São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 2002

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ADMINISTRAÇÃO

Ao anunciar demissão da pasta dos Transportes, Carlos Zarattini reclamou de sindicalistas e de "maus empresários"

Secretário cai após denúncias de petista

ALENCAR IZIDORO
PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário dos Transportes do governo Marta Suplicy, Carlos Zarattini, 43, deixou o cargo, pressionado por denúncias de irregularidades em sua pasta feitas por William Ali Chaim, presidente do segundo maior grupo de ônibus da cidade e militante do PT.
A prefeita de São Paulo anunciou ter aceitado ontem a demissão pedida por Zarattini na semana passada. O engenheiro agrônomo Luiz Silveira Rangel, 43, chefe de gabinete do secretário, assumirá a função interinamente.
Zarattini é o quinto secretário a deixar o governo Marta em quase dois anos. Além dele, apenas Walter Rasmussen saiu após denúncias, na Secretaria de Infra-Estrutura Urbana, em julho de 2001.
O desgaste de Zarattini começou há um mês, após declarações de Chaim, 39, militante histórico do PT, ligado ao alto escalão do partido, e que assumiu a presidência do grupo de ônibus Romero Niquini em julho deste ano.
Na entrevista em que anunciou seu afastamento, Zarattini, acompanhado do pai, Ricardo Zarattini, e da mulher, Maria Aparecida Peres, também atribuiu a sua queda à pressão de vereadores da base aliada de Marta, que articulam uma CPI para investigar as denúncias no setor, e ao sindicato dos motoristas, que ele acusa de ter feito paralisações em conjunto com "os maus empresários".
"Fico triste com a demissão, é um dos secretários que mais prezo, vem fazendo um trabalho extraordinário", afirmou Marta.
Na avaliação de Zarattini, as resistências à sua atuação se devem às mudanças que ele pretendia implantar -principalmente com a licitação que vai selecionar novos operadores de ônibus e lotações a partir de julho de 2003.
"As denúncias fazem parte de um processo de desgaste comandado pelo grupo Niquini, cujas empresas são as piores da cidade", afirmou Zarattini sobre as viações comandadas por Chaim, que ficaram conhecidas por atrasar os pagamentos de salários e manter uma frota velha.
Chaim passou a acusar Zarattini depois que as viações que ele administra tiveram os contratos rompidos, em setembro passado, por irregularidades na prestação de contas da arrecadação.
A pressão pela saída do secretário ganhou força na semana passada, quando Chaim disse, na Câmara, que houve transferências irregulares da SPTrans (São Paulo Transporte) às empresas de ônibus -quatro viações receberam em agosto R$ 1,044 milhão para pagar os salários dos trabalhadores. Zarattini deu uma justificativa na segunda-feira passada, desmentida por ele mesmo dois dias depois. O erro na primeira versão desagradou a prefeita, que, há cinco dias, articulava uma solução para rebater as denúncias.
O secretário chegou a dizer que a quantia já havia sido devolvida à prefeitura. Depois, afirmou que só uma parte havia voltado. Até ontem, não sabia os valores. "Os números serão esclarecidos pela SPTrans nos próximos dias."
Zarattini disse que seu pedido de demissão foi feito na última quarta, depois de ele ter ido à Câmara prestar esclarecimentos. Em sessão tumultuada pelos próprios parlamentares, ele só respondeu a duas perguntas e foi embora.
"Chega um ponto em que a gente tem dificuldades de conversar", declarou, lembrando que Marta precisará de apoio dos vereadores para aprovar projetos do setor.
Zarattini evitou citar os nomes dos parlamentares que teriam pressionado por sua saída, mas afirmou que eles integram a base aliada de Marta. Em um momento, citou Antonio Carlos Rodrigues (PL) e Celso Jatene (PTB), por terem articulado um substitutivo ao projeto de mudanças enviado por Marta à Câmara.
"Existem vereadores que trabalham para que nada mude. Em outros momentos, pediram a nossa demissão, para tumultuar."
A primeira denúncia feita por Chaim foi a de que ele próprio tinha sido indicado ao grupo Niquini por Zarattini -que nega. Os dois entraram em conflito no final de julho, quando os empresários de ônibus ameaçaram não assinar os contratos emergenciais por discordar da remuneração. Chaim participou das articulações desse boicote do setor.
Com a saída, Zarattini, que é economista, deve retornar à Assembléia para cumprir seu mandato de deputado estadual até março de 2003. Ele deixou de se candidatar a reeleição neste ano para ficar na secretaria. Nos anos 80 e 90, trabalhou no Metrô e no sindicato dos metroviários.


Colaborou a Redação

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