São Paulo, terça, 20 de janeiro de 1998.



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AIDS
Essa é a porcentagem de casos que acabam sem diagnóstico determinado mesmo depois da realização de 4 testes
Indefinição de testes de HIV chega a 10%

LUCIA MARTINS
da Reportagem Local

Mesmo quando aplicadas todas as técnicas disponíveis hoje, o índice de indeterminação dos testes de Aids pode chegar a 10%.
No Instituto Adolfo Lutz, considerado referência em testagem de HIV, esse índice varia de 1% a 10%. No Hospital Emílio Ribas, o maior realizador de testes da cidade de São Paulo (900/mês), entre 5% e 9% dos exames não são nem positivos nem negativos.
Esse índice é calculado depois do seguinte caminho: uma amostra de sangue é recolhida em algum centro de triagem. Dois exames Elisa (fabricados por laboratórios diferentes) são realizados.
Se um deles der positivo e o outro, negativo ou se os dois derem positivo (segundo decisão do Ministério da Saúde, divulgada na última quinta-feira), a amostra de sangue é submetida a outra classe de testes. É a etapa confirmatória.
O Western Blot e o exame de imunofluorescência não são mais sensíveis do que o Elisa. Eles são mais específicos. O Elisa identifica anticorpos dos retrovírus.
A confusão do teste decorre do fato de que podem existir outros retrovírus no sangue, além do HIV. Já os outros dois exames são capazes de encontrar exatamente o vírus que causa a Aids.
"Mas todos eles não são testes 100% expressivos", afirma Flávia Rossi, diretora do Serviço do Laboratório Clínico do Hospital Emílio Ribas (região central).

Aspectos clínicos
Nos casos em que há indeterminação, o hospital costuma acompanhar os pacientes para observar também os aspectos clínicos (se ele está doente, se perdeu peso, se tem algum sintoma da Aids etc.).
"É por isso que o exame não pode ser tudo. Ninguém deve fazer um teste sem recomendação médica. Um médico é mais capaz de desconfiar de um resultado errado e pedir a confirmação. E, mesmo se a confirmação continuar sem diagnóstico, o caminho é continuar analisando."
Outra explicação possível para a não-confirmação de um diagnóstico pode ser a chamada "janela imunológica". Depois de contrair o vírus, o organismo demora 30 dias para produzir anticorpos.
Como o teste identifica o vírus pelo anticorpo que a pessoa produz (para lutar contra a partícula estranha), se não houver anticorpo (ou apenas uma pequena quantidade), um exame pode fazer a leitura negativa e o outro exame fazer uma leitura positiva.
Já para o infectologista Ricardo Dias, especialista em HIV da Escola Paulista de Medicina, a indeterminação dos testes pode ser explicada pelo modo como os testes são produzidos.
Fabricados por grandes laboratórios europeus e americanos, os testes têm como base principal o HIV "B", um subtipo do vírus que infectou a grande maioria dos soropositivos na Europa e nos EUA. O problema, segundo Dias, é que, no Brasil, ainda existem os tipos "C", "D" e "F". Assim, os exames estariam se "confundindo".
As instruções do kit de teste afirmam que também o exame consegue achar todos os subtipos.
Mas Carmem de Freitas Oliveira, responsável pela área de HIV no Instituto Adolfo Lutz, afirma que os kits nunca foram testados para saber se realmente eles são capazes de identificar todas as variantes do vírus HIV.



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