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ADMINISTRAÇÃO
Ao anunciar demissão da pasta dos Transportes, Carlos Zarattini reclamou de sindicalistas e de "maus empresários"
Secretário cai após denúncias de petista
ALENCAR IZIDORO
PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O secretário dos Transportes do
governo Marta Suplicy, Carlos
Zarattini, 43, deixou o cargo, pressionado por denúncias de irregularidades em sua pasta feitas por
William Ali Chaim, presidente do
segundo maior grupo de ônibus
da cidade e militante do PT.
A prefeita de São Paulo anunciou ter aceitado ontem a demissão pedida por Zarattini na semana passada. O engenheiro agrônomo Luiz Silveira Rangel, 43,
chefe de gabinete do secretário,
assumirá a função interinamente.
Zarattini é o quinto secretário a
deixar o governo Marta em quase
dois anos. Além dele, apenas Walter Rasmussen saiu após denúncias, na Secretaria de Infra-Estrutura Urbana, em julho de 2001.
O desgaste de Zarattini começou há um mês, após declarações
de Chaim, 39, militante histórico
do PT, ligado ao alto escalão do
partido, e que assumiu a presidência do grupo de ônibus Romero Niquini em julho deste ano.
Na entrevista em que anunciou
seu afastamento, Zarattini, acompanhado do pai, Ricardo Zarattini, e da mulher, Maria Aparecida
Peres, também atribuiu a sua queda à pressão de vereadores da base aliada de Marta, que articulam
uma CPI para investigar as denúncias no setor, e ao sindicato
dos motoristas, que ele acusa de
ter feito paralisações em conjunto
com "os maus empresários".
"Fico triste com a demissão, é
um dos secretários que mais prezo, vem fazendo um trabalho extraordinário", afirmou Marta.
Na avaliação de Zarattini, as resistências à sua atuação se devem
às mudanças que ele pretendia
implantar -principalmente com
a licitação que vai selecionar novos operadores de ônibus e lotações a partir de julho de 2003.
"As denúncias fazem parte de
um processo de desgaste comandado pelo grupo Niquini, cujas
empresas são as piores da cidade", afirmou Zarattini sobre as
viações comandadas por Chaim,
que ficaram conhecidas por atrasar os pagamentos de salários e
manter uma frota velha.
Chaim passou a acusar Zarattini
depois que as viações que ele administra tiveram os contratos
rompidos, em setembro passado,
por irregularidades na prestação
de contas da arrecadação.
A pressão pela saída do secretário ganhou força na semana passada, quando Chaim disse, na Câmara, que houve transferências
irregulares da SPTrans (São Paulo
Transporte) às empresas de ônibus -quatro viações receberam
em agosto R$ 1,044 milhão para
pagar os salários dos trabalhadores. Zarattini deu uma justificativa na segunda-feira passada, desmentida por ele mesmo dois dias
depois. O erro na primeira versão
desagradou a prefeita, que, há cinco dias, articulava uma solução
para rebater as denúncias.
O secretário chegou a dizer que
a quantia já havia sido devolvida à
prefeitura. Depois, afirmou que
só uma parte havia voltado. Até
ontem, não sabia os valores. "Os
números serão esclarecidos pela
SPTrans nos próximos dias."
Zarattini disse que seu pedido
de demissão foi feito na última
quarta, depois de ele ter ido à Câmara prestar esclarecimentos. Em
sessão tumultuada pelos próprios
parlamentares, ele só respondeu a
duas perguntas e foi embora.
"Chega um ponto em que a gente tem dificuldades de conversar",
declarou, lembrando que Marta
precisará de apoio dos vereadores
para aprovar projetos do setor.
Zarattini evitou citar os nomes
dos parlamentares que teriam
pressionado por sua saída, mas
afirmou que eles integram a base
aliada de Marta. Em um momento, citou Antonio Carlos Rodrigues (PL) e Celso Jatene (PTB),
por terem articulado um substitutivo ao projeto de mudanças enviado por Marta à Câmara.
"Existem vereadores que trabalham para que nada mude. Em
outros momentos, pediram a
nossa demissão, para tumultuar."
A primeira denúncia feita por
Chaim foi a de que ele próprio tinha sido indicado ao grupo Niquini por Zarattini -que nega.
Os dois entraram em conflito no
final de julho, quando os empresários de ônibus ameaçaram não
assinar os contratos emergenciais
por discordar da remuneração.
Chaim participou das articulações desse boicote do setor.
Com a saída, Zarattini, que é
economista, deve retornar à Assembléia para cumprir seu mandato de deputado estadual até
março de 2003. Ele deixou de se
candidatar a reeleição neste ano
para ficar na secretaria. Nos anos
80 e 90, trabalhou no Metrô e no
sindicato dos metroviários.
Colaborou a Redação
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