São Paulo, quarta, 19 de novembro de 1997.



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CRESCEI E MULTIPLICAI-VOS
Idéia é aumentar população
Prefeito do PR quer sexo e procriação

FERNANDO MENDONÇA
da Agência Folha, em Curitiba

O prefeito de Bocaiúva do Sul (região metropolitana de Curitiba), Elcio Berti (PTB), 48, decretou ontem a proibição da venda e da distribuição de preservativos e de qualquer método anticoncepcional na cidade.
Berti também está oferecendo isenção total de impostos, pelo prazo de cinco anos, para quem estiver interessado em abrir motéis na região. "Quero aumentar pelo menos 20% a população de Bocaiúva até o ano que vem."
Essa foi a forma encontrada pelo prefeito para protestar contra a redução de 40% no repasse do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) anunciada pelo governo do Estado, a partir de janeiro de 98.
O repasse para Bocaiúva do Sul será reduzido dos atuais R$ 120 mil mensais para R$ 72 mil. Berti acredita que, se multiplicar a população da cidade, evitará a redução do FPM. "Passou dos 14 anos de idade, já poderá entrar nos motéis."
Segundo ele, o governador do Paraná, Jaime Lerner (PFL), disse aos prefeitos durante as posses, no começo deste ano, que eles teriam de ser verdadeiros malabaristas para enfrentar as dificuldades.
"É o que estou fazendo. Proibindo a venda de preservativos, fico de bem com o papa e ainda incremento o comércio de uísque e de flores para os amantes."
O prefeito anunciou também que pretende lotear áreas do município para os trabalhadores rurais sem terra. "Temos terrenos sobrando por aqui."
Florismundo Alberti, 63, dono de uma das duas farmácias da cidade, disse que não respeitará o decreto. Segundo o presidente da Associação dos Magistrados do Paraná, Guilherme Luiz Gomes, 47, o artigo 226, parágrafo 7º, da Constituição determina que "o planejamento familiar é livre decisão do casal".
O ministro da Saúde, Carlos Albuquerque, afirmou que recebeu com "tristeza e surpresa" a notícia de que o prefeito de Bocaiúva do Sul (PR) proibiu a venda de preservativos na cidade.
"Supresa porque lá deve existir Conselho Municipal da Saúde e, se eu fosse conselheiro lá, já tinha feito uma revolução." Para Pedro Chequer, coordenador nacional de DST e Aids, a medida é equivocada. "A prefeitura vai revê-la diante da realidade da Aids".



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