São Paulo, segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

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EXTREMOS DA INSEGURANÇA

Contrariando tendência de queda, homicídios e roubos crescem em praias de SP em 2005

Litoral norte lidera ranking da violência

Lalo de Almeida/ Folha Imagem
Criança brinca de se esconder no bairro de Topolândia, um dos mais violentos de São Sebastião


GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Cleiton Alan Pinheiro Franco, 16, queria justiça pela morte da mãe, assassinada por traficantes. Pedro (nome fictício), 29, se arriscava para acabar com o envolvimento de uma irmã com o chefe do tráfico. Eduardo (também nome fictício), 63, liderava mobilização contra ladrões que infernizavam sua cidade.
Moradores do litoral norte de São Paulo, região que apresenta crescimento surpreendente da criminalidade em 2005, contrariando tendência de queda de outras áreas do Estado, eles acabaram vítimas da violência que tanto conheciam e combatiam.
Assassinados, Franco e Pedro tiveram seus corpos encontrados na rua, perfurados por vários tiros. Eduardo vive o drama de ter um parente ameaçado de morte.
De alguma forma, eles representaram uma ameaça para criminosos de uma região onde a violência mais cresceu em 2005, em relação a 2004. De janeiro a setembro deste ano, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública, o litoral norte registrou aumentos de homicídios dolosos (40,4%), de roubos (17,4%) e de roubo de veículos (57,1%).
Não há dados específicos sobre invasões de casas de veraneio por homens armados. A polícia nega o aumento desse tipo de roubo -com ameaça ou violência. Segundo a imprensa local, ocorreram 67 casos em 2005 -foram registrados 62 em 2004.
A polícia reconhece o crescimento da criminalidade e se prepara para, nos próximos dias, duplicar o número de homens no litoral, na Operação Verão. Lideranças locais afirmam, porém, que o problema começa quando a alta temporada termina e o reforço policial vai embora.
Além do aumento da violência no litoral norte, o ranking de crimes (por 100 mil habitantes) revela outros líderes da insegurança no Estado, como as cidades de Embu-Guaçu (homicídios), São Caetano do Sul (roubo de veículo) e Praia Grande (roubo).

Tráfico
Para a polícia, a maioria das mortes no litoral norte tem relação com o tráfico. As vítimas seriam devedores ou traficantes em disputa. Levantamento feito pela Folha confirmou que crimes passionais e de motivações fúteis são raros. Mas identificou vítimas que não apresentavam indício de envolvimento com o tráfico e teriam sido assassinadas porque quebraram a chamada Lei do Silêncio.
Em São Sebastião, Franco foi uma das 28 pessoas assassinadas de janeiro a setembro deste ano -foram 23 no mesmo período de 2004. Sua mãe e seu padrasto entraram nas estatísticas de homicídios do ano passado.
A tragédia da família começou quando seu padrasto foi morto a tiros, no bairro da Topolândia. Segundo uma testemunha, ele voltava da escola à noite quando foi cercado por seis homens, que descarregaram as armas. Teria sido assassinado por repassar informações sigilosas a traficantes de grupos rivais.
Ao lado do corpo, a mãe de Franco gritava que sabia quem eram os assassinos e iria denunciá-los, segundo a testemunha. Um mês depois, ela foi morta com vários tiros a cem metros dali.
Franco parecia conformado com a morte, mas deixou escapar, em uma conversa, que iria se vingar. Foi morto oito meses depois a 30 metros do mesmo local.
A polícia pediu a prisão de um traficante da região, mas ele está foragido. As testemunhas que o apontaram com o autor do disparo estão sendo ameaçadas.
Pedro queria livrar a irmã de um envolvimento com um traficante e passou dados à polícia sobre a atuação do grupo. Foi descoberto e morto com vários tiros.
Eduardo já acumula 30 boletins de ocorrência em que aparece como vítima. Quando morava na capital, teve sete carros roubados e furtados. Depois de se mudar para o interior paulista, sua empresa foi invadida por ladrões, que levaram os equipamentos mais caros. Mudou-se, então, para o litoral, onde seus estabelecimentos comerciais já foram invadidos oito vezes por ladrões.
Ele acredita ter se tornado visado pelos criminosos porque ajuda a polícia no combate à criminalidade. Um integrante de sua família passou a ser ameaçado. "Quando conheci o litoral, era um paraíso. Mas as cidades cresceram desordenadamente e virou isso."

Colaboraram THARSILA PRATES E LUCAS NEVES

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