 km
da capital do país, a área apresenta índices de violência comparáveis aos da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, e foi
alvo de um relatório da ONU
(Organização das Nações Unidas) que descreve a criminalidade local como sendo "de proporções críticas".
O envio da Força Nacional foi
acelerado depois que o repórter
Amaury Ribeiro Júnior, do jornal "O Estado de Minas", foi baleado enquanto trabalhava em
Cidade Ocidental, a 50 km de
Brasília. Dez dias após o repórter ter sido ferido, a Polícia Civil de Goiás concluiu, sem ter
ouvido a vítima, que o episódio
foi só uma tentativa de roubo.
Quatro pessoas foram presas. O
inquérito da Polícia Federal,
porém, não foi encerrado.
Com 55 mil km2 - área equivalente ao Estado da Paraíba-
e 2,7 milhões de habitantes, o
entorno é fragmentado em 19
municípios goianos, três mineiros e áreas do Distrito Federal. Não recebe, porém, tratamento de Estado nem de região
metropolitana nem de cidade.
"No entorno faltam políticas
públicas, água, esgoto, creche,
educação, emprego e segurança. Falta tudo. Falta Estado naquela área", disse o secretário
de Segurança Pública do DF,
general Cândido Vargas, ao admitir a omissão histórica de diferentes governos.
Até o ano passado existia, no
DF, uma secretaria de Desenvolvimento do Entorno. Ao assumir o governo, José Roberto
Arruda (DEM) reduziu o órgão
a uma subsecretaria. Antes
com 180 funcionários, a estrutura passou a ter 15.
"Aqui, o crescimento da criminalidade se dá mais vertiginosamente pela absoluta desintegração das ações entre Goiás e DF. Os governos disputam quem paga a conta, quem é
responsável pelo quê", afirmou
Roberto Aguiar, ex-secretário
de Segurança Pública do DF e
do Rio de Janeiro.
Estudo feito em julho deste
ano pelo Pnud (Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento) aponta a presença
de rede de drogas, gangues e
tráfico de armas.
"A gente pode falar de omissão, de descaso e de uma população sem preparo para exigir
seus direitos", afirmou Maristela Baione, coordenadora de
Políticas Sociais do Pnud. Para
o sociólogo da UnB (Universidade de Brasília) Antônio Flávio Testa, "Brasília é o centro
irradiador desse processo".
"Consome a mão-de-obra e as
drogas, enquanto o entorno é a
base logística das operações."
Até mesmo o IBGE tem dificuldade em levantar dados da
região. As cidades-satélites do
DF não entram nos estudos sócio-econômicos do IBGE porque, tecnicamente, não são
municípios, mas "regiões administrativas". Das 22 localidades restantes, apenas três têm
mais de 100 mil habitantes e,
portanto, se qualificam para
serem analisadas pelo IBGE e
pela Secretaria Nacional de Segurança Pública.
Segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, há
um mês o presidente do IBGE,
Eduardo Nunes, reclamou que
o órgão tem dificuldades para
atualizar o Censo. Por cinco
dias, segundo Bernardo, os pesquisadores tiveram problemas
para localizar endereços por
falta de placas, número das
quadras, ruas e casas. "À noite,
o problema foi a falta de condições de segurança."
Texto Anterior: Enterro: Mãe de criança de 4 anos morta teme represália Próximo Texto: Secretário de Segurança quer evitar que violência goiana invada Distrito Federal Índice
|