São Paulo, terça-feira, 19 de dezembro de 2006

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Bicheiro é acusado de suborno em prisão

Fernando Iggnácio paga R$ 6.000 por quinzena e continua a gerenciar máfia dos caça-níqueis do Rio da cela, diz Ministério Público

Ele está preso desde outubro na Polinter, em Niterói, e teve diálogos flagrados em escuta telefônica da Polícia Federal

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

O bicheiro Fernando Iggnácio paga R$ 6.000 por quinzena para obter regalias na prisão, diz uma denúncia do Ministério Público Federal à Justiça. Preso desde outubro, segundo a denúncia, ele continua a gerenciar seus negócios na máfia dos caça-níqueis da cela da Polinter em Neves (Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro).
Um dos trechos de diálogos gravados pela Polícia Federal com autorização judicial em 24 de outubro, 12 dias após a prisão, mostra Iggnácio em conversa com Ulisses Rezende, considerado o segundo homem da quadrilha, pedindo que lance na contabilidade "R$ 6.000, de compulsório extra estadual, referente estadia Falcão [o próprio Iggnácio]". Ele completa: "E daí coloca entre parênteses "topo", daí eu já sei que é para a cúpula deles [da polícia]".
Iggnácio paga ainda propina a policiais militares e civis que pertencem a seu grupo, fazendo a segurança pessoal de membros da quadrilha e também das máquinas de jogo.
Outro trecho mostra Carlos Eduardo Pereira Montada, o Cadu, em conversa com outro integrante do grupo, dizendo para pagar "R$ 5.000 para homicídio [alguém da Delegacia de Homicídios], R$ 5.000 para o Helinho [o policial civil Helio Machado da Conceição, ligado ao ex-chefe de polícia do Rio, deputado eleito Álvaro Lins] e R$ 5.000 para o 14 [comandante do 14º BPM, coronel Celso Nogueira, preso sexta-feira]".
A denúncia foi fruto de investigação que mapeou o trabalho ainda das quadrilhas rivais a Iggnácio, de Rogério de Andrade e Paulo Padilha (dissidente do grupo de Andrade).
A Justiça concedeu a prisão de 19 das 43 pessoas denunciadas e determinou 86 mandados de busca e apreensão.
Segundo o texto, os investigados mantêm "relações de confiança e repasse de informações com policiais", tanto militares, civis ou federais, integrando-os "nos quadros da estrutura empresarial criminosa e não raras vezes ocupando posição de destaque".
De acordo com o Ministério Público Federal, todas as máquinas de jogos encontradas em milhares de bares e botecos do Rio são ilegais em razão dos componentes, sobretudo os chamados "noteiros", que são importados ilegalmente, já que os jogos de azar são proibidos no país. A denúncia mapeou os responsáveis pela compra.
Nas gravações de conversas interceptadas pela PF, há também informações sobre a forma que a quadrilha usava para burlar o Fisco.
Segundo os procuradores responsáveis pela denúncia, a dificuldade de repressão ocorre em razão da participação de PMs e policiais civis nas quadrilhas. "Quem deveria apreender, protege. Com a descoberta da quadrilha, esperamos que as polícias façam seu papel de repreender o jogo ilegal", disse o procurador Carlos Aguiar.

Álvaro Lins
O deputado estadual eleito Álvaro Lins é um dos investigados. Ele foi apontado pelo delegado Alessandro Moretti, da PF, como o líder do grupo de policiais que vendia proteção à quadrilha de Fernando Iggnácio na guerra pelo controle dos caça-níqueis no Estado. "Não havia indícios suficientes para pedir sua prisão, embora as circunstâncias da investigação levem a crer que pessoas ligadas a ele participavam dessa organização", disse o procurador Aguiar.
O pedido de busca e apreensão na casa de Lins foi concedido pela Justiça, mas não foi cumprido porque ele acabara de ser diplomado deputado. O Ministério Público Eleitoral pedirá hoje à Justiça a impugnação da diplomação.
A Folha não conseguiu localizar ontem os acusados de envolvimento com Iggnácio.


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