São Paulo, Quinta-feira, 20 de Janeiro de 2000


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SAÚDE
Paciente com liminar morre antes de ser transplantado
Fila de transplante ignora caso crítico

ALESSANDRO SILVA
da Reportagem Local

A lista única de transplante de órgãos em São Paulo ignora a saúde dos pacientes ao longo do tempo de espera para definir quais devem ser operados primeiro.
O resultado disso é que, mesmo recorrendo à Justiça, muitos não sobrevivem para ver a liminar cumprida, ou seja, o transplante feito na frente das outras pessoas.
Foi o que aconteceu com o engenheiro Arquituro Coelho de Lacerda, 40, paciente do Hospital Osvaldo Cruz de São Paulo e que precisava de um fígado.
Operado em 95, Lacerda perdeu o órgão transplantado por causa de complicações e retornou à fila em setembro do ano passado, considerado caso crônico pelo seu médico, Hoel Sette Júnior.
Em dezembro, quando estava na 226ª posição na fila, ele teve hemorragias e acabou internado.
A família dele decidiu então recorrer à Justiça. No dia 21 de dezembro, a juíza Silvia Maria Meirelles Novaes de Andrade, da 7ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, deu liminar ordenando que Lacerda tivesse prioridade na lista estadual de órgãos.
O engenheiro morreu três dias depois, sem saber se havia um fígado compatível para ele. ""Hoje, do jeito que a lista funciona, estão transplantando quem não precisa com urgência", disse Sette Júnior, presidente da Associação Paulista para o Estudo do Fígado.
Segundo as regras de transplante de fígado, estabelecidas pelo governo federal e regulamentadas pelo Estado, só é possível ""furar a fila" em duas situações: caso o paciente tenha hepatite fulminante ou faça retransplante, passados 30 dias da operação. ""Esse tipo de hepatite é rara, atinge 1% dos pacientes, disse o médico.
O engenheiro morreu na 226ª posição da lista única de transplante de fígado.
Sette Júnior disse ter mais dois pacientes internados em estado grave no Hospital Albert Einsten na mesma situação de Lacerda.
Os pacientes da fila única precisam aguardar um órgão compatível com o mesmo tipo de sangue, que apareça na região onde foram cadastrados e ainda que exista leito disponível, no caso da rede pública. Por fim, passam pelo exame de rejeição ao órgão e, em caso negativo, são operados.
""A lista única tira a liberdade do médico de poder indicar pacientes em estado mais grave", disse o médico Pedro Renato Chocain, do Hospital das Clínicas, o segundo maior do Estado em número de transplantes.
A Folha tentou falar sobre o assunto ontem com o secretário da Saúde de São Paulo, José da Silva Guedes, mas não houve retorno do secretário o dia todo.


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