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SAÚDE
Paciente com liminar morre antes de ser transplantado
Fila de transplante ignora caso crítico
ALESSANDRO SILVA
da Reportagem Local
A lista única de transplante de
órgãos em São Paulo ignora a saúde dos pacientes ao longo do tempo de espera para definir quais
devem ser operados primeiro.
O resultado disso é que, mesmo
recorrendo à Justiça, muitos não
sobrevivem para ver a liminar
cumprida, ou seja, o transplante
feito na frente das outras pessoas.
Foi o que aconteceu com o engenheiro Arquituro Coelho de Lacerda, 40, paciente do Hospital
Osvaldo Cruz de São Paulo e que
precisava de um fígado.
Operado em 95, Lacerda perdeu
o órgão transplantado por causa
de complicações e retornou à fila
em setembro do ano passado,
considerado caso crônico pelo
seu médico, Hoel Sette Júnior.
Em dezembro, quando estava
na 226ª posição na fila, ele teve hemorragias e acabou internado.
A família dele decidiu então recorrer à Justiça. No dia 21 de dezembro, a juíza Silvia Maria Meirelles Novaes de Andrade, da 7ª
Vara da Fazenda Pública de São
Paulo, deu liminar ordenando
que Lacerda tivesse prioridade na
lista estadual de órgãos.
O engenheiro morreu três dias
depois, sem saber se havia um fígado compatível para ele. ""Hoje,
do jeito que a lista funciona, estão
transplantando quem não precisa
com urgência", disse Sette Júnior,
presidente da Associação Paulista
para o Estudo do Fígado.
Segundo as regras de transplante de fígado, estabelecidas pelo
governo federal e regulamentadas
pelo Estado, só é possível ""furar a
fila" em duas situações: caso o paciente tenha hepatite fulminante
ou faça retransplante, passados 30
dias da operação. ""Esse tipo de
hepatite é rara, atinge 1% dos pacientes, disse o médico.
O engenheiro morreu na 226ª
posição da lista única de transplante de fígado.
Sette Júnior disse ter mais dois
pacientes internados em estado
grave no Hospital Albert Einsten
na mesma situação de Lacerda.
Os pacientes da fila única precisam aguardar um órgão compatível com o mesmo tipo de sangue,
que apareça na região onde foram
cadastrados e ainda que exista leito disponível, no caso da rede pública. Por fim, passam pelo exame
de rejeição ao órgão e, em caso negativo, são operados.
""A lista única tira a liberdade do
médico de poder indicar pacientes em estado mais grave", disse o
médico Pedro Renato Chocain,
do Hospital das Clínicas, o segundo maior do Estado em número
de transplantes.
A Folha tentou falar sobre o assunto ontem com o secretário da
Saúde de São Paulo, José da Silva
Guedes, mas não houve retorno
do secretário o dia todo.
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