São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

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TRÁFICO

Apreensões feitas pela Polícia Federal desde 2002 mostram que a droga, inicialmente restrita a São Paulo, ultrapassou divisas

Crack se expande e já atinge 19 Estados

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

O crack ultrapassou as divisas do Estado de São Paulo e já é vendido e consumido em todo o Brasil há pelo menos três anos. A constatação é da Polícia Federal que, desde 2002, fez apreensões da droga em 19 Estados.
O crack é produzido a partir da mistura de cocaína em pasta com bicarbonato de sódio. É vendido em pedra. A palavra crack, que em inglês quer dizer estalo, surge do barulho da pedra em incandescência para ser consumida. Criado na década de 80 nos Estados Unidos, disseminou-se em São Paulo no início dos anos 90.
Segundo a Coordenadoria Geral de Repressão a Entorpecentes da PF, a partir de 2002 foram apreendidos 433 kg de crack no país, a maior parte no Nordeste (39% do total), principalmente nos Estados da Bahia, do Rio Grande do Norte e do Maranhão.
A região se tornou um dos principais pólos de distribuição no país, ao lado de São Paulo, que introduziu a droga no Brasil.
Os dados da PF comprovam uma tendência que já havia sido constatada pela Secretaria Nacional Anti-Drogas (Senad).
Ao realizar, em 2001, um levantamento domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas nas 107 maiores cidades do Brasil _acima de 200 mil habitantes e cuja população chega a 27,7% do total do país_, a Senad verificou que 0,4% da população experimentou pelo menos uma vez o crack.
A pesquisa revelou que o consumo não se restringiu ao Sudeste (0,4% dos entrevistados), mas também atingiu também o Nordeste (0,4%), o Norte (0,2%), o Sul (0,5%) e o Centro-Oeste (0,4%). A maioria dos usuários de crack, segundo a Senad, é do sexo masculino e faixa etária de 25 a 34 anos.
No ano passado, a Senad apresentou um outro estudo que indicou a expansão da droga no país. Em cada cidade pesquisada, foram entrevistadas 2.100 crianças e adolescentes que vivem nas ruas. No Rio de Janeiro, 45,1% disseram ter usado crack, 23,9% em Brasília e 20,3% em Recife.

Mercado
Na avaliação do coordenador de Repressão a Entorpecentes da PF, delegado Ronaldo Urbano, o fenômeno da expansão do crack no Brasil começou em 2002 e se deve a questões de mercado. "Antes de 2002, 70% das apreensões ocorriam em São Paulo", declarou.
Segundo ele, os traficantes passaram a se interessar pelo crack porque é uma droga mais barata do que a cocaína e a maconha e vicia o usuário com mais facilidade e rapidez. Uma pedra de crack custa, em média, R$ 5, três vezes menos do que um grama de cocaína, que sai a R$ 15.
"O crack tem um efeito mais rápido e devastador, mas que passa mais rápido também. Isso faz com que o usuário queira comprar a droga de novo", disse.
Urbano afirmou que os consumidores de crack estão, em sua maioria, na população de baixa renda. De acordo com ele, a venda ainda é feita por pequenos traficantes, que não pertencem a nenhuma organização estruturada.
O secretário-adjunto da Senad, José Augusto de Barros, afirmou que é preciso fazer um cruzamento dos dados de apreensões com os de consumo para ter uma explicação mais precisa.
Para Barros, é "arriscado" dizer que o crack só atrai a população de baixa renda. "O criminoso pode levar o crack para qualquer classe. No início, ele baixa o preço. Depois que conquista o mercado, aumenta o preço."
O diretor do Conselho Estadual Anti-Drogas do Rio, Murilo Ásfora, disse que a expansão do crack se deve ao empobrecimento da população de baixa renda nos últimos anos. "O crack é droga típica da população pobre. A classe média e os ricos usam cocaína, LSD, ecstasy", disse.

Apreensões
No ano passado, o Paraná liderou as apreensões de crack pela PF com cerca de 27 kg. A maior delas ocorreu na cidade de Medianeira, em dezembro, quando foram apreendidos 5 kg de crack em um ônibus que fazia o percurso Foz do Iguaçu-Londrina.
O Rio Grande do Norte, no entanto, registrou a maior quantidade de apreensões anuais desde 2002 _foram 62 kg em 2002.
Os traficantes potiguares se tornaram os principais fornecedores no Nordeste. Um dos esquemas foi descoberto em novembro. No dia 17 daquele mês, foi preso José Reginaldo da Silva, 57, que comprava crack no RN e revendia na cidade de Bayeux (PB).
Em Recife, a polícia identificou que a favela da Rata é o principal ponto-de-venda. A droga comercializada na comunidade é fornecida por traficantes de Natal.
Outra localidade onde tem sido expressivo o número de usuários de crack é Criciúma (SC). Em 2003, o Conselho Municipal Anti-Drogas constatou que, de dez dependentes químicos atendidos, sete faziam uso do crack.


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