São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2008

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Banquete reúne 17 chefs renomados em SP

Por R$ 5.000 o convite, jantar terá iguarias como o moshi de gorgonzola, preparadas por 16 chefs espanhóis e um brasileiro

Petiscos espanhóis feitos pelos mesmos cozinheiros estarão à disposição do público em evento paralelo por um preço mais barato

GIULIANA BASTOS
DA REVISTA DA FOLHA

Em meio ao caos financeiro global, em 3 de novembro, um privilegiado grupo participará de um evento sem paralelo na gastronomia mundial. Por R$ 5.000 (no mínimo), cada uma dessas 80 pessoas participará do Jantar do Século, como foi batizada a refeição especial. Dos 17 chefs, um é brasileiro e 16 são espanhóis, cujos restaurantes somam 24 das disputadas estrelas conferidas pelo guia francês "Michelin".
O encontro acontece em São Paulo, no hotel Grand Hyatt. Faz parte do evento Semana Mesa SP, promovido pela revista "Prazeres da Mesa" em parceria com o Senac-SP e com as empresas de eventos gastronômicos Sibaris, em São Paulo, e GSR, na Espanha.
Estarão na cozinha do hotel chefs renomados, como Ferran Adrià, Juan Mari Arzak e Martín Berasategui. "Faz sentido trazer todos para uma troca cultural. Aqui temos os ingredientes, e a Espanha, as novas técnicas", explica Joana Munné, da Sibaris.
Em tempos de "crash" da Bolsa, a venda dos convites em leilões na internet anda em ritmo lento. Até o fechamento desta edição, o lance máximo alcançou R$ 5.100 e ainda sobravam 41 dos 80 lugares.
Para ver de perto a alquimia espanhola, o empresário goiano Fernando Hanna, 46, desembolsou o valor e vai gastar outros R$ 3.000 com hotel e deslocamento. "Fiz as contas e vale a pena", diz ele, que há dois anos esteve na Espanha e visitou o restaurante El Celler de Can Roca, do chef Joan Roca, que estará em São Paulo.
O caráter do evento perde pontos pelo fato de ser extremamente elitista. Para François Simon, crítico gastronômico do jornal francês "Le Figaro", o evento é espetacular, mas restrito. "Não tem utilidade, exceto para poucos felizardos", disse ele à Folha.
Mesmo para quem não quer pagar tanto por um banquete, o evento é importante para consolidar São Paulo como pólo gastronômico mundial. "Depois da vinda de [Ferran] Adrià, outros virão", diz Helga Gentil, coordenadora de eventos educacionais do Senac-SP.
Em certa medida, é como se juntassem Picasso, Goya e Miró para pintar cada um o seu quadro. O que se fará no Hyatt, porém, será uma arte para ser apreciada apenas nas cinco horas do jantar, ao longo de cada garfada. Serão pequenos bocados da vanguarda espanhola.
E bota pequeno bocado nisso. A cozinha contemporânea não é amiga da gula. "Não é uma comida do dia-a-dia, mas que nos faz pensar", diz Ricardo Castilho, diretor editorial da "Prazeres da Mesa".
Parte da renda custeará projetos beneficentes voltados à formação de cozinheiros e à inserção de profissionais no mercado, entre outras atividades das ONGs Gastromotiva e Projeto Quixote, entre outras.

Petiscos surrealistas
A primeira parte da festa acontecerá como um coquetel, onde serão servidas nove tapas espanholas. Nas taças, cava (espumante espanhol) e vinhos típicos, harmonizados pelo consultor Danio Braga. No cardápio, acepipes surrealistas dividem espaço com tradicionais.
O grande burburinho do coquetel está em torno do moshi de gorgonzola do chef Adrià, uma espuma do queijo esferificada com morangos grelhados, servida pela primeira vez fora do seu restaurante El Bulli. O estabelecimento tem três estrelas, cotação máxima do "Michelin". Esferificação é um processo que transforma cremes ou musses em bolinhas a partir de processos químicos.
Provados os nove petiscos, os convidados serão levados ao salão do jantar. Será preciso fôlego para encarar a seqüência de dez pratos. O menu é aberto pelo delicado carpaccio vegetal, feito com melancia assada a 70C por nove horas, do catalão duas-estrelas Andoni Luis Aduriz, considerado o quarto melhor chef do mundo.
O toque verde-amarelo ficará por conta de Alex Atala. O melhor chef do Brasil servirá dois pratos, a exemplo de Ferran Adrià. A primeira receita fará parte do coquetel: um risoto líquido de coco com azeite de dendê, hortelã e nori (folha feita com algas-marinhas).
A segunda será uma crema catalana (sobremesa espanhola) com priprioca (raiz brasileira da qual o chef extrai uma essência semelhante à da baunilha). "A idéia é fazer uma brincadeira com um clássico", diz.

Degustação mais barata
É possível degustar alguns petiscos espanhóis preparados pelos mesmos chefs em um evento paralelo a R$ 80 por dia. A Ilha Espanha acontecerá dentro do Senac, durante a feira Prazeres ao Vivo. É possível ainda ouvir as palestras desses mestres no Mesa Tendências, por R$ 1.050.
Findados os eventos, os espanhóis se entregarão a prazeres paulistanos. Vão ao Figueira Rubaiyat comer feijoada.
O melhor chef do mundo, o quarto melhor e o oitavo melhor também sentarão no salão do Mocotó, um boteco da zona norte de SP, para comer sarapatel e tomar cachaça. O samba também entrou na roda. Os cozinheiros vão mostrar toda a sua ginga (ou falta de) em um ensaio da escola Pérola Negra. Depois, a turma segue para o Rio, e, como ninguém é de ferro, parte para Búzios, em busca de sol e água fresca.


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