|
Texto Anterior | Índice
Meneleu e a tipografia revolucionária
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Francisco Meneleu dos
Santos foi daqueles "revolucionários" lembrados por
um dia de sorte ou de glória
-ele, por nada saber e estar
na hora e lugar errados.
Nasceu em 1917, ano da
Revolução Russa, mas em
Areia Branca (RN). Aos 12 já
vendia jornais em Mossoró
(RN). Virar tipógrafo foi um
passo. De tanto observar a
gráfica, acabou entendido no
metiê e admitido aos 15 na tipografia. Uma "fama" que logo chegaria a Natal.
"Nunca foi comunista", diz
a viúva, que o conheceu pouco antes daquele 23 de novembro de 1935, auge da Intentona Comunista que chegou a instalar um governo
provisório no Rio Grande do
Norte. "Eu não era político,
eu não era comunista, era
apenas um operário que trabalhava para subsistência",
escreveu Meneleu.
Foi preso seis dias depois,
"pela confecção do jornal" e
suas "idéias comunistas".
Seis anos e seis meses ficou
na cadeia, saindo de lá casado
e com dois filhos. Experiência que narra no livro "Coisa
Julgada e Cartas de Amigos".
Foi para Fortaleza fazer
carimbos à mão, conseguindo "uma maquininha" para
agilizar o processo. Ganhou
clientes e montou uma fábrica, que hoje faz etiquetas, onde trabalham alguns dos 12
filhos, com espaço para os 31
netos e nove bisnetos.
Assim a vida passou longe
da glória. Claro, Meneleu recebeu homenagens, pois era
"o último remanescente norte-rio-grandense do levante". Tinha até pensão de anistiado do governo, e gostava
de folhear suas edições antigas de "A Liberdade".
Morreu na quarta em Fortaleza, aos 90, de isquemia.
Na pasta de entrevistas guardada pelos filhos, a frase de
Menelau: "Mas se houvesse
outro movimento daquele
hoje, eu faria outro jornal".
Texto Anterior: Mortes Índice
|