São Paulo, Quinta-feira, 20 de Janeiro de 2000


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INCULTA & BELA

"Rito sumaríssimo"

PASQUALE CIPRO NETO
Colunista da Folha

Vida de professor de português não é fácil, e isso não é novidade. O que vale no bendito vestibular? O que ensinar sobre certas minudências da língua? O superlativo absoluto sintético de "sério", por exemplo, é "seriíssimo" ou "seríssimo"?
Felizmente, instituições de ponta -Fuvest, Unicamp, Unesp, PUC e várias das universidades federais- há um bom tempo abandonaram as perguntinhas de rodapé. Outras, no entanto...
Recentemente o presidente da República assinou lei que cria o "rito sumaríssimo" na Justiça do Trabalho. Incontinenti, muitos leitores perguntaram se o rito não deveria ser "sumariíssimo", com "ií".
Vamos aos fatos. Muitas gramáticas e dicionários dizem que, quando o adjetivo termina em "io", desde que não haja "e" antes (como em "cheio", cujo superlativo é "cheíssimo"), o superlativo é feito com "iíssimo". Um exemplo superdigerível é "frio". A forma "friíssimo" não causa nenhum mal-estar.
A coisa se complica quando se pensa no superlativo de "sério". O dicionário "Aurélio" (na edição anterior e na novíssima) registra "seriíssimo". Na anterior, não há exemplo do emprego dessa forma. Na atual, o exemplo é de Josué Montello: "Quer dizer que o caso é sério.
Seriíssimo -confirmei".
Em seu "Dicionário de Questões Vernáculas", Napoleão M. de Almeida diz que o superlativo é "seriíssimo" e fim de papo.
Já Domingos P. Cegalla, em seu "Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa", registra "seriíssimo", mas dá a forma variante "seríssimo" e pede que se veja o verbete "sumaríssimo", em que se lê um exemplo de Drummond, de "Os Dias Lindos": "...enquanto era expulsa a Canalha das Ruas, que se apresentara em trajes sumaríssimos, atentando contra o decoro". Cegalla diz que também se registra a forma "sumariíssimo", mas que a outra é mais eufônica.
Na "Gramática do Português Contemporâneo", Celso Cunha e Lindley Cintra fazem a seguinte observação: "Em lugar das formas superlativas seriíssimo, necessariíssimo e outras semelhantes, a língua atual prefere seríssimo, necessaríssimo, com um só i".
Moral da história, caro leitor: "sumariíssimo" e "seriíssimo" são formas consagradas pela tradição da língua. Já "seríssimo" e "sumaríssimo" parecem mais do que abonadas por autores de prestígio indiscutível e pelo uso vivo na língua. É isso.


Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail: inculta@uol.com.br


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