São Paulo, sábado, 19 de novembro de 2005

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REFORMA CULTURAL

Prefeito transfere Museu da Cidade, que reunirá fotos e mapas sobre SP, do Parque Dom Pedro para perto do Pateo do Colégio

Serra leva museu para Solar da Marquesa

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

O Palácio das Indústrias, no centro de São Paulo, não será mais a sede do Museu da Cidade. Um decreto do prefeito José Serra (PSDB), publicado ontem no "Diário Oficial da Cidade", transferiu a sede do futuro museu para o conjunto formado pelo Solar da Marquesa da Santos, pelo Beco do Pinto e pela Casa Número Um, próximos ao Pateo do Colégio.
O Beco do Pinto conecta o Solar da Marquesa e a Casa Número Um, onde ficarão o acervo iconográfico (como fotos, mapas e gravuras) da prefeitura e o material coletado em 2004, em uma expedição de 30 pesquisadores de várias áreas, como arquitetura, antropologia, sociologia, história, medicina e música. Esse material deveria, inicialmente, inaugurar o setor de exposições temporárias no Palácio das Indústrias.
O solar é o último exemplo da arquitetura residencial urbana do século 18. A arquitetura da Casa Número Um se assemelha à de um chalé suíço. Já o beco que os une era uma área de passagem nos tempos de colônia.
Ainda segundo o decreto, o Palácio das Indústrias, no Parque Dom Pedro (e que, até 2004, sediou a prefeitura), abrigará a fundação municipal Catavento -projeto inspirado na instituição mexicana Museo de los Niños, que oferece atrações tecnológicas e científicas para crianças.
Segundo o presidente da São Paulo Turismo, Caio Luiz de Carvalho, a fundação ficará no local até ser transferida para o prédio onde atualmente é a Subprefeitura da Sé, na avenida do Estado.

Críticas
A mudança feita por Serra foi classificada de "lamentável" por Celso Frateschi, secretário de Cultura da gestão Marta Suplicy (PT). Para ele, a mudança inviabiliza grande parte das atrações que o Museu da Cidade deveria ter. "O prédio estava ligado a um projeto. O solar é muito singelo para o que o programa propunha."
O projeto de Marta previa, entre outras coisas, um átrio com uma maquete eletrônica da cidade, uma exposição permanente sobre a evolução do espaço físico de São Paulo, dois auditórios, um projeto pedagógico no galpão do palácio, onde alunos poderiam ver como a cidade funciona, e um espaço para exposições temporárias.
A implementação do museu no Palácio das Indústrias era uma das principais bandeiras de Marta na recuperação do centro.
Segundo Frateschi, essa proposta já tinha verba da Petrobras e do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). O ex-secretário afirma que a estatal já havia concordado em investir cerca de R$ 7 milhões na implementação do museu. Do banco, eram previstos cerca de R$ 15 milhões para a reforma do prédio. "A licitação já havia sido aprovada pelo BID."
Para ele, a mudança no projeto resulta da vontade de destruir as propostas do governo anterior. "É revoltante jogar tanto dinheiro público fora por questões mesquinhas", afirmou.
O atual secretário da Cultura, Carlos Augusto Calil, diz que o patrocínio não cobria a manutenção do prédio. "Para criar um museu, não basta ter patrocínio. O Museu da Cidade no Palácio das Indústrias precisaria ter sido criado por um projeto de lei, enviado à Câmara, dizendo quantos funcionários teria de contratar, quanto teria de verba anual. Um órgão não pode ser criado por decreto."
Com a mudança, pode ter um outro destino o patrocínio da Petrobras -que, segundo a assessoria da estatal, é de cerca de R$ 2 milhões, ou um pouco mais do que isso, de acordo com Calil.
Segundo o secretário de Serra, a prefeitura está negociando com a empresa a utilização dessa verba em reservas técnicas artísticas da prefeitura e em outras casas históricas, além do Solar da Marquesa e da Casa Número Um.
Em relação à verba do BID, o presidente da SP Turismo afirma que a licitação feita para a reforma previa um gasto de R$ 12 milhões, mas os projetos apresentados custavam, no mínimo, R$ 18 milhões. "A comissão do próprio BID vetou o projeto", afirma Caio Luiz Carvalho.
Para abrigar a fundação Catavento, o Palácio das Indústrias deve passar por uma reforma "básica", afirma ele. O trabalho inclui pintura, encanamento e controle do mato que hoje toma o local, que está abandonado. A reforma deve durar entre quatro e cinco meses, após a licitação da obra, e custar de R$ 1,5 milhão a R$ 1,8 milhão. A verba para isso, diz, pode vir do orçamento ou do BID.


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