São Paulo, domingo, 20 de janeiro de 2008

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Falta de infra-estrutura preocupa cidades

No final do ano, alguns bairros de São Sebastião ficaram sem água e, na costa sul, a rede de esgoto ainda é precária

Outro problema é a migração desordenada de pessoas que vão trabalhar em grandes obras e acabam ficando em áreas de favelas

DA REPORTAGEM LOCAL
DA ENVIADA ESPECIAL AO LITORAL NORTE

O crescimento imobiliário no litoral, embora traga empregos e mais arrecadação de impostos, preocupa prefeituras. Além da crônica falta de água e de redes e tratamento de esgoto, há ainda os congestionamentos, comuns nos horários de chegada e saída das praias, e o aumento do lixo doméstico.
Um outro ingrediente nocivo ao ambiente do litoral norte: a migração desordenada de pessoas que vão trabalhar em grandes obras e acabam em áreas de favelas, como já ocorreu entre os anos 1970 e 1980.
O secretário de Obras de São Sebastião, Thales Carlini, diz que a cidade tem estrutura para absorver o crescimento imobiliário, com exceção dos sistemas de água e esgoto, de responsabilidade da Sabesp.
No final do ano, bairros de São Sebastião ficaram sem água e, na costa sul, a rede de esgoto é precária. Ainda há casos de vazamento de esgoto diretamente na areia da praia, como ocorre em Juqueí.
Segundo Carlini, a prefeitura investe 37% do Orçamento, de R$ 294,5 milhões neste ano, em infra-estrutura, incluindo escolas e postos de saúde.
"Essas melhorias atraem investidores. Outro atrativo é o "congelamento" das favelas, que pararam de crescer, mas a Sabesp precisa investir", diz.
A Sabesp, há duas semanas, anunciou investimentos de R$ 469 milhões em todo o litoral paulista em sistemas de água e saneamento básico.
Segundo a empresa, os sistemas de água em Caraguatatuba, Ubatuba e São Sebastião produziram no final do ano 20% a mais em comparação ao mesmo período de 2006. Em Ilhabela, o aumento foi de 50%.
Para o prefeito de Ilhabela, Manoel Marcos de Jesus Ferreira, o que mais preocupa é a superpopulação na cidade com os lançamentos de condomínios -o maior terá 139 casas. Segundo ele, a aprovação ocorreu antes da mudança no Plano Diretor, que restringiu as construções no município.
"É o momento de todo o litoral norte começar a pensar primeiro na infra-estrutura, colocar o pé no freio e verificar se está preparado", afirma.
Com a construção civil aquecida em todo o Estado, além das grandes obras de estrutura na região -a base de gás e o gasoduto entre Caraguatatuba e Taubaté, a ampliação do porto de São Sebastião e a duplicação da rodovia dos Tamoios-, já falta mão-de-obra. É o que diz o diretor regional do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil, Antônio Carlos da Silveira. "Com tantas obras, não há pessoal suficiente na região", afirma. Há hoje cerca de 7.000 trabalhadores no litoral norte. "Há mesmo um risco de haver muito mais migração."
Outra questão ambiental latente no litoral norte é a falta de áreas adequadas para depósitos de lixo, o que obrigou a Prefeitura de Ilhabela a encaminhar seus resíduos para um aterro sanitário no Vale do Paraíba.
Em São Sebastião, município que se estende por mais de 100 km de litoral, o lixão da praia da Baleia foi fechado em razão de graves problemas de poluição.
Como Ubatuba e Caraguatatuba sofrem o mesmo problema, a solução foi criar um consórcio intermunicipal para criar um aterro regional. O local escolhido foi Caraguatatuba, que, além de estar no centro do litoral norte, ainda conta com áreas livres para o aterro.
Um grupo de jovens que mora em Juqueí teme que a falta de água fique mais comum e que a natureza sofra impacto negativo com o grande empreendimento que a Cyrela lançou no local, de 125 casas. "É uma grande área verde que vão ocupar, onde há tucanos, lagartos, diversos pássaros", afirmou o balconista Levi Almeida Ribeiro, 19. A propaganda da obra diz que 92% de área verde será "intocavelmente" preservada.
Regina de Paiva Ramos, da Sociedade Amigos do Juqueí, diz que o empreendimento é "sério" e que vai respeitar a lei. "Eles vão construir sobre pilotis [conjunto de colunas] para evitar a impermeabilização e o desmatamento", diz. (JEC e AB)


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