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Bicheiro é acusado de suborno em prisão
Fernando Iggnácio paga R$ 6.000 por quinzena e continua a gerenciar máfia dos caça-níqueis do Rio da cela, diz Ministério Público
Ele está preso desde
outubro na Polinter, em
Niterói, e teve diálogos
flagrados em escuta
telefônica da Polícia Federal
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
O bicheiro Fernando Iggnácio paga R$ 6.000 por quinzena
para obter regalias na prisão,
diz uma denúncia do Ministério Público Federal à Justiça.
Preso desde outubro, segundo a
denúncia, ele continua a gerenciar seus negócios na máfia dos
caça-níqueis da cela da Polinter
em Neves (Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro).
Um dos trechos de diálogos
gravados pela Polícia Federal
com autorização judicial em 24
de outubro, 12 dias após a prisão, mostra Iggnácio em conversa com Ulisses Rezende,
considerado o segundo homem
da quadrilha, pedindo que lance na contabilidade "R$ 6.000,
de compulsório extra estadual,
referente estadia Falcão [o próprio Iggnácio]". Ele completa:
"E daí coloca entre parênteses
"topo", daí eu já sei que é para a
cúpula deles [da polícia]".
Iggnácio paga ainda propina
a policiais militares e civis que
pertencem a seu grupo, fazendo a segurança pessoal de
membros da quadrilha e também das máquinas de jogo.
Outro trecho mostra Carlos
Eduardo Pereira Montada, o
Cadu, em conversa com outro
integrante do grupo, dizendo
para pagar "R$ 5.000 para homicídio [alguém da Delegacia
de Homicídios], R$ 5.000 para
o Helinho [o policial civil Helio
Machado da Conceição, ligado
ao ex-chefe de polícia do Rio,
deputado eleito Álvaro Lins] e
R$ 5.000 para o 14 [comandante do 14º BPM, coronel Celso
Nogueira, preso sexta-feira]".
A denúncia foi fruto de investigação que mapeou o trabalho
ainda das quadrilhas rivais a
Iggnácio, de Rogério de Andrade e Paulo Padilha (dissidente
do grupo de Andrade).
A Justiça concedeu a prisão
de 19 das 43 pessoas denunciadas e determinou 86 mandados
de busca e apreensão.
Segundo o texto, os investigados mantêm "relações de
confiança e repasse de informações com policiais", tanto
militares, civis ou federais, integrando-os "nos quadros da
estrutura empresarial criminosa e não raras vezes ocupando
posição de destaque".
De acordo com o Ministério
Público Federal, todas as máquinas de jogos encontradas
em milhares de bares e botecos
do Rio são ilegais em razão dos
componentes, sobretudo os
chamados "noteiros", que são
importados ilegalmente, já que
os jogos de azar são proibidos
no país. A denúncia mapeou os
responsáveis pela compra.
Nas gravações de conversas
interceptadas pela PF, há também informações sobre a forma
que a quadrilha usava para burlar o Fisco.
Segundo os procuradores
responsáveis pela denúncia, a
dificuldade de repressão ocorre
em razão da participação de
PMs e policiais civis nas quadrilhas. "Quem deveria apreender, protege. Com a descoberta
da quadrilha, esperamos que as
polícias façam seu papel de repreender o jogo ilegal", disse o
procurador Carlos Aguiar.
Álvaro Lins
O deputado estadual eleito
Álvaro Lins é um dos investigados. Ele foi apontado pelo delegado Alessandro Moretti, da
PF, como o líder do grupo de
policiais que vendia proteção à
quadrilha de Fernando Iggnácio na guerra pelo controle dos
caça-níqueis no Estado. "Não
havia indícios suficientes para
pedir sua prisão, embora as circunstâncias da investigação levem a crer que pessoas ligadas a
ele participavam dessa organização", disse o procurador
Aguiar.
O pedido de busca e apreensão na casa de Lins foi concedido pela Justiça, mas não foi
cumprido porque ele acabara
de ser diplomado deputado. O
Ministério Público Eleitoral
pedirá hoje à Justiça a impugnação da diplomação.
A Folha não conseguiu localizar ontem os acusados de envolvimento com Iggnácio.
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