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INCULTA & BELA
"Rito sumaríssimo"
PASQUALE CIPRO NETO
Colunista da Folha
Vida de professor de português não é fácil, e isso não é novidade. O que vale no bendito
vestibular? O que ensinar sobre
certas minudências da língua?
O superlativo absoluto sintético de "sério", por exemplo, é
"seriíssimo" ou "seríssimo"?
Felizmente, instituições de
ponta -Fuvest, Unicamp,
Unesp, PUC e várias das universidades federais- há um
bom tempo abandonaram as
perguntinhas de rodapé. Outras, no entanto...
Recentemente o presidente
da República assinou lei que
cria o "rito sumaríssimo" na
Justiça do Trabalho. Incontinenti, muitos leitores perguntaram se o rito não deveria ser
"sumariíssimo", com "ií".
Vamos aos fatos. Muitas gramáticas e dicionários dizem
que, quando o adjetivo termina em "io", desde que não haja
"e" antes (como em "cheio",
cujo superlativo é "cheíssimo"),
o superlativo é feito com "iíssimo". Um exemplo superdigerível é "frio". A forma "friíssimo"
não causa nenhum mal-estar.
A coisa se complica quando
se pensa no superlativo de "sério". O dicionário "Aurélio"
(na edição anterior e na novíssima) registra "seriíssimo". Na
anterior, não há exemplo do
emprego dessa forma. Na
atual, o exemplo é de Josué
Montello: "Quer dizer que o caso é sério.
Seriíssimo -confirmei".
Em seu "Dicionário de Questões Vernáculas", Napoleão M.
de Almeida diz que o superlativo é "seriíssimo" e fim de papo.
Já Domingos P. Cegalla, em
seu "Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa", registra "seriíssimo", mas dá a
forma variante "seríssimo" e
pede que se veja o verbete "sumaríssimo", em que se lê um
exemplo de Drummond, de
"Os Dias Lindos": "...enquanto
era expulsa a Canalha das
Ruas, que se apresentara em
trajes sumaríssimos, atentando contra o decoro". Cegalla
diz que também se registra a
forma "sumariíssimo", mas
que a outra é mais eufônica.
Na "Gramática do Português
Contemporâneo", Celso Cunha e Lindley Cintra fazem a
seguinte observação: "Em lugar das formas superlativas seriíssimo, necessariíssimo e outras semelhantes, a língua
atual prefere seríssimo, necessaríssimo, com um só i".
Moral da história, caro leitor:
"sumariíssimo" e "seriíssimo"
são formas consagradas pela
tradição da língua. Já "seríssimo" e "sumaríssimo" parecem
mais do que abonadas por autores de prestígio indiscutível e
pelo uso vivo na língua. É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail: inculta@uol.com.br
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