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Banquete reúne 17 chefs renomados em SP
Por R$ 5.000 o convite, jantar terá iguarias como o moshi de gorgonzola, preparadas por 16 chefs espanhóis e um brasileiro
Petiscos espanhóis feitos pelos mesmos cozinheiros estarão à disposição do público em evento paralelo por um preço mais barato
GIULIANA BASTOS
DA REVISTA DA FOLHA
Em meio ao caos financeiro
global, em 3 de novembro, um
privilegiado grupo participará
de um evento sem paralelo na
gastronomia mundial. Por
R$ 5.000 (no mínimo), cada
uma dessas 80 pessoas participará do Jantar do Século, como
foi batizada a refeição especial.
Dos 17 chefs, um é brasileiro e
16 são espanhóis, cujos restaurantes somam 24 das disputadas estrelas conferidas pelo
guia francês "Michelin".
O encontro acontece em São
Paulo, no hotel Grand Hyatt.
Faz parte do evento Semana
Mesa SP, promovido pela revista "Prazeres da Mesa" em parceria com o Senac-SP e com as
empresas de eventos gastronômicos Sibaris, em São Paulo, e
GSR, na Espanha.
Estarão na cozinha do hotel
chefs renomados, como Ferran
Adrià, Juan Mari Arzak e Martín Berasategui. "Faz sentido
trazer todos para uma troca
cultural. Aqui temos os ingredientes, e a Espanha, as novas
técnicas", explica Joana Munné, da Sibaris.
Em tempos de "crash" da
Bolsa, a venda dos convites em
leilões na internet anda em ritmo lento. Até o fechamento
desta edição, o lance máximo
alcançou R$ 5.100 e ainda sobravam 41 dos 80 lugares.
Para ver de perto a alquimia
espanhola, o empresário goiano Fernando Hanna, 46, desembolsou o valor e vai gastar
outros R$ 3.000 com hotel e
deslocamento. "Fiz as contas e
vale a pena", diz ele, que há dois
anos esteve na Espanha e visitou o restaurante El Celler de
Can Roca, do chef Joan Roca,
que estará em São Paulo.
O caráter do evento perde
pontos pelo fato de ser extremamente elitista. Para François Simon, crítico gastronômico do jornal francês "Le Figaro", o evento é espetacular, mas
restrito. "Não tem utilidade,
exceto para poucos felizardos",
disse ele à Folha.
Mesmo para quem não quer
pagar tanto por um banquete, o
evento é importante para consolidar São Paulo como pólo
gastronômico mundial. "Depois da vinda de [Ferran]
Adrià, outros virão", diz Helga
Gentil, coordenadora de eventos educacionais do Senac-SP.
Em certa medida, é como se
juntassem Picasso, Goya e Miró para pintar cada um o seu
quadro. O que se fará no Hyatt,
porém, será uma arte para ser
apreciada apenas nas cinco horas do jantar, ao longo de cada
garfada. Serão pequenos bocados da vanguarda espanhola.
E bota pequeno bocado nisso. A cozinha contemporânea
não é amiga da gula. "Não é
uma comida do dia-a-dia, mas
que nos faz pensar", diz Ricardo Castilho, diretor editorial da
"Prazeres da Mesa".
Parte da renda custeará projetos beneficentes voltados à
formação de cozinheiros e à inserção de profissionais no mercado, entre outras atividades
das ONGs Gastromotiva e Projeto Quixote, entre outras.
Petiscos surrealistas
A primeira parte da festa
acontecerá como um coquetel,
onde serão servidas nove tapas
espanholas. Nas taças, cava (espumante espanhol) e vinhos típicos, harmonizados pelo consultor Danio Braga. No cardápio, acepipes surrealistas dividem espaço com tradicionais.
O grande burburinho do coquetel está em torno do moshi
de gorgonzola do chef Adrià,
uma espuma do queijo esferificada com morangos grelhados,
servida pela primeira vez fora
do seu restaurante El Bulli. O
estabelecimento tem três estrelas, cotação máxima do "Michelin". Esferificação é um processo que transforma cremes
ou musses em bolinhas a partir
de processos químicos.
Provados os nove petiscos, os
convidados serão levados ao salão do jantar. Será preciso fôlego para encarar a seqüência de
dez pratos. O menu é aberto pelo delicado carpaccio vegetal,
feito com melancia assada a
70C por nove horas, do catalão
duas-estrelas Andoni Luis
Aduriz, considerado o quarto
melhor chef do mundo.
O toque verde-amarelo ficará
por conta de Alex Atala. O melhor chef do Brasil servirá dois
pratos, a exemplo de Ferran
Adrià. A primeira receita fará
parte do coquetel: um risoto líquido de coco com azeite de
dendê, hortelã e nori (folha feita com algas-marinhas).
A segunda será uma crema
catalana (sobremesa espanhola) com priprioca (raiz brasileira da qual o chef extrai uma essência semelhante à da baunilha). "A idéia é fazer uma brincadeira com um clássico", diz.
Degustação mais barata
É possível degustar alguns
petiscos espanhóis preparados
pelos mesmos chefs em um
evento paralelo a R$ 80 por dia.
A Ilha Espanha acontecerá
dentro do Senac, durante a feira Prazeres ao Vivo. É possível
ainda ouvir as palestras desses
mestres no Mesa Tendências,
por R$ 1.050.
Findados os eventos, os espanhóis se entregarão a prazeres
paulistanos. Vão ao Figueira
Rubaiyat comer feijoada.
O melhor chef do mundo, o
quarto melhor e o oitavo melhor também sentarão no salão
do Mocotó, um boteco da zona
norte de SP, para comer sarapatel e tomar cachaça. O samba
também entrou na roda. Os cozinheiros vão mostrar toda a
sua ginga (ou falta de) em um
ensaio da escola Pérola Negra.
Depois, a turma segue para o
Rio, e, como ninguém é de ferro, parte para Búzios, em busca
de sol e água fresca.
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